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Contrabando de gado coloca em risco áreas livres de febre aftosa

Débora Damasceno
Débora Damasceno
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#souagro| No começo deste mês, mais precisamente em 7 de abril, a Polícia Federal no Paraná e Santa Catarina deflagrou a Operação Boi Viajante, com foco no contrabando de gado vindo da Argentina para o Brasil. As investigações apontaram que aproximadamente 5,7 mil bovinos entraram ilegalmente no Brasil por meio de propriedades localizadas na divisa entre os dois países, o valor estimado ultrapassa os R$ 14 milhões.

Depois desta ação surgiram muitas dúvidas sobre a preocupação com doenças nestes animais trazidos para o Brasil sem nenhuma procedência, por isso fomos em busca de uma explicação sobre os riscos que esse tipo de contrabando pode trazer.

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Operação Boi Viajante. Foto: Adapar

 

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Operação Boi Viajante. Foto: Adapar

 

 FEBRE AFTOSA

Allan Pimentel, é Gerente de trânsito agropecuário da Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná). A primeira questão que surge, é sobre a febre aftosa, em maio do ano passado, o Paraná conquistou o reconhecimento internacional como área livre de febre aftosa sem vacinação.  Mas será que estes casos de ingresso ilegal de gado podem ameaçar isso de alguma maneira?

“A ameaça que pode ocorrer ao rebanho paranaense é um ingresso de animais que são vacinados e que por algum motivo podem carregar o vírus da febre aftosa sem manifestar a doença. Como o rebanho paranaense ele não possui a vacinação, a manifestação da doença irá ocorrer nos animais que não são vacinados que é o caso dos animais do Paraná. Só que não existe relato do vírus da aftosa estar circulando em rebanhos comerciais nas Américas, então não é somente o Brasil que está pleiteando a retirada de vacinação em todos os estados, mas todos os países estão se organizando em relação a isso porque não existe registro do vírus circulando aqui no Brasil. É importante ressaltar que o vírus da febre aftosa ele não está mais circulante nas Américas e a questão principal que o ingresso de animais vindo da Argentina ou de qualquer outra área onde há o controle da febre aftosa é feita através da vacinação, é a apresentação de uma não conformidade com relação a exigência por parte da OIE [Organização Mundial da Saúde Animal] em que não haja um ingresso de animais com status sanitários diferentes do Paraná.”, explica Allan.

 

Mesmo assim, esses casos de contrabando de gado aumentam a preocupação em perder o status internacional de área livre sem vacinação, gera alerta e as autoridades trabalham para evitar que isso aconteça: “A principal ameaça é na questão de a gente perder esse reconhecimento internacional. Mas para que isso não aconteça, o governo do estado tem dado meios para a Adapar conseguir fazer essa vigilância através de parcerias institucionais, com a Secretaria de Segurança, com as Polícias Militar e Civil, com o Governo Federal, com a Receita Federal, com a Polícia Rodoviária Federal, com a Polícia Federal. Então nós temos trabalhado de uma forma coordenada de coibir esse tipo de de ingresso”, detalha Allan.

 

OUTRAS DOENÇAS 

Só que além da febre aftosa, existem outras doenças que geram alerta sobre a entrada ilegal de gado no Brasil: “O principal problema que eu vejo com relação a esses animais que são trazidos da Argentina, é que
esses animais geralmente eles tem além da questão da gente não saber de onde veio, eles podem trazer em sua maioria outras doenças. Em especial, a tuberculose e a brucelose. O principal impacto que esses animais vindo da Argentina podem causar para o rebanho paranaense é um questionamento com relação a vigilância ativa que é feito nas fronteiras do estado. Lembrando que as fronteiras internacionais são de competência do Ministério da Agricultura. A Adapar faz uma vigilância ativa nessas áreas por justamente entender que a partir do momento que os animais ingressam no estado, o problema passa a ser do estado também”, explica Allan.

 

RISCOS DE CONSUMIR CARNE SEM PROCEDÊNCIA

Mas também há outros fatores preocupantes quando se fala em contrabando de gado. É que na Argentina, alguns medicamentos não autorizados no Brasil são utilizados nos rebanhos de lá e uma das preocupações é que nos animais que entram ilegalmente no Brasil, não tem como foi esse uso: “Esse é um problema que nós sempre nos deparamos quando nós aprendemos carne sem origem conhecida na região de fronteira. O principal risco que se tem é porque os animais na Argentina eles utilizam de forma legalizada, vamos dizer assim, anabolizantes que são proibidos no Brasil. Só que lá na Argentina existe um controle rigoroso para a questão do período de carência pra utilização desses anabolizantes. E quando você pega animais contrabandeados, você não tem como saber exatamente se esse período está sendo respeitado ou não. Então o risco com relação a carne é a pessoa que consumir, estar comendo carne com anabolizantes e com outros medicamentos que muitas vezes podem nem ser liberados aqui no Brasil. Fora o risco de que o animal que possa ter  fornecido esse essa carne, ou seja, o animal onde a carne se originou, pode ter alguma doença porque não foi inspecionada. Então pode ser um bovino que pode ter brucelose, tuberculose, alguma forma de tênia ou de outros parasitas e que a pessoa não tem conhecimento e acaba ingerindo. Então esses são os riscos de uma carne contrabandeada”, detalha Allan.

 

OUTROS ESTADOS TIVERAM ENTRADA ILEGAL DE ANIMAIS

Não é só o Paraná que tem registrado casos de contrabando de gado, em outras regiões também já tiveram flagrantes: “Todos os estados do Brasil que tem fronteiras internacionais, tem enfrentado problema com relação ao contrabando, são informações do Ministério da Agricultura. Isso porque a carne bovina no mercado brasileiro ela se valorizou demais devido principalmente as exportações que o país tem realizado. Então além de nós no estado do Paraná que é a área livre, foram registrados problemas de ingresso irregular de animais nos estado de Santa Catarina, no Rio Grande do Sul, em Rondônia, no Acre, ou seja, estados que também fazem parte do bloco livre. É importante ressaltar que a função da defesa é justamente isso, é coibir essa entrada de animais de áreas com diárias com status diferentes da do rebanho paranaense”, diz Allan.

REFORÇO NA FISCALIZAÇÃO

Para tentar evitar transtornos maiores e até mesmo a perda de área livre de febre aftosa, a Adapar tem unido forças para reforçar a fiscalização para que situações de contrabando de gado não se repitam: “Nós da Adapar juntamente com o MAPA e com as forças de segurança, temos realizado várias operações nos últimos doze meses. Desde o reconhecimento do Paraná como área livre, a Adapar tem atuado de forma sistemática em relação a isso, tanto que muitas vezes nós temos que até mesmo restringir o acesso de alguns produtores ao sistema, ou até mesmo de algumas localidades, ou seja, municípios, microrregiões para justamente nós investigarmos casos de ingresso irregular de animais ou de movimentação atípica de animais entre propriedades. Isso é uma rotina da  Adapar, não somente na área de fronteira internacional com a Argentina, mas em áreas que tem divisa com estados com status sanitário diferente como é o caso do Mato Grosso do Sul ou São Paulo. Isso faz parte da rotina de fiscalização. Não que todos os produtores estejam sobre suspeita, é que a Adapar está fazendo a rastreabilidade dos animais pra verificar se está tudo ok”, finaliza Allan.

(Débora Damasceno/Sou Agro)

 

(Débora Damasceno/Sou Agro)

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