Consórcio de milho com capim colonião reduz plantas daninhas em até 70%

Débora Damasceno
Débora Damasceno

#souagro| O consórcio de milho com a BRS Zuri, cultivar de capim colonião, reduziu em 68% a infestação de plantas daninhas em comparação com o milho solteiro na entressafra agrícola (outono/inverno) do Cerrado brasileiro, é o que mostrou um experimento de longa duração da Embrapa Cerrados (DF). A pesquisa reduziu ainda em 66% a ocorrência de buva, uma espécie que possui indivíduos resistentes ao herbicida glifosato. Além disso, as produtividades do milho foram semelhantes e houve menor diversidade de plantas daninhas no consórcio.

Responsável pelo estudo “Levantamento fitossociológico de plantas daninhas em áreas de milho com e sem consórcio com BRS Zuri”, a pesquisadora Núbia Maria Correia explica que a dificuldade de manejar espécies de plantas daninhas tolerantes ou resistentes a herbicidas exige mudanças não só na substituição ou inclusão de novos produtos no sistema de produção, como também no comportamento dos produtores, com a adoção do manejo integrado dessas plantas com o uso, na entressafra, de plantas de cobertura como as gramíneas forrageiras do gênero Urochloa (capins braquiárias) ou Panicum.

 

“Essa prática é importante, já que além de melhorias na qualidade física, química e biológica do solo, favorecerá o manejo de plantas daninhas, seja pela interferência das plantas vivas das espécies forrageiras ou pela cobertura morta depositada sobre o solo após a dessecação antes da semeadura da cultura de interesse”, afirma.

Já são conhecidos os efeitos dos consórcios de milho com a braquiária ruziziensis (U. ruziziensis), muito utilizados no Cerrado do Brasil Central, para o controle das plantas daninhas. No entanto, a pesquisadora observa que o uso de espécies como o capim colonião como planta de cobertura no período de entressafra na região, quando as chuvas são reduzidas e o acúmulo de massa de forragem fica comprometido, também é bastante promissor tanto para a formação de pastagem como de palhada para o Sistema Plantio Direto para a safra de verão seguinte.

 

“As plantas do colonião têm sistema radicular vigoroso e profundo, além de elevada tolerância à deficiência hídrica e absorção de nutrientes em camadas mais profundas do solo, desenvolvendo-se em condições ambientais desfavoráveis para a maioria das culturas de grãos e de espécies utilizadas para cobertura do solo”, aponta Correia.

Identificação e quantificação

Nesse sentido, o trabalho buscou identificar e quantificar as plantas daninhas presentes em duas áreas paralelas de milho safra – uma faixa de milho solteiro e outra de milho consorciado com o capim colonião BRS Zuri. As áreas foram semeadas no mesmo dia, em outubro de 2020, e receberam os mesmos tratos culturais. Na faixa do consórcio, a BRS Zuri foi semeada antes do milho.

 

Em julho, 72 dias após a colheita do milho, foi realizado o levantamento fitossociológico das plantas daninhas que emergiram nas duas faixas, com amostragem de 12 pontos aleatórios de 9 mem cada uma. Em cada ponto, foi realizada a avaliação visual da infestação, considerando, além da quantidade, a altura e o enfolhamento das plantas.

Foram identificadas 18 espécies de plantas daninhas infestando as duas faixas, distribuídas em 17 gêneros e oito famílias. A porcentagem de infestação de cada espécie foi estimada em função da cobertura do terreno pelas plantas. A partir desses valores, foram calculados outros parâmetros fitossociológicos.

 

Na faixa de milho solteiro, 17 espécies foram encontradas; na faixa de milho consorciado, 12. Capim-amargoso, poaia-branca, erva-de-santa-luzia, cordão-de-frade, apaga-fogo e macela-branca ocorreram somente na faixa de milho solteiro, enquanto o caruru foi identificado apenas na faixa de milho consorciado com BRS Zuri, e em um único ponto amostral. A família com maior número de espécies foi a Poaceae, com cinco (capim-carrapicho, capim amargoso, capim-colchão, capim-custódio e capim-pé-de-galinha), seguida por Asteraceae, com três (buva, mentrasto e macela-branca).

milho

 

O que é levantamento fitossociológico?

A fitossociologia é o estudo das comunidades vegetais do ponto de vista florístico e estrutural. Indivíduos da mesma espécie compõem uma população e grupos de populações que ocorrem juntas caracterizam uma comunidade. Os estudos fitossociológicos comparam as populações de plantas daninhas em um determinado momento. Repetições desses levantamentos em outras épocas do ano podem indicar tendências de variação da importância de uma ou mais populações, e essas variações podem estar associadas às práticas agrícolas adotadas.

Segundo Correia, o levantamento fitossociológico é muito importante para auxiliar na escolha mais adequada do método de controle das plantas daninhas, pois pode influenciar diretamente na eficiência do manejo utilizado. O levantamento fitossociológico pode possibilitar, ainda, a obtenção de parâmetros confiáveis sobre a florística das plantas daninhas de um determinado talhão.

 

Produtividades do milho solteiro e consorciado foram semelhantes

No experimento na Embrapa Cerrados, o milho foi colhido em maio de 2021, sendo que a produtividade de grãos não variou de forma significativa entre as duas áreas, ficando em cerca de 14 toneladas por hectare. A pesquisadora lembra que, nos consórcios de milho com capim colonião semeados simultaneamente ou com diferenças de um ou dois dias entre as semeaduras, a forrageira poderá competir com o milho, prejudicando a produtividade de grãos.

milho

“Mas é importante analisar dois fatos. Primeiro, a competição que o próprio milho exerce no capim colonião, devido ao crescimento inicial mais lento da forrageira comparado ao milho. Com o desenvolvimento do milho, há o sombreamento das plantas de capim colonião, que com o acesso restrito à luz, ficam com o crescimento estagnado”, diz.

 

Ela acrescenta que o controle químico das plantas daninhas deve ser feito de forma consciente e equilibrada, com produtos assertivos. “Os herbicidas não podem causar a mortalidade da forrageira, apenas a inibição do seu crescimento para que, após a colheita do milho, as plantas de capim colonião retomem o desenvolvimento e dominem a área”.

“Os dados do estudo reforçaram, portanto, a importância da cobertura viva do solo na entressafra agrícola durante o período de outono/inverno para reduzir a infestação de plantas daninhas de difícil controle como buva, capim-amargoso, poaia-branca e erva-de-santa-luzia”, conclui a pesquisadora.

(Débora Damasceno/Sou Agro com Embrapa)

 

(Fotos: Emnrapa)

(Débora Damasceno/Sou Agro)

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