Inflação do fertilizante supera 50% na safra de milho e soja que se inicia

Amanda Guedes
Amanda Guedes

Produção menor, taxas de importação e intervenções governamentais elevaram preços no exterior. Os gastos médios dos produtores com fertilizante nesta safra de soja que se inicia deverão superar em 50,1% os da anterior. Já os custos com esses insumos na primeira safra de milho, a de verão, terão aumento de 55,4%.

Esses valores fazem parte de um levantamento do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), baseado na oferta e disputas pelos insumos no mercado externo.

Produção menor, taxas de importação, intervenções governamentais e barreiras comerciais por motivos políticos tornaram o setor bastante competitivo, elevando os preços internacionais nos principais mercados.

Os valores externos tomam outra dimensão internamente, devido ao custo do dólar. Em julho, alguns fertilizantes chegaram a atingir os maiores valores desde 2008 no mercado brasileiro. A ureia acumula elevação de 58,4% nos sete primeiros meses deste ano, em relação aos valores de igual período anterior. Já a tonelada de MAP (fosfatado monoamônico) registrou alta de 90,3%.

Como consequência disso, os dados do Cepea apontam, ainda, intensa aceleração nos custos de produção de milho segunda safra, feijão, arroz irrigado e trigo. As variações vão de 53%, para o milho safrinha, a 71,1%, para o trigo.

A pressão vem não só dos fertilizantes mas também de defensivos agrícolas, diesel, manutenção preventiva das máquinas e de outros itens importantes na composição dos custos dos produtores, afirma Mauro Osaki, pesquisador da área de Custos Agrícolas do Cepea.

Com tanta pressão, os gastos com as principais lavouras de grãos da safra 2021/22 vão superar em 30% os da anterior. A maior alta ocorre na soja, que terá elevação de 32,9% no orçamento total da produção, seguida de trigo e de milho verão. Estes subirão 31,6% e 30,9%, respectivamente.

Osaki diz, no entanto, que esses custos poderão sofrer novos avanços no decorrer da safra, dependendo do comportamento da taxa de câmbio e dos preços das matérias-primas dos agroquímicos e do petróleo nos países produtores. A incidência de pragas e de doenças nas lavouras é outro motivo de preocupação, de acordo com o pesquisador.

Guilherme Bellotti, gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA, ao participar de evento da Conab na quinta-feira (19), afirmou que esta realmente será uma safra mais cara. E o peso desse avanço de custo no bolso do produtor vai depender de como ele se preparou para as compras dos insumos. Aqueles que deixaram para adquirir os produtos mais tarde vão ter pressões maiores nos gastos.

Essa pressão de custo, principalmente se houver quebra de produção, passa para a indústria de proteínas, chegando aos consumidores.

Bruno Lucchi, diretor técnico da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), citando um provérbio chinês, afirmou que o produtor deverá esperar pelo melhor, mas se preparar para o pior.

Além dos custos elevados, o setor será afetado pela forte crise hídrica, pelo fenômeno La Niña, pela taxa de câmbio e pelas dificuldades na logística de exportação. Para Lucchi, será um período de margens mais estreitas e de desafios para o produtor.

André Pessôa, sócio-diretor da Agroconsult, afirma que o setor está em um momento muito especial, bem recompensado e com rentabilidade adequada. No ano que vem, no entanto, as relações de troca vão ficar bem piores.

É um momento de gerenciamento de risco, diz Andy Duff, chefe da área de pesquisa setorial do Rabobank.

A FecoAgro (Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado do Rio Grande do Sul) constatou um aumento de 52% nos custos na produção do milho e de 48,5% nos da soja para os produtores gaúchos.

FONTE: BRASIL AGRO

(Amanda Guedes/Sou Agro)

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