Prevenção de praga que atinge as frutas é foco de pesquisa

Débora Damasceno
Débora Damasceno

Especialistas da Embrapa mapearam áreas do território brasileiro com condições mais favoráveis ao desenvolvimento do inseto-praga exótico Bactrocera dorsalis, ausente no País, mas priorizado entre os de risco iminente de potencial entrada. Os mapas gerados subsidiarão políticas públicas para evitar o ingresso no Brasil da praga, também conhecida como mosca-das-frutas-oriental. Como grande parte das fruteiras são hospedeiras do inseto, a entrada de B. dorsalis é uma ameaça à fruticultura nacional, pelos danos causados às frutas e prejuízos decorrentes das restrições quarentenárias impostas por países importadores.

A partir de avaliações bioecológicas do inseto e do zoneamento territorial, realizados pela Embrapa Meio Ambiente (SP), Embrapa Semiárido (PE), Embrapa Amapá (AP) e Embrapa Territorial (SP), foi possível identificar a disponibilidade, em quase a totalidade do território brasileiro, das plantas hospedeiras mais atacadas no exterior. As áreas com condições mais favoráveis ao desenvolvimento de B. dorsalis foram observadas de acordo com os meses do ano. O período entre julho e outubro é o que reúne a maior quantidade de municípios com essas condições, e, portanto, os de maiores riscos à entrada, ao estabelecimento e à ocorrência de populações da praga no Brasil. Os trabalhos fazem parte do projeto de pesquisa “Estratégias para subsidiar ações de monitoramento e controle de insetos-praga presentes e quarentenárias ausentes no território brasileiro – DefesaInsetos”.

Os resultados desses estudos foram enviados à Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), para embasar medidas que evitem o ingresso da praga no País e ações imediatas de controle, no caso da sua eventual detecção. A mosca-das-frutas-oriental foi uma das 20 pragas quarentenárias ausentes priorizadas pela Embrapa e pelo Mapa como as de maiores impactos potenciais à agropecuária brasileira. Por isso, está prevista no Programa Nacional de Prevenção e Vigilância de Pragas Quarentenárias Ausentes, que estabelece as ações tanto para evitar a entrada de pragas exóticas quanto para mitigar riscos nas situações de suspeita da sua ocorrência no País.

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Zoneamentos das áreas favoráveis ao desenvolvimento da praga

De acordo com os zoneamentos realizados, nos meses mais críticos (julho a outubro), a menor quantidade de municípios com áreas favoráveis para o melhor desenvolvimento de B. dorsalis foi verificada em julho – 923 locais. O mês com maior número de municípios foi setembro – 1.940. Nos meses de agosto e outubro foram observadas condições ótimas para o inseto em, respectivamente, 1.680 e 1.378 municípios.  Nesse período, a área central do território brasileiro foi a mais favorável ao desenvolvimento ótimo da praga.

O mês de abril apresentou apenas cinco municípios com áreas favoráveis à B. dorsalis presentes nos estados da Bahia e de Minas Gerais. Nos meses de agosto e setembro, municípios de 15 estados aparecem com essas condições. A Região Sul surge com áreas favoráveis apenas no mês de novembro, em municípios do Rio Grande do Sul.

Nos zoneamentos territoriais dos municípios brasileiros, foram observados os dados climáticos (temperatura e umidade relativa) mensais do período de 2009 a 2018, e os principais cultivos de plantas hospedeiras do inseto presentes no Brasil com base no Censo Agropecuário de 2017. Os hospedeiros priorizados nos estudos foram abacate, banana, cacau, café, caju, caqui, laranja, limão, tangerina, feijão, goiaba, maçã, mamão, manga, maracujá, melão, melancia e tomate.

 

Reprodução e sobrevivência do inseto

O analista da Embrapa Rafael Mingoti, coordenador dos estudos de zoneamentos do projeto DefesaInsetos, conta que, a partir dos dados bioecológicos da praga disponibilizados no exterior, foram determinadas as condições climáticas que permitem ao inseto sua maior taxa de deposição e eclosão de ovos, melhores desenvolvimentos das larvas, das pupas e dos adultos, maior reprodução e maior sobrevivência e, por conseguinte, o reinício mais rápido de seu ciclo de vida. São condições, portanto, que favorecem o rápido desenvolvimento da praga, o maior número de gerações e descendentes e o seu estabelecimento no local.

 

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“Esses estudos são parte crucial do trabalho. Depois dessas avaliações, fazemos a verificação por meio de geoprocessamento. Coletamos dados das médias mensais de temperaturas máximas médias e mínimas e de umidade relativa, com uma série histórica longa para todo o Brasil, e trabalhamos essa informação de modo que ela fique distribuída para toda a superfície. A partir daí, conferimos, mensalmente, em quais lugares ocorrem as condições ótimas e acrescentamos uma margem de erro com desvio padrão”, explica o especialista.

Mingoti destaca que os estudos bioecológicos realizados permitiram evidenciar que a B. dorsalis apresenta grande adaptabilidade e pode sobreviver em condições diversas.  Sua sobrevivência, portanto, não está restrita a áreas em que as condições são ótimas para o seu desenvolvimento. Porém, nessas áreas são esperadas mais rápida adaptação e maiores quantidades de descendentes e número de gerações. Sendo assim, essas condições foram priorizadas no estudo para a determinação de áreas brasileiras indicadas como prioritárias para o monitoramento territorial do inseto, dado que necessitarão de maior eficácia das estratégias de controle, caso o inseto ingresse no País.

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Impactos econômicos

A fruticultura é um segmento importante da cadeia produtiva brasileira. O Brasil é o terceiro maior produtor e o segundo maior exportador de frutas do mundo. A atividade gera em torno de 6 milhões de empregos. “A Bactrocera dorsalis é uma praga de grande importância econômica e se for introduzida em nosso País, os impactos certamente serão muito grandes, tanto pelos prejuízos causados quanto pelos altos custos de controle”, comenta Graciane de Castro.

A única espécie do complexo Bactrocera que já se encontra presente no Brasil é a praga quarentenária B. carambolae. Para desenvolver ações de erradicação e controle dessa praga, também conhecida como mosca-da-carambola, o Mapa tem investido entre R$ 20 e R$ 25 milhões por ano, sem contar os gastos dos órgãos estaduais envolvidos no controle dessa praga e os investimentos em pesquisas realizadas pela Embrapa. A estimativa é que o combate à B. dorsalis possa gerar custos ainda maiores. Isso porque a quantidade de hospedeiros, comprovados e potenciais, é grande, incluindo cultivos de relevante interesse econômico e social, como citros, café, melão, manga e banana.

Os danos diretos causados pela praga são a redução da produtividade e da qualidade dos frutos. Como as larvas se alimentam da polpa dos frutos hospedeiros, eles se tornam impróprios para o consumo in natura e também para a industrialização. Indiretamente, pode afetar as exportações em função das restrições quarentenárias impostas por países importadores, com a finalidade de prevenir a entrada e o estabelecimento do inseto. Outra consequência pode ser a dificuldade de acesso aos novos mercados importadores.

 

Capacidade de crescimento e adaptabilidade

Bactrocera é um dos gêneros da subfamília Dacinae, que faz parte da família Tephritidae, conhecida por abranger as moscas-das-frutas, pragas de grande importância econômica para diversos cultivos de todo o mundo. Esse gênero possui cerca de 400 espécies de pragas relevantes à agricultura mundial, sendo que aproximadamente 75 pertencem ao complexo Bactrocera dorsalis.

Originária da Ásia, a B. dorsalis está amplamente distribuída também no continente africano e na Oceania. Nas Américas, a praga está restrita aos Estados Unidos, no estado de Los Angeles, onde se encontra sob erradicação e com área de ocorrência delimitada sob quarentena oficial.

Entre os fatores que favorecem a capacidade invasiva e de crescimento da B. dorsalis estão seu grande número de hospedeiros (cerca de 300 espécies vegetais), sua alta capacidade reprodutiva, alta adaptabilidade, resistência a inseticidas e habitat de alimentação dentro dos hospedeiros no estágio larval, o que a protege de inimigos naturais.

 

(Fonte e fotos: Embrapa)

(Débora Damasceno/Sou Agro)

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