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Preço do leite: o que esperar para os próximos meses?

Débora Damasceno
Débora Damasceno
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#souagro| A gente tem acompanhado nos últimos meses a crise que atinge o setor leiteiro e tem feito o preço do leite subir de maneira significativa. Já explicamos que isso vem ocorrendo desde o fim do ano passado e é causado por uma série de fatores, o principal deles é a queda na produção já que muita gente que estava no setor abandonou a atividade e vendeu as vacas para abate.

O Cepea realizou uma ampla pesquisa demonstrando o cenário atual e também detalhando o que esperar do futuro. O preço do leite captado em maio/22 e pago aos produtores em junho/22 registrou aumento de 4,6% frente ao mês anterior (a quinta alta consecutiva), chegando a R$ 2,6801/litro na “Média Brasil” líquida do Cepea. Desde janeiro deste ano, o leite no campo acumula valorização real de 19,8% (valores deflacionados pelo IPCA de junho/22).

 

As pesquisas ainda em andamento do Cepea apontam forte elevação dos preços em julho (referente à captação de junho): estima-se que a “Média Brasil” líquida possa subir mais de 15%, ultrapassando o patamar de R$ 3,00/litro. Este expressivo aumento se explica pela menor oferta de leite no campo em junho.

Com isso, as indústrias de laticínios seguiram em disputa pela compra do leite cru, matéria-prima para a produção de lácteos, para tentar evitar capacidade ociosa de suas plantas. A pesquisa do Cepea mostrou que o leite spot se valorizou 20,8% da primeira para a segunda quinzena de junho, chegando a R$ 4,16/litro. A média mensal, de R$ 3,80/litro, ficou 26,2% maior que a registrada em maio.

Diante do aumento no custo da matéria-prima e com estoques baixos, os preços dos derivados lácteos dispararam em junho. Pelo segundo mês consecutivo, a baixa disponibilidade de leite e o aumento dos preços ao produtor e dos derivados continuaram favorecendo a competitividade dos produtos internacionais no mercado doméstico.

 

Assim, as importações de lácteos subiram 30,2% entre maio e junho, mas as exportações recuaram 31%. Em momentos como esse, de arrancada de preços, a pergunta que paira é: quando o efeito desse choque de oferta nos preços vai passar? Do ponto de vista da sazonalidade, a produção só deve ser incentivada com o retorno das chuvas da primavera, em setembro.

Assim, até lá, a tendência é que os preços permaneçam acima da média anual. Contudo, desde maio, os custos de produção têm aumentado menos do que em meses anteriores. E, apesar de os custos com as operações mecânicas seguirem em alta devido à valorização dos combustíveis, a queda nas cotações do milho tem favorecido a atividade. Esse cenário e o aumento nas cotações do leite ao produtor têm proporcionado melhora no poder de compra do pecuarista frente ao insumo: em junho, foi a primeira vez em 20 meses que o produtor precisou de menos de 32 litros de leite para adquirir uma saca de 60 kg de milho, com base nos preços do Cepea.

 

Essa melhora na relação de troca pode se reverter em retomada de investimento e favorecer uma recuperação mais rápida da produção (ver seção Custos de Produção, na página 7). Porém, o fator que deve preponderar a partir de julho na formação dos preços é a demanda. A pesquisa do Cepea mostra que, a partir da segunda quinzena de julho, as negociações do leite spot e dos derivados foram prejudicadas pela diminuição do consumo, desestimulado pelos altos preços nas gôndolas. Esse contexto, contudo, pode se alterar a partir de agosto, com a implementação de programas de transferência de renda, que podem dar maior resiliência para o consumo, evitando quedas bruscas nos preços ao longo da cadeia produtiva.

Preços dos derivados disparam em junho

Os preços do leite longa vida (UHT), do queijo muçarela e do leite em pó (400g) no estado de São Paulo encerraram o mês de junho com médias de R$ 5,22/litro, de R$ 36,55/kg e de R$ 30,55/kg, respectivas altas reais de 17,7%, de 17,2% e de 6,7% em relação ao mês anterior, conforme pesquisa realizada pelo Cepea com apoio da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras).

Em relação ao mesmo período do ano passado, as valorizações foram de 31,94% para o UHT, de 14,95% para a muçarela e de 10,53% para o leite em pó (400g), em termos reais (valores deflacionados pelo IPCA de junho/22).

 

A pesquisa quinzenal de derivados, que coleta dados em diversos estados do País, também registrou elevação nos preços de todos os lácteos acompanhados em junho, e, na “média Brasil”, as cotações do leite pasteurizado, do queijo prato e da manteiga (200g) subiram 9,3%, 14,8% e 3,8% em relação a maio, respectivamente. Colaboradores consultados pelo Cepea informaram que a produção de leite cru, matéria-prima para os laticínios, seguiu restrita durante o mês, o que elevou o custo de captação consideravelmente, forçando os laticínios a elevar os valores dos lácteos. De modo geral, a baixa disponibilidade de leite resultou em estoques de derivados enxutos ao longo de junho, o que sustentou o movimento altista.

Ainda de acordo com agentes do mercado, a escassez de produtos é tão intensa que as vendas seguiram aquecidas mesmo com os preços em elevados patamares. Em alguns casos, houve até mesmo a suspensão de negociações por falta de produtos. É importante ressaltar que isso não se configura como um cenário de demanda fortalecida, pois os preços estão respondendo a um choque na oferta.

JULHO

O movimento de valorização dos lácteos se manteve forte no início da primeira quinzena de julho, devido ao progressivo aumento dos preços pagos aos produtores e das cotações do leite spot. Porém, ainda no início da segunda quinzena, agentes consultados pelo Cepea relataram aumento dos estoques por conta da queda nas vendas. Segundo colaboradores, os altos patamares de preços estão desestimulando o consumo. Ainda assim, na parcial do mês (de 1° a 19 de julho), os lácteos seguiram valorizados em São Paulo: para o leite UHT, a muçarela e o leite em pó (400g), as médias foram de R$ 6,49/litro, de R$ 43,69/kg e de R$ 29,99/kg, respectivamente, com altas de 24,5%, de 19,5% e de 5,5% frente às registradas em maio.

As tabelas detalhadas podem ser encontradas AQUI.

(Débora Damasceno/Sou Agro com Cepea)

 

(Débora Damasceno/Sou Agro)

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