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“É claro que tem problema, mas as coisas devem ser discutidas e enfrentadas”, diz Ortigara sobre pecuária bovina no PR

Débora Damasceno
Débora Damasceno

#souagro|Preocupação, esta é a palavra que ronda a pecuária de corte no Paraná. O Sindicarne-PR inclusive enviou um documento ao Governador do Estado na última sexta-feira (20) pedindo apoio urgente ao setor, isso foi motivado pela recente paralisação das operações de uma das maiores plantas de abate de bovinos no Norte do Paraná, no dia 10 de janeiro, com a perda de centenas de postos de trabalho.

O fechamento da empresa, segundo o Sindicarne-PR, “é um reflexo amargo da crise instalada no setor industrial da carne bovina nos últimos anos, gerada pela combinação de uma extensa lista de fatores negativos: aumento de custos, fuga de matéria-prima para outros estados, desidratação do consumo interno, além da perspectiva sombria de aumento da carga tributária”.

O secretário de agricultura do Paraná, Norberto Ortigara, falou com o portal Sou Agro sobre o tema e segundo ele, o problema é realmente preocupante, mas que o Paraná tem tudo para ser um grande produtor de carne bovina.

“O recente fechamento de uma unidade industrial de abate aqui no Paraná, na cidade de Paiçandu, ele explicitou um problema que vem sendo enfrentado pela pecuária bovina de corte. Todo mundo sabe, o Paraná nunca foi um grande produtor, comparativamente a Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo e outros grandes produtores de carne bovina. Paraná produz em torno das suas necessidades de consumo. Importa, inclusive, para abastecer-se. Todavia exporta para outros estados, também para o exterior. No último ano houve uma queda nas exportações de carne bovina no Paraná, enquanto que o Brasil atingiu 2 milhões 263 mil toneladas de carnes para o mundo, trazendo quase R$ 13 bilhões de dólares. Nós temos problemas sim, nós não temos tamanho, escala suficiente”, disse.

Segundo o Sindicarne a preocupação com o setor vem de antes do estado ser livre da aftosa sem vacinação, mas que medidas sanitárias atrapalharam o setor: “o cenário mercadológico da carne bovina paranaense já era adverso quando ocorreu o reconhecimento do estado do Paraná como Área Livre de Febre Aftosa sem Vacinação e a consequente imposição de medidas sanitárias restritivas à entrada de animais provenientes de outros estados onde a vacinação continua sendo adotada. Este quadro abalou fortemente a dinâmica da cadeia pecuária bovina estadual, gerando crescentes dificuldades e prejuízos aos frigoríficos paranaenses”, diz a entidade.

 

Ortigara reconhece que sim há problemas no setor, mas que é possível dar a volta por cima com muitas oportunidades viáveis para a pecuária bovina de corte. E afirma também que o estado ser livre de febre aftosa não afeta negativamente o setor.

“É claro que tem problema, mas as coisas devem ser discutidas, analisadas e enfrentadas com desafios inclusive tecnológicos. A pecuária bovina paranaense precisa passar uma revolução tal qual passou a nossa agricultura, ou seja, o uso mais qualificado e intensivo do solo agrícola fazendo a sucessão agricultura pecuária, com aproveitamento de materiais cultivados para pastejo, semi-confinamentos, confinamentos. Portanto, sim, nós reconhecemos dificuldades, mas não é o fim da aftosa que fez a gente perder espaço. Existe sim uma saída eventual de gado paranaense para outros estados como eu sempre teve, para o estado de São Paulo, não na magnitude que vem sendo dita por aí, mas de qualquer forma a instrução normativa 48 do Ministério da Agricultura permite que o Paraná mesmo sendo livre de aftosa sem vacinação, reconhecido, ele traga animais com cargas lacrada de qualquer parte do Brasil para abastecer os seus abates, para abastecer os seus frigoríficos. Então sim, temos dificuldades, poderíamos estar produzindo mais bezerro aqui dentro se houvesse a revolução tecnológica na pecuária, não existe impedimento de ingresso de animais para abate no estado do Paraná, a saída para outros estados não é tão grandiosa assim, mas o que aconteceu recentemente, um fenômeno que o gado acabou ficando um pouco mais caro aqui no Paraná, que em outras regiões do Brasil. E por isso, estrategicamente, por decisão empresarial, essa empresa decidiu fechar temporariamente espero esse frigorífico ali em Paiçandu”, disse o secretário.

O secretário de agricultura afirma que o Paraná tem muito potencial para expandir mercado, reconhece que a procura pela carne bovina caiu, mas que o setor pode sim se recuperar.

“Temos ótima qualidade de gado aqui no Paraná, das diversas raças aptas a produção de carne bovina. Temos algumas plantas pouco habilitadas ao comércio internacional e estamos a busca de habilitação de novos mercados com a suspensão definitiva da vacinação contra a febre aftosa que nós conquistamos esse selo no dia 27 de maio de 2021. Sim, a pecuária bovina como todos os demais setores da agricultura enfrentaram aumentos de custos brutais, de máquinas, implementos, equipamentos, insumos, tudo encareceu, ficou caro produzir. Sim, a carne bovina acabou ficando cara para o consumidor brasileiro que preferiu aumentar o seu consumo de carne de frango e carne suína que consumiu três a quatro, até cinco quilos em média o consumo per capita nos dois últimos anos e isso não significa o fim da pecuária bovina”, diz Ortigara.

 

O Sindicarne também fala que a elevação dos custos de produção no campo e os recursos direcionados ao fomento da pecuária de corte tenha causado uma redução do plantel bovino de corte paranaense em até 300.000 cabeças desde 2019: “Muitas propriedades voltadas à terminação e/ou confinamento existentes no estado foram desativadas ou simplesmente desmanteladas, informa o documento. O cenário tem prejudicado inclusive as empresas exportadoras, fazendo a participação do Paraná nas externas de carne bovina e derivados cair de 1,8% em 2019 para 0,8% em 2022. É vergonhoso e inaceitável para a tradição centenária da cadeia industrial da carne bovina paranaense que o Paraná continue seguindo no rumo de converter-se em mero fornecedor de gado para outros estados”, disse o Sindicarne.

Por fim, Ortigara afirma que as portas estão abertas para que o setor discuta maneiras de melhorias com o estado.

“Nós nos colocamos à disposição para discutir fórmulas, formas, jeito diferente de eventualmente retomar. Trabalhamos para a abertura de novos mercados, como aconteceu recentemente a habilitação de uma planta para a a Indonésia, como estamos buscando agora nos próximos dias no comecinho de março emissão empresarial, a abertura do mercado japonês do mercado sul-coreano para as carnes bovina e suína do Paraná, assim como continua o esforço para habilitação dos frigoríficos paranaenses para exportar carne bovina para a China é um quadro real e que a gente espera que seja passageiro, enquanto isso o Governo do Estado se coloca sempre à disposição para discutir qualquer tema relevante em torno da pecuária bovina de corte”, finaliza o secretário.

 

(Débora Damasceno/Sou Agro)

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