Produção de trigo pode ser ampliada no Brasil
A Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da CNA discutiu nesta semana as potencialidades do Brasil para ampliar a produção de trigo no País. Foram tratados temas como o cenário mundial, ações de fomento para o cereal na região Sul e o plano de desenvolvimento para expansão da produção do trigo tropical no Cerrado.
Os pesquisadores do Cepea/Esalq/USP, Lucilio Alves e Mauro Osaki, falaram sobre a oferta e a demanda de trigo, considerando os impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia, que são grandes produtores do cereal e também fornecedores de fertilizantes. Segundo eles, os dois países representaram 14% da produção mundial e mais de 30% das exportações mundiais do cereal.
Alves afirmou que há dois anos seguidos os estoques de trigo vêm caindo e a demanda está superando a oferta. “É um reflexo da pandemia, mas agora com a guerra houve uma disparada de preços, com aumento chegando a 75% em poucos dias”, disse.
Ele ressaltou ainda que apesar de importar quase metade do trigo que consome, o Brasil não sofrerá um contexto de escassez do produto.
“O País apresentou recorde de produção em 2021, mas precisamos que Rússia e Ucrânia produzam porque os estoques estão em baixa e o preço continuará subindo para o consumidor final”.
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Mauro Osaki comparou o desempenho econômico do trigo do Brasil com os principais produtores mundiais, tomando como base cinco safras (15/16-19/20) para os valores internacionais e nacionais. Na Rússia, por exemplo, a produção de uma tonelada custa 62 dólares; na Ucrânia, 96 dólares, já no Brasil, o valor chega a US$ 177.
Segundo ele, a rentabilidade do trigo nos últimos anos tem sido desfavorável em função dos custos de produção da cultura, o que favoreceu o plantio do milho.
“De acordo com levantamento do projeto Campo Futuro, o milho segunda safra cresceu em detrimento do trigo em regiões como Cascavel (PR), por exemplo, principalmente devido à rentabilidade da cultura, custos de produção e produtividade”.
Apesar do aumento no preço de insumos, o crescimento da produção de trigo no Brasil é viável, considerando os benefícios para o solo e para as culturas subsequentes, afirmaram os participantes da comissão.
Nos estados do Paraná e Rio Grande do Sul, por exemplo, existem áreas em pousio na segunda safra (descanso da terra) que podem ser utilizadas para o plantio do cereal e, consequentemente, diminuir os custos fixos da produção.
“A cultura do trigo não volta a decrescer no Rio Grande do Sul. Temos um cenário promissor para o produtor gaúcho e queremos avançar para o desenvolvimento de um plano para a triticultura no estado”, afirmou Hamilton Jardim, da Federação da Agricultura do Estado do RS (Farsul).
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No Paraná, Rodolfo Botelho, da Federação de Agricultura do Estado (Faep), disse que os produtores estão preocupados com o aumento no preço dos fertilizantes, que elevaram o custo de produção, além das questões climáticas que têm trazido quebra de safra na região.
“O trigo é de fundamental importância para o Brasil e para a região Sul, por isso precisamos que o assunto seja discutido de forma mais abrangente, assim como as demais culturas de inverno, para levar informação para o produtor, garantias de produção e rentabilidade”.
Em relação à produção de trigo no bioma Cerrado, o pesquisador da Embrapa Cerrados, Júlio Cesar Albrecht, apresentou o Termo de Execução Descentralizada ou TED do Trigo Tropical, elaborado pela Embrapa e aprovado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o período 2022-2025.
A iniciativa vai abranger o cultivo de sequeiro e irrigado nos estados de Goiás, Minas Gerais, Oeste da Bahia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo e no Distrito Federal e vai focar, especificamente, na transferência de tecnologia, caracterização dos municípios produtores e combate à brusone (praga que ataca o trigo).
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Com o plano, espera-se o crescimento de 40% da área cultivada com trigo, passando de 252 mil hectares em 2021 para 353 mil até 2025, aumento da produção em torno de 300 mil toneladas e desoneração em R$ 450 milhões da balança comercial das importações de trigo no Brasil.
“É viável alcançar esses resultados devido às características da região que tem produtividade e qualidade excelentes”, afirmou Albrecht.
Para o presidente da Comissão, Ricardo Arioli, é necessário discutir a elaboração de um plano nacional de triticultura e, para isso, a CNA irá intensificar o debate com o governo e entidades do setor produtivo. “A próxima revolução agrícola no cerrado brasileiro será a do trigo”, disse.
Durante a reunião também foram discutidas ações da Confederação referente ao suprimento de insumos. O diretor técnico adjunto, Reginaldo Minaré, disse que a CNA está trabalhando para que, no curto prazo, não falte o fertilizante necessário para o abastecimento do produtor e, a médio e longo prazo, o Brasil possa produzir mais no território, tanto o NPK (nitrogênio, fósforo e potássio) quanto os demais fertilizantes.
(Fonte: CNA)