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Alto custo de produção preocupa avicultores paranaenses

Débora Damasceno
Débora Damasceno
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#souagro| A lenha que aquece os aviários, a energia elétrica e a mão de obra foram os itens que mais pesaram no bolso dos produtores de aves do Paraná nos últimos seis meses, conforme mostra o levantamento de custos de produção na avicultura, realizado pelo Sistema FAEP/SENAR-PR.

Os dados apontam que, assim como nos anos anteriores, a atividade trabalha com margens apertadas, que se agravaram com a alta registrada em diversos itens fundamentais para a produção, que ultrapassam a inflação registrada durante o mesmo período.

 

Outras conclusões desse trabalho são: quanto maior a escala de produção, menor é o prejuízo; e que nas regiões onde os produtores participam ativamente das Comissões de Acompanhamento, Desenvolvimento e Conciliação da Integração (Cadecs) existe mais capacidade de negociação junto às integradoras.

Sete reuniões foram realizadas, entre 16 e 20 de maio, para coletar dados em importantes polos de produção avícola do Paraná: Cambará, Campos Gerais, Cascavel, Chopinzinho, Cianorte, Paranavaí e Toledo.

Em cada levantamento, os participantes levavam seus gastos com a atividade (contas e luz, notas fiscais, holerite de funcionários, entre outros documentos) para compor o custo de produção de uma propriedade modal, ou seja, o perfil de um negócio que mais se repete naquela região, no que tange às dimensões, número de aviários e tipo de criação (frangos griller ou pesados), além da empresa à qual o produtor está integrado. Esse trabalho é composto pela produção realizada em 26 diferentes modais de produção.

 

O levantamento de custos conduzido pelo Sistema FAEP/SENAR-PR mostrou que 92% das propriedades analisadas estão trabalhando no vermelho, pois não conseguem cobrir os custos totais de produção com o valor recebido pelas integradoras. Em 88,5% dos modais, o saldo recebido cobriu os custos variáveis, o que significa que a remuneração recebida pelos produtores foi suficiente apenas para arcar com as despesas do lote. Mesmo assim, no médio e longo prazos, a atividade não se sustenta, pois não teria como cobrir o desgaste dos equipamentos, renovar nem ampliar suas instalações.

Na comparação com o último levantamento (novembro de 2021), a receita total recebida pelos avicultores aumentou em todos os modais analisados. Mesmo assim, os ganhos recebidos não foram suficientes para cobrir os custos totais, que em 77% dos casos registraram aumento maior que a receita.

“Subiu tudo. A maravalha que estava R$ 7 há 90 dias, agora está R$ 19. Diesel, mão de obra, energia elétrica estão mais caros”, avalia o avicultor Juarez Pompeu, que participou do painel em Chopinzinho, na região Sudoeste.

 

Segundo o produtor, a situação dos avicultores, que já não era boa, vem piorando. “Ano passado mais de 90 aviários fecharam na região. O produtor faz um financiamento no banco [para construção e adequação dos aviários], não conseguem acompanhar a tecnologia, nem investir, então acabam saindo [da atividade]”, relata.

Em Chopinzinho, foram analisados sete diferentes modais de produção. Em todos, a receita total foi suficiente apenas para cobrir os custos variáveis. Quando analisado o custo total, o prejuízo chega a R$ 0,48 por ave entregue. O maior custo de produção levantado neste painel foi mão de obra, que responde por mais de 30% dos custos variáveis de um barracão de 100 x 12 metros com produção de frango griller na região. Em segundo lugar está o aquecimento (lenha), com participação de 19,54%.

 

Segundo a técnica do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR, Mariani Benites, em praticamente todas as regiões e modais analisados, a remuneração dos produtores não aumentou na mesma proporção que os custos de produção. Das 26 propriedades modais analisadas, apenas duas apresentaram saldo sobre o custo total positivo. Ainda, 11,5% não conseguiram sequer arcar com o custo variável, ou seja, estes pagaram para trabalhar. “O cenário a médio e longo prazos é preocupante, pois o produtor não está conseguindo ter reserva para quando precisar renovar suas instalações e equipamentos e nem a remuneração sobre o capital investido na atividade”, conclui a técnica.

Os únicos dois modais que conseguiram arcar com os custos totais de produção estão localizados na região de Cianorte. Tratam-se de barracões de 160 x 16 e 180 x 18 metros que produzem frangos pesados para a integradora Avenorte e registraram saldo sobre o custo total de R$ 0,05 e R$ 0,39 por ave, respectivamente. Na região, a relação dos produtores com a integradora está estruturada com uma Cadec atuante. Dessa forma, as negociações entre as partes ocorrem de forma equilibrada e assentada sobre dados técnicos.

 

“Esse levantamento do Sistema FAEP/SENAR-PR dá suporte e serve de base para negociações e ajustes de valores pagos ao produtor. É um norte na hora de renegociar o ponto de equilíbrio. É um trabalho determinante para amparar o produtor”, aponta o presidente do Sindicato Rural de Cianorte e dirigente da Comissão Técnica (CT) de Avicultura da FAEP, Diener Santana. “Ao ser feito em regiões diferentes, esse levantamento de custos fornece um banco de dados, um raio-x de como vem se desenhando a avicultura estadual”, analisa.

Ganho em escala

Outra informação que se evidenciou no levantamento foi o ganho de escala. Em alguns modais que possuem mais de um barracão, é possível notar que as despesas se diluem conforme aumenta o número de aves alojadas, melhorando as margens dos produtores. É o caso do produtor Carlos Maia, que possui 12 barracões em São João do Caiuá, na região Noroeste, no qual aloja 500 mil aves.

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O avicultor Carlos Maia, do Noroeste do Paraná

“Com produção em escala eu consigo racionalizar o custo. Ao invés de comprar um saco de cal, compro um caminhão fechado. Quando compro lenha, são 10 alqueires de eucalipto. Para mão de obra a mesma lógica. Tenho dois tratores trabalhando 24 horas para atender os 12 barracões. Tem gente que tem dois barracões e tem um trator”, compara.

Outro ponto importante é a independência energética, alcançada quando o produtor consegue gerar o insumo para consumo na própria propriedade. Vale lembrar que na avicultura essa despesa representa quase 20% do custo de produção.

No caso de Maia, essa independência veio a com a instalação de painéis fotovoltaicos, permitindo que 100% da energia utilizada nos barracões venha do sol. “A gente gastava R$ 100 mil de energia num lote, média de R$ 50 mil por mês. Neste último mês paguei apenas R$ 200”, comemora o avicultor.

“Sem sombra de dúvida, a energia elétrica foi o fator que mais teve impacto nos custos de produção da avicultura. Os produtores estão tendo vários incentivos, tanto por parte do governo estadual como federal, para que venham a ter fontes de energia sustentáveis, como eólica, biogás ou fotovoltaica”, observa Diener Santana, de Cianorte.

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O avicultor Diener Santana

Nesse sentido, o Sistema FAEP/SENAR-PR vem atuando de forma intensa para que as energias renováveis sejam difundidas no Estado. Além de uma cartilha informando as bases legais e técnicas para o uso dessas fontes energéticas no campo, a entidade promoveu, recentemente, um seminário sobre o tema, além de viagens técnicas para conhecer a realidade da energia renovável em outros países.

 

(Débora Damasceno/Sou Agro com Faep)

(Fotos: Faep)

(Débora Damasceno/Sou Agro)

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