Fotos: José Felipe Batista e Denise Cândido

Resistentes e antigos no planeta Terra: conheça 9 curiosidades dos escorpiões

Redação Sou Agro
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Fotos: José Felipe Batista e Denise Cândido

Os escorpiões não são exatamente bonitos. Eles podem até mesmo causar uma certa repulsa, já que muitas espécies representam um perigo à vida humana por serem venenosos. Mas esses animais também precisam ser respeitados: primeiro, porque eles desempenham um papel importante no equilíbrio ecológico como predadores de outros bichos e, segundo, porque são os aracnídeos mais antigos do planeta Terra. Isso mesmo: os escorpiões habitam nossa superfície há mais de 450 milhões de anos.

Brasil abriga quatro espécies de escorpiões que são consideradas de interesse médico e registram a maior quantidade de acidentes. O escorpião-preto-da-Amazônia (Tityus obscurus), que ocorre na região Norte e no estado do Mato Grosso; o escorpião-amarelo-do-Nordeste (Tityus stigmurus), que também tem aparecido nos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Tocantins; o escorpião-marrom (Tityus bahiensis), frequente nas regiões do Centro-Oeste, Sudeste e Sul; e o escorpião-amarelo (Tityus serrulatus), com ocorrência em todas as regiões do país, mas na região Norte, ainda restrito em Tocantins.

Para além da importância em saúde, os escorpiões – assim como qualquer animal – possuem características interessantes, inusitadas e até mesmo arrepiantes. Mas mais importante do que qualquer curiosidade é entender os hábitos desses aracnídeos, para que você possa não só evitar os mais perigosos, mas também entender os motivos que podem fazê-los se sentirem ameaçados.

A bióloga e assistente técnica de pesquisa científica e tecnológica do Biotério de Artrópodes do Instituto Butantan Denise Maria Candido identifica nove curiosidades dos escorpiões que talvez você nem imagine!

 

1 – Os escorpiões podem ficar fluorescentes

Esses pequenos aracnídeos carregam em sua cutícula substâncias que são chamadas de metabólitos secundários. Por isso, eles parecem fluorescentes sob a luz ultravioleta. Esse tipo de iluminação ajuda os especialistas a fazerem o controle e coleta dos escorpiões, o que precisa acontecer à noite, já que é nesse período que eles saem para caçar. “Como eles ficam escondidos, é muito difícil achá-los. A luz os deixa brilhantes e nós conseguimos identificar a presença deles no meio de muros e no mato, por exemplo”, explica Denise.

Luz ultravioleta ajuda na coleta de espécies de escorpiões | Fotos: José Felipe Batista e Denise Cândido

2 – Eles picam pela cauda e não pelas pinças

O veneno do escorpião é armazenado no interior do órgão conhecido popularmente como cauda. Na verdade, o nome real dessa parte do corpo é metassoma: ela ajuda a dar equilíbrio ao animal, além de servir como forma de defesa. As pinças, por sua vez, têm outras funções e são usadas para segurar presas, alimentar-se e acasalar.

 


A cauda é usada como defesa pelos escorpiões
3 – Soltar a “cauda” para se defender 

Os escorpiões do gênero Ananteris, encontrados em todo o Brasil e em regiões das Américas do Sul e Central, têm uma capacidade bem diferente: conseguem se desprender de sua “cauda” para escapar de predadores. Esse fenômeno (que pode ser visto também nos lagartos) é considerado uma automutilação: quando o órgão é destacado do corpo do animal, seu intestino e ânus param de funcionar corretamente e as fezes ficam acumuladas, causando uma intoxicação e, posteriormente, a morte.

“Essa capacidade é vantajosa porque ele consegue fugir de situações de perigo, mas depois o escorpião passa a ter uma vida mais curta”, explica Denise. Então qual o benefício? Na natureza, a função dos bichos é reproduzir. Se o Ananteris consegue fugir do predador e, no tempo que lhe resta de vida, acasalar, sua meta no mundo terá sido cumprida.

 


Escorpião do gênero Ananteris consegue soltar sua cauda para sobreviver em caso de ataque
4 – Um poderoso sistema sensorial

Apesar de possuírem até 12 olhos, a visão não é o forte dos escorpiões. O grande diferencial desses bichos é seu sistema sensorial: os pelos espalhados por seu corpo levam mensagens sobre o meio ambiente ao sistema nervoso, e os pentes que ficam no ventre são usados para sentir as vibrações, a temperatura e a umidade do ar. O resultado é que se eles notarem um pequeno barulho, fogem imediatamente.

Esses recursos foram sendo desenvolvidos ao longo de milhares e milhares de anos: é justamente por estarem há bastante tempo no planeta e terem sobrevivido a diversas revoluções ecológicas que os escorpiões adquiriram habilidades que os tornaram bastante resistentes – o sistema sensorial é uma dessas habilidades, e considerada bem efetiva pelos biólogos.

Veja no vídeo abaixo a movimentação dos pentes do escorpião, que ficam na parte de baixo do seu corpo.

 

 

5 – Dança nupcial: um convite para o acasalamento 

Algumas espécies, como o escorpião-preto-da-Amazônia (Tityus obscurus) e o escorpião-marrom (Tityus bahiensis), acasalam para se reproduzir. O primeiro passo do romance é a escolha do local adequado, feita pelo macho. Depois, ele sai em busca de uma fêmea disposta a curtir o momento. É preciso encantar a pretendente, porque ela pode se negar e causar uma briga fatal para um deles. Depois do aceite, o macho “dá as mãos” (na verdade, as pinças) à fêmea e começa a levá-la para o ambiente escolhido. Esses movimentos, antes do ato, são chamados de dança nupcial.

Assista abaixo à dança entre dois escorpiões da espécie Tityus costatus, nativa do Brasil e que pode ser encontrada nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, apesar de não ser tão comum.

 

 

 

6 – Partenogênese, uma forma de reprodução sem acasalamento

É isso mesmo. De acordo com Denise, cerca de 5% das espécies de escorpiões tem a capacidade de ter filhotes sozinhas, sem precisar de um parceiro. Esse tipo de reprodução é chamado de partenogênese, que é o desenvolvimento de embriões sem a necessidade de fecundação de espermatozoides.

“O que chama atenção nas Américas do Sul e Central é que as duas principais espécies do bicho, o escorpião-amarelo-do-Nordeste e o escorpião-amarelo, têm a capacidade de se reproduzir por partenogênese, aumentando a população dos escorpiões no meio ambiente”, diz a bióloga.

 


Os escorpiões podem gerar entre 20 e 25 filhotes por gestação
7 – Assim como as cobras e cigarras, os escorpiões trocam de pele 

Com apenas uma semana de vida, os filhotes já trocam de pele. Depois disso, eles trocam mais quatro vezes, até se tornarem adultos. Como eles são animais invertebrados, ou seja, não possuem coluna vertebral para sustentar o corpo, a sustentação é feita pela carapaça externa – e quando ela fica muito pequena para acomodar o animal, precisa ser abandonada.

 


Peles de escorpião
8 – O primeiro lar dos escorpiões são as costas da mãe 

Assim que nascem, os pequenos escorpiões sobem logo para as costas da mãe e lá ficam por 15 dias. Esse comportamento acontece por segurança e proteção. A fêmea cuida da ninhada, é verdade, mas ai dos que caírem pelo caminho: eles podem virar comida da própria mãe! O contrário não acontece: por todo o tempo que ficam em cima da mãe, os filhotes não se alimentam. É que, após nascerem, eles possuem uma espécie de reserva alimentar – como se fosse o vitelo dos mamíferos (material nutritivo contido no óvulo).

Outro aspecto curioso é que, depois dessa quinzena nas costas maternas, cada um segue sua vida solitariamente sem grandes problemas. “Depois da primeira troca de pele, quando já estão formados, eles ficam mais uma semana e então saem para desbravar o mundo”, detalha Denise.

 


Depois do aconchego ao nascer, eles saem para desbravar o mundo solitariamente
9 – Escorpiões cometem suicídio? É mentira!

Não acredite em tudo o que lê na internet. Há relatos de que se o escorpião fica no meio de uma roda de fogo, ele prefere se matar antes de morrer queimado. Mas a história não é bem assim. “Na realidade, ele sente que tem o perigo, então tenta se defender. O que acontece é que, por vezes, ao se movimentar muito em momentos de estresse, ele mexe a cauda e encaixa o ferrão em seu próprio corpo”, explica Denise. Mas como qualquer animal peçonhento, o escorpião é imune ao seu próprio veneno. Em uma situação como a da fogueira, ele morreria queimado ao se desidratar.

ATENÇÃO: em caso de acidente com um animal peçonhento, procure o serviço médico mais próximo. Mantenha a calma: não faça torniquetes, não corte e não tente “sugar” o veneno, nem aplique nenhum produto sobre a ferida, pois essas práticas podem piorar o quadro.

Esta matéria foi validada pela bióloga e assistente técnica de pesquisa científica e tecnológica do Biotério de Artrópodes do Instituto Butantan Denise Maria Candido.

(Reportagem: Mateus Carvalho,  Instituto Butantan)

 

(Redação Sou Agro/Sou Agro)

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