Foto: Envato

Crise na suinocultura é uma das piores da história

Débora Damasceno
Débora Damasceno
Foto: Envato

A transparência na relação entre agroindústrias e produtores rurais por meio das Comissões para Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração (Cadecs) tem promovido melhorias constantes na cadeia produtiva da suinocultura, inclusive no ajuste dos repasses dos valores pagos aos produtores paranaenses. A crise global do pós-pandemia, a Guerra na Ucrânia e fatores internos da economia nacional, no entanto, não têm dado trégua e ainda há defasagem nos valores praticados. Esse é o quadro apontado pelo levantamento de custos de produção da suinocultura, elaborado pelo Sistema FAEP/SENAR-PR.

“A suinocultura é um dos carros-chefes da atividade pecuária no Paraná, tanto para o mercado interno quanto para alimentar o mundo. Seja em momentos de crise como o que vivemos ou em dias com melhores resultados, é fundamental termos uma conversa afinada entre agroindústrias e produtores. E, para isso, precisamos nos embasar em números, justamente o que fazemos há tantos anos ao gerar dados de qualidade para dar subsídio às negociações”, avalia o presidente do Sistema FAEP/SENAR-PR, Ágide Meneguette.

 

Para chegar aos números desta edição do levantamento de custos de produção da suinocultura, reuniões foram realizadas com produtores rurais, revendas de insumos, representantes da agroindústria, instituições financeiras e demais agentes do setor, para apurar os custos de uma propriedade modal, ou seja, o perfil de negócio que mais se repete na região. Os encontros para chegar aos números foram realizados no modo virtual, ainda em precaução à pandemia do novo coronavírus.

A pesquisa abrange as principais regiões produtoras de suínos no Paraná: Campos Gerais, Sudoeste e Oeste. Os dados se referem apenas a sistemas integrados, nos quais os produtores são responsáveis por fornecer mão de obra, infraestrutura e terra, com os insumos bancados pela indústria (animais, ração, medicamentos e assistência técnica). Os dados têm essa restrição porque em nenhuma região houve participação de produtores dos sistemas independentes e cooperados e dois painéis foram cancelados por falta de participantes: Terminação e Ciclo Completo. Nos Campos Gerais, não foram levantados dados porque não houve participantes nas reuniões nos painéis programados.

 

Eloi Daga Favero tem uma granja com 770 matrizes para produção de leitões desmamados

Tempestade perfeita

No contexto geral da atividade, a presidente da Comissão Técnica (CT) de Suinocultura do Sistema FAEP/SENAR-PR, Deborah de Geus, enfatiza que, inicialmente, é preciso considerar que a produção de suínos vive uma crise de grande proporção desde o começo de 2021. “O que está pegando é o custo muito alto, sem perspectiva de queda nas cotações do milho e da soja, e a crescente oferta de suínos no mercado interno. Com essa questão da Guerra da Ucrânia, a exportação para a Rússia parou, e com a questão da Covid-19, os portos da China fecharam. Temos uma perspectiva de melhora, com a reabertura dos portos chineses, apesar da alta no custo de contêineres”, lembra Deborah. “A verdade é que vivemos uma ‘tempestade perfeita’. Tudo que tinha que dar de pior, aconteceu”, reforça.

Os aspectos globais e nacionais apontados pela presidente da CT respingam no dia a dia do produtor. Segundo o levantamento do Sistema FAEP/SENAR-PR, donos de Unidade Produtora de Leitões (UPL integrado), por exemplo, tiveram um aumento significativo nos custos de produção em relação ao levantamento anterior, de novembro de 2021. O custo total por cabeça alcançou R$ 66,04, enquanto a receita do produtor foi de R$ 46,87 – prejuízo de R$ 19,17 por leitão.

 

“Apesar de vermos um aumento no valor pago ao produtor, a receita obtida não é suficiente para cobrir os desembolsos, e insuficiente para pagar a depreciação de máquinas e equipamento e a remuneração do capital investido”, aponta Nicolle Wilsek, técnica do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR.

Produtor Miguel Thomas tem uma granja com 650 matrizes em Dois Vizinhos, no Sudoeste do Paraná

O cenário é parecido também na modalidade Unidade Produtora de Leitões Desmamados (UPD integrado), sistema no qual o item “despesas financeiras” foi o maior responsável pelo aumento nos custos de produção, com acréscimo superior a 40%. “Os preços dos combustíveis têm registrado forte elevação, assim como energia elétrica. Esta última em função da redução dos subsídios para a classe rural e a aplicação da bandeira vermelha, por conta da estiagem ocorrida no último semestre. Ainda que o aumento na receita do produtor tenha sido de 12,93% pelo leitão na região Oeste, as margens permanecem negativas”, acrescenta Nicolle.

Na Unidade Creche (UC), a operação no vermelho também é uma realidade. Houve aumento de 81,73% no custo fixo e a depreciação não permitiu ao produtor obter rentabilidade positiva, somado à queda de 7,14% no preço pago ao produtor na comparação entre os levantamentos do fim de 2021. “A receita por animal foi de R$ 6,50, o custo variável foi de R$ 6,54. O custo o operacional alcançou R$ 10,43 e o custo total foi de R$ 12,94 para o produtor integrado, tornando a atividade insustentável em curto prazo”, alerta a técnica do DTE.

 

Suinocultura passa por crise histórica

A suinocultura paranaense e brasileira vive a pior crise de todos os tempos. O setor sofre, principalmente, com a alta dos custos produtivos praticados na pandemia, seja por falta de matérias primas ou por supervalorização de commodities como milho e soja, que acompanharam a explosão da valorização do dólar. Esse cenário é um reflexo de diversos fatores, entre eles a redução na produção decorrente da escassez hídrica, diminuindo a oferta dos insumos que são responsáveis por 80% do custo da alimentação na suinocultura.

Somado a isso, o mercado também teve impacto com o represamento de animais no mercado brasileiro, por cortes na exportação (especialmente da China e da Rússia), resultando na desvalorização da carne suína no varejo e déficit na remuneração do suíno terminado. Ainda, a guerra entre Rússia e Ucrânia provocou oscilações no barril do petróleo e diminuiu a importação de carne suína brasileira pela Europa. Essa soma de fatores resulta em um suinocultor sem dinheiro para capital de giro, com aumento significante em custos variáveis e somados à depreciação das propriedades, estas com o mínimo necessário de manutenções e investimentos.

Hoje, a suinocultura expressa inviabilidade produtiva. A curto e médio prazos, o produtor que não tiver reservas tende a deixar a atividade. E, em momentos de crise, vale enfatizar todo o trabalho de formação e debates promovidos pelo Sistema FAEP/ SENAR PR, que sempre preconizou a urgência em investimentos constantes em eficiência produtiva, ou seja, que o produtor tenha conhecimento dos seus custos e receitas e tome decisões de manter a atividade no equilíbrio, prezando pela saúde financeira.

 

(Fonte e foto: Sistema Faep)

(Débora Damasceno/Sou Agro)

Entre em um
dos grupos!

Mais Lidas

Notícias Relacionadas