A importância do manejo da cigarrinha para diminuir as perdas de produtividade no milho

Sirlei Benetti
Sirlei Benetti

 

Quem é produtor rural e planta milho safrinha provavelmente já se deparou, no momento da colheita, com uma alta quantidade de plantas de milho tombadas sem que tenha havido uma causa natural, como ventos fortes (Figura 01). É provável que a causa desse tombamento sejam doenças do complexo mollicute, chamadas de “doenças de enfezamentos da cultura do milho”.

Os molicutes são uma classe de bactérias (espiroplasmas e fitoplasmas) que colonizam o floema, vasos condutores (“veias”) de seiva elaborada das plantas, ocasionando seu entupimento e, consequentemente, a morte das plantas. A ocorrência dos enfezamentos em milho tem sido cada vez mais comum, podendo gerar perdas de até 70% das lavouras.

Figura 01 – Tombamento de plantas de milho sem a ocorrência de ventos e com presença de doenças do tipo “enfezamento” (Fonte: ADAPAR, 2019)

O nome “enfezamento” se dá devido aos sintomas ocasionados às plantas, que ficam mais baixas, com folhas cloróticas (pálidas) e/ou avermelhadas, formando várias espigas pequenas ao invés de uma grande, conforme pode ser visto na Figura 02.

Figura 02 – Sintomas de “enfezamento” em plantas de milho (Fonte: MegaSafra, 2018)

As doenças conhecidas por “enfezamento”, ou seja, aquelas que causam tombamento em plantas de milho, não têm controle. O que pode ser controlado é o inseto que faz a sua transmissão, a cigarrinha do milho (Daubulus maidis). A cigarrinha do milho é um inseto pequeno (tem de quatro a seis milímetros) que se alimenta de plantas com a doença e depois voa para as lavouras. Ao se alimentar, contamina plantas saudáveis.

Figura 03 – Cigarrinha infestando plantas de milho (Fonte: AgroFest, 2018)

Uma das formas mais eficientes de se evitar ou diminuir os prejuízos ocasionados pelo enfezamento em milho é não deixar que plantas voluntárias de milho se desenvolvam, pois é exatamente nessas plantas voluntárias que a cigarrinha do milho se reproduz (especialmente na entressafra). Depois, o inseto passa para a lavoura de milho. Essas plantas voluntárias de milho são aqueles que nascem depois que o milho é colhido ou, então, mais tarde, dentro da lavoura de soja, conforme pode ser observado na Figura 04.

Figura 04 – Plantas voluntárias de milho em áreas de pousio e lavouras de soja (Fonte: ADAPAR, 2021)

Também é recomendado o controle químico da cigarrinha. Nesse caso, o inseto deve ser controlado por meio da aplicação de inseticidas até, mais ou menos, o estádio de V8 da cultura do milho (quando as plantas têm oito folhas). O tratamento de sementes também é indicado, além do uso de algumas cultivares de milho que apresentam certa resistência à cigarrinha no milho e aos enfezamentos. Conforme já foi mencionado, no entanto, a melhor forma de diminuir a ocorrência da cigarrinha e, consequentemente, o tombamento de plantas é erradicar as plantas voluntárias de milho.

Isto posto, é importante frisar que as doenças conhecidas por “enfezamentos” transmitidas pela cigarrinha podem gerar perdas de até 70% da produção na cultura do milho. Para diminuir a incidência dessa praga, é necessário adotar práticas que reduzam a infestação da cigarrinha, especialmente a erradicação de plantas voluntárias de milho, tanto aquelas que vão nascendo após a colheita como as que estão no meio da lavoura de soja. Ou seja, a atenção ao manejo da cigarrinha deve se dar ao longo de todo o ano, e não somente durante o desenvolvimento da cultura do milho.

 

João Edson Kaefer é professor dos Cursos de Agronomia e Gestão Integrada de Agronegócio da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR)- Câmpus Toledo.

(Sirlei Benetti/Sou Agro)

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