Mercado do boi: saiba o desempenho e as expectativas para 2022
O mês de outubro de 2021 foi marcado por incertezas no mercado do boi gordo, resultado da suspensão dos envios de carne de boi brasileira para a China. A situação já dura mais de dois meses, e resultou em uma queda de 49% no volume de carne bovina que foi exportado em comparação a outubro/2020.
Como consequência, os preços da arroba caíram com força no mercado brasileiro em setembro e outubro, chegando aos menores patamares desde dezembro de 2020. Neste cenário, os produtores que optaram por um segundo giro do confinamento e não operaram no mercado futuro para garantir suas margens se depararam com um dilema: arcar com o prejuízo resultante da queda da arroba, ou retornar seus animais já terminados para as pastagens, e aguardar possível reação nos valores da arroba.
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Desta forma, visando avaliar o desempenho econômico dos confinamentos nacionais de boi durante o segundo giro, bem como analisar a situação dos custos preparatórios para a operação do ano de 2022, estimou-se o resultado de sistemas de produção de confinamento de animais machos. Para tanto, foram considerados o Indicador do Boi Gordo CEPEA/B3, as cotações de contratos de mercado futuro do boi gordo na B3 (fechamento de 12/11/2021), as cotações médias do estado de São Paulo de animais de reposição, e a evolução dos preços de insumos da atividade pecuária.
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Considerando-se que o produtor de boi adquiriu seus insumos para o confinamento e sua reposição no mês de julho, estima-se que a operação de confinamento no segundo giro apresentou um COE (considerando-se neste caso os desembolsos do sistema) de R$ 6.909,26/cabeça – ou R$ 309,93 por arroba vendida. Os custos de produção de silagem de milho foram estimados com base nos preços médios para janeiro/21. Somando-se os gastos com insumos para a dieta e as despesas operacionais do sistema (pagamento de colaboradores, mecanização, manutenção de benfeitorias, manejo sanitário, impostos e taxas), estima-se que a diária no confinamento no segundo ciclo de 2021 foi de R$ 21,82/cabeça dia.
Com tal cenário, ao se calcular a margem bruta do período observa-se que este giro do confinamento teve margens negativas, considerandose os preços do Indicador do Boi Gordo CEPEA/ B3 de 1º de outubro a 12 de novembro de 2021. As margens brutas negativas por cabeça abatida se agravaram na segunda quinzena de outubro, quando variaram entre –R$ 1.245,53 e –R$ 833,21. Já em novembro, os resultados têm melhorado, porém até o dia 12 de novembro a situação continuava sendo de margens negativas para o produtor. Com base no valor do indicador de 12 de novembro, a margem bruta por cabeça foi de –R$ 198,97.
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Resultados do mercado futuro no segundo giro
Do início de 2021 até o encerramento de outubro, o contrato Outubro/21 (BGIV21) foi negociado na B3 entre R$ 257,65/@ e R$ 345,60/@. Ao analisar a distribuição destes valores, observa-se que 75% dos ajustes ocorreram entre R$ 295,15 e R$ 326,40, ou seja, acima da média do Indicador CEPEA/B3 em outubro, de R$ 269,56. Isso demonstra a importância da gestão de vendas na pecuária de corte, uma vez que o resultado dos produtores que negociaram os preços de venda de seus animais antecipadamente foi positivo em 61% dos casos ao considerarmos o custo de produção estimado e os valores do contrato Outubro/21.
Na análise da distribuição dos resultados obtidos com base nas cotações do mercado futuro, observa-se que o ROI (retorno sobre o investimento, relação entre a margem e o custo operacionais) variou, entre -17% e 12%. Os melhores resultados foram encontrados ao serem considerados os ajustes do contrato nos meses de abril, maio e junho, período que antecedeu o primeiro ciclo de confinamento e no qual o mercado tinha expectativas de bons resultados, fundamentado pelo então excelente desempenho das exportações. Os ROI’s médios calculados para estes meses foi de respectivos 6%, 9% e 5%.
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Destacando os principais pontos referentes aos custos para aquisição dos insumos para produção de silagem, observa-se um crescimento forte no decorrer do ano de 2021. O custo médio por tonelada de matéria seca cresceu 48%, passando dos R$ 313,83 em janeiro para R$465,71 em outubro/21. Dentre os grupos de insumos que mais influenciaram este crescimento, destacam-se os preços de fertilizantes, que subiram 68% entre janeiro/21 e outubro/21, nas praças pesquisadas pelo Projeto Campo Futuro que trabalham com pecuária.
De acordo com dados da Secex, o volume de fertilizantes importados no mês de outubro foi expressivamente superior que no mesmo mês em 2020, sobretudo para os fertilizantes fosfatados, cujo volume importado subiu 122%. Ao mesmo tempo, o valor médio por unidade importada aumentou 131%. O comportamento de preços e volume dos principais fertilizantes fonte de macronutrientes seguem na mesma tendência dos fosfatados, com os fertilizantes nitrogenados crescendo 49% em termos de volume importado e 75% em termos de valor médio unitário.
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Os fertilizantes potássicos, por sua vez, passaram por uma alta de preços de 99%, e de 40% em seu volume em comparação a outubro/20. O incremento nos preços foi motivado pela conjuntura internacional de redução na oferta de fertilizantes, com encarecimento do processo logístico, das dificuldades energéticas em importantes países produtores, bem como uma maior demanda.
Os custos para a mecanização do plantio, da colheita e ensilagem também registraram expressiva alta, tendo em vista a valorização de 36% do Diesel de janeiro a outubro deste ano (média Brasil). Já os preços de maquinário, que influenciam o custo de manutenção e troca de peças, tiveram crescimento de 28% entre janeiro e outubro/21. Destaca-se que o custo com a hora máquina para a mecanização representaram 31% do COE da silagem, devido ao seu uso intenso.
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Por outro lado, os custos da ração no mês de outubro apresentaram retração levando em consideração os preços dos indicadores de Soja e Milho (INDICADOR DA SOJA ESALQ/BM&FBOVESPA), frente ao avanço do plantio da safra 2021/22 e maior disponibilidade de grãos para serem comercializados em território nacional em detrimento do volume exportado, elevando a oferta aos pecuaristas. Caso o movimento de queda no preço de insumos para a formulação de dietas se demonstre contínuo, há potencial para que as diárias do confinamento se tornem mais atraentes no início de 2-22, aja vista que para o segundo giro de 2021, estimou-se que os gastos com o arraçoamento dos animais representaram 37% do COE.
Ainda em termos de custo, o cenário de preços da reposição em 2022 pode arrefecer tendo em vista um potencial aumento no volume de animais ofertados para terminação. Dados da ASBIA (Associação Brasileira de Inseminação Artificial) apontam o crescimento substancial da produção de bezerros de boa genética no país, desde 2018. Deste ano até 2020, houve uma alta de 70% nas vendas de doses de sêmen de touros com aptidão de corte no território nacional, com o percentual de matrizes inseminadas no rebanho nacional saltando de 12,7% para 22,2%.
Assumindo que os animais entram no confinamento, na média nacional, aos dois anos de idade, os animais abatidos durante o ano de 2021 foram influenciados pela alta dos investimentos na genética nacional três anos antes. Contribui ainda para a possibilidade de maior oferta de animais o atual cenário de abates de fêmeas.
Dados do segundo trimestre de 2021 da pesquisa trimestral de abates (IBGE) mostram maior retenção de matrizes em 2021 do que nos anos anteriores, indicando uma maior propensão dos criadores a aumentar seus plantéis. Considerando os dados do primeiro semestre de 2021, o abate de vacas caiu 15,6% e o de novilhas recuou 21,5%, em relação ao mesmo período de 2020 (Pesquisa Trimestral de Abates, do IBGE).
Historicamente, comportamentos de retenção de matrizes como este levaram à maior oferta de animais desmamados no ano seguinte, tornando a reposição mais atrativa aos recriadores e terminadores. Neste sentido, o crescimento na oferta de animais desmamados pode potencialmente ser verificado em 2022. Por fim, pelo lado da receita, os valores futuros da arroba em 2022 retratam um mercado otimista. Ao serem avaliados os ajustes na B3 para os contratos com vencimentos entre novembro/21 e maio/22 (valores de 12/11/2021), observa-se projeções de preços mais firmes para a arroba do boi gordo nos próximos meses.
No período mais próximo, a expectativa de aumento no consumo interno com as festas de fim de ano tem influência na decisão das indústrias em oferecer aos pecuaristas valores mais atraentes. No entanto, passado este período de maior demanda, a expectativa é de que as indústrias frigoríficas e os pecuaristas fiquem mais ausentes das negociações nas últimas semanas de dezembro/21 e começo de janeiro/22, o que pode diminuir o ímpeto das altas de preços da arroba do animal terminado ou até exercer alguma pressão de baixa sobre as cotações nesse período.
Como fica o primeiro giro de confinamento em 2022?
Traçando um paralelo entre o cenário atual de preços e as expectativas para o primeiro giro de 2022, o ano que vem começa a desenhar um quadro mais atraente para os confinadores, com a boa expectativa da safra nacional de grãos. Ainda assim, é preciso se atentar à produção de volumoso, tendo em vista que isso ciclo pode influenciar nos resultados financeiros da operação. Com o atual cenário de preços de fertilizantes, além dos impactos do dólar e o preço de combustíveis para o frete de insumos e na mecanização, os produtores que optarem por atrasar a compra de insumos para o plantio de milho, ou outras culturas, pode ser prejudicado ao fechar o valor da sua silagem.
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Do lado da demanda por carne bovina, a China mantinha – pelo menos até meados de novembro/21 – suspensas as novas compras de carne bovina no Brasil. Este ponto é preocupante para os agentes do setor pecuário nacional, especialmente quando considerado que mais da metade do volume exportado pelo Brasil tinha como destino o pais asiático. Entretanto, as sinalizações são positivas com relação à liberação das exportações brasileiras de carne bovina para a China, que se confirmadas deverão ter um bom desempenho em 2022. Outro ponto de atenção é com relação à demanda doméstica enfraquecida, tendo em vista o fragilizado poder de compra da maior parte da população brasileira.
A maior competitividade das proteínas de frango, suína e ovos em relação à carne bovina reforça este cenário. Do lado da oferta de animais para a recria e engorda, seja ela à pasto ou confinada, há potencial para crescimento durante o ano de 2022, fruto da retenção maior de fêmeas em 2020 e 2021, já comentada neste artigo. Apesar de a maior disponibilidade de animais para terminação poder influenciar negativamente as cotações destas categorias e, consequentemente, o preço da arroba do boi gordo em 2022, caso a demanda por boiadas se mantenha aquecida, essa pressão de baixa poderá ser mais comedida neste primeiro momento ou até mesmo se sustentar durante o ano.
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Destaca-se que, sobretudo em operações pecuárias de considerável risco como o confinamento, a gestão de compras e vendas tem alta importância, para o sucesso da operação. Portanto, apesar do ano de 2022 estar se desenhando como positivo ao confinador em alguns pontos (custos da alimentação e do boi magro), os custos com a produção de volumoso e a compra de reposição são ainda pontos que devem ser analisados com cautela no planejamento da operação para cada ciclo, bem como as incertezas com relação à demanda interna e ao mercado internacional, em especial a China.
(FONTE: Cepea)