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Guerra deve impactar inflação e PIB do Brasil

Débora Damasceno
Débora Damasceno
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#souagro| O portal Sou Agro vem trazendo os impactos que a guerra entre Rússia e Ucrânia podem causar no mundo do agronegócio brasileiro. Os reflexos já vem sendo sentidos por muitos setores. Inclusive esse conflito deve chegar na inflação e também no PIB (Produto interno bruto) do Brasil.

Mas como isso pode acontecer por conta de uma guerra que aconteceu a mais de 10 mil quilômetros de distância? Pois bem, é importante entender que esse embate entre os dois países afeta o mundo inteiro de diversas maneiras, entendendo isso, a gente detalha como a economia brasileira pode ser afetada.

 

No Brasil são três principais fatores que podem sentir os reflexos: combustíveis, alimentos e câmbio. É que toda a instabilidade no Leste europeu pode impactar a inflação, além de causar mais aumentos nos juros, o que compromete o crescimento econômico para 2022 ao reduzir o espaço para a melhoria dos preços e do consumo.

A Fundação Getulio Vargas (FGV), divulgou nesta semana a pesquisa Sondagem da América Latina, que demonstrou que as turbulências na Ucrânia devem agravar as incertezas na economia global, mas no Brasil, os impactos deverão ser ainda maiores. Uma das razões é a exposição maior aos fluxos financeiros mundiais, com o dólar subindo e a bolsa caindo mais que na média do continente.

 

PETRÓLEO

Segundo a FGV, o que mais deve causar reflexo na economia brasileira é o preço internacional do petróleo, em que o barril do tipo Brent encerrou a semana em US$ 105, o maior preço desde 2014. O mesmo acontece com o gás natural, produto do qual a Rússia é a maior produtora global, cujo BTU, tipo de medida de energia, pode chegar a US$ 30, segundo disse nesta semana em entrevista coletiva o diretor de Refino e Gás Natural da Petrobras, Rodrigo Costa.

O Brasil usa o gás natural para abastecimento das termelétricas. Para o diretor da estatal, a perspectiva é que a elevação dos reservatórios das usinas hidrelétricas no início do ano possa compensar, pelo menos nesta fase de início de conflito.

 

Em relação à gasolina, a recuperação da safra de cana-de-açúcar está reduzindo o preço do álcool anidro, o que também ajuda a segurar a pressão do barril de petróleo em um primeiro momento. Desde novembro do ano passado, o litro do etanol anidro acumula queda de 24,6% em São Paulo, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo.

As maiores pressões sobre combustíveis estão ocorrendo sobre o diesel, que não tem a adição de etanol e subiu 3,78% em janeiro, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15), que funciona como prévia da inflação oficial.

 

ALIMENTOS

A guerra também pode afetar o Brasil quando se fala em alimentos. A Rússia é a maior produtora mundial de trigo. A Ucrânia ocupa a quarta posição. Nesse caso, o Brasil não pode contar com outros mercados porque a seca na Argentina, tradicionalmente maior exportador do grão para o Brasil, está comprometendo a safra local.

A crise no mercado de petróleo também pressiona os alimentos. Isso porque a Rússia é o maior produtor mundial de fertilizantes, que também são afetados pelo petróleo mais caro. Atualmente, o Brasil compra 20% dos fertilizantes do mercado russo. O aumento do diesel também interfere indiretamente no preço da comida, ao ser repassado por meio de fretes mais caros.

 

DÓLAR E JUROS

A crise entre Rússia e Ucrânia também pode impactar a economia brasileira por meio do câmbio. O dólar, que chegou a atingir R$ 5 na quarta-feira (23), fechou a sexta-feira (25) a R$ 5,15 após a ocupação de cidades ucranianas por tropas russas. Por enquanto, os efeitos no câmbio são relativamente pequenos porque o Brasil se beneficiou de uma queda de quase 10% da moeda norte-americana no acumulado de 2022. Só que se o conflito se prolongar, isso pode anular a baixa do dólar no início do ano.

Nesta semana, o secretário do Tesouro Nacional, Paulo Valle, disse que o Brasil está preparado para os impactos econômicos da guerra. Segundo ele, o país tem grandes reservas internacionais e baixa participação de estrangeiros na dívida pública, o que ajudaria a enfrentar os riscos de uma turbulência externa prolongada.

 

No entanto, caso o dólar continue a subir e a inflação não ceder, o Banco Central pode ser obrigado a aumentar a taxa Selic (juros básicos da economia) mais que o previsto. Nesse caso, o crescimento econômico para este ano ficaria ainda mais prejudicado.

Na última edição do boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras divulgada pelo Banco Central, os analistas de mercado elevaram a projeção anual de inflação oficial para 5,56% em 2022. Essa foi a sexta semana seguida de alta na estimativa. A previsão de crescimento para o Produto Interno Bruto (PIB) foi mantida em apenas 0,3% neste ano.

 

A PESQUISA

A da FGV pesquisa ouviu 160 especialistas em 15 países e constatou a deterioração do clima econômico. Na média da América Latina, o Índice de Clima Econômico caiu 1,6 ponto entre o quarto trimestre de 2021 e o primeiro trimestre deste ano, de 80,6 para 79 pontos. No Brasil, o indicador recuou 2,8 pontos, de 63,4 para 60,6 pontos, e apresentou a menor pontuação entre os países pesquisados.

Grande parte da queda é o Índice de Situação Atual, um dos componentes do indicador, que reflete as tensões internacionais e o aumento no preço do petróleo no início de 2022. O outro componente é que o Índice de Expectativas, continuou crescendo, tanto no continente como no Brasil, mas a própria FGV adverte que o indicador que projeta o futuro, também pode ir por água abaixo caso o conflito entre Rússia e Ucrânia se prolongue.

 

(Débora Damasceno/ Sou Agro com Agência Brasil)

(Débora Damasceno/Sou Agro)

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