Queda de preço estimula produtores a aderir a usinas solares

Fernanda Toigo

Fernanda Toigo

FOTO: FAEP

Os preços dos painéis fotovoltaicos despencaram em 2023, reduzindo os custos de implantação de usinas solares e o payback (tempo de retorno do investimento). Um levantamento da Infolink Consulting – principal consultoria que acompanha o mercado energético no mundo – apontou que os valores dos conjuntos recuaram 40% no ano passado. Com isso, a adesão às energias renováveis, que já era viável, tornou-se ainda mais atrativa. Esse cenário tem estimulado produtores rurais do Paraná a recorrer à energia solar.

Segundo a Infolink Consulting, os maiores fabricantes mundiais de painéis solares ampliaram a produção de componentes, mas a demanda não cresceu na mesma proporção. Em razão disso, há estoque de conjuntos, o que fez com que o preço caísse. Ao fim de 2023, as cinco principais indústrias do setor – todos sediadas na China – estavam com até 70% de sua capacidade de produção contratada. Ou seja, os conjuntos fotovoltaicos produzidos não foram, integralmente, absorvidos pelo mercado.

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Isso não significa que a conjuntura está atrelada à estagnação do setor. Ao contrário, já que a demanda por módulos fotovoltaicos aumentou 34% ao longo de 2023. A questão é que as indústrias investiram pesado nos últimos anos, esperando uma demanda maior do que a que se consolidou. Nesse contexto, a expansão da fabricação foi bem além da procura.

“A indústria superestimou o crescimento do mercado. Em razão disso, estamos com altos estoques de equipamentos, o que ocasionou a queda nos preços. Com isso, se abriu uma janela de oportunidade. O produtor rural que ainda não fez os investimentos deve aproveitar, porque as condições implicam um bom negócio”, sugere o técnico Luiz Eliezer Ferreira, do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR. “Esperamos uma nova rodada de crescimento de projetos de energia renovável no campo”, completa.

A consultoria Infolink projeta que a queda dos preços deve impulsionar em até 20% a implantação de usinas. No Paraná, o aumento já é mais expressivo. A procura por financiamento por meio do programa Paraná Energia Renovável (RenovaPR), do governo estadual, cresceu 35% no primeiro trimestre de 2024, em comparação com o mesmo período do ano passado. Só neste ano, entre 1º de janeiro e 15 de abril, 462 projetos foram financiados pelo programa, totalizando R$ 44,5 milhões.

“A mudança de comportamento dos consumidores por causa da queda dos preços é bastante perceptível. Chegamos ao final do ano passado com alguma demanda, mas nada acentuada. A partir do início deste ano, vimos que aumentou de forma significativa o número de projetos. Os produtores estão procurando, aproveitando essa oportunidade”, diz Herlon Almeida, coordenador do RenovaPR.

O produtor rural Edmilson Luís Geisel, de Toledo, na região Oeste do Paraná, aderiu às energias renováveis em 2017, com vistas a reduzir os custos na propriedade, que se dedica à avicultura e à suinocultura. “Energia é como um aluguel. Você gasta um dinheiro que não volta. Então, lá atrás, vimos que valia a pena investir nas usinas, que se pagam com a economia na conta de luz”, afirma.

Propriedade de Edmilson Luís Geisel ampliou o número de usinas solares

De lá para cá, o negócio cresceu. Hoje, a propriedade contém nove aviários, com capacidade total de alojar 230 mil frangos, e três unidades de suinocultura voltada à fase de crechário. Como a primeira usina já “se pagou” a partir da economia gerada, Geisel financiou, no ano passado, a implantação de outras duas usinas fotovoltaicas. Ele calcula que, caso não gerasse a própria energia, gastaria em torno de R$ 20 mil por mês.

“Hoje, atividades como a avicultura trabalham com a margem apertada. O produtor precisa reduzir seus custos para não tornar o negócio inviável. E a energia renovável entra nessa conta. Não dá para pensar em se dedicar à avicultura sem ter uma usina”, garante Geisel. “Eu estou contente com as usinas da nossa propriedade. Recomendo muito. Quem ainda não tem, precisa ter. Ainda mais agora, que o preço está caindo”, acrescenta.

Expansão renovável

Ao longo dos últimos sete anos, o Paraná deu um salto no uso de energias renováveis no campo. Em 2017, havia apenas 47 usinas instaladas em propriedades rurais do Estado – 40 fotovoltaicas e sete de biogás. Hoje, são mais de 31,5 mil usinas instaladas em propriedades rurais, com capacidade de gerar 682,9 mil quilowatts (kW) de potência.

O investimento na geração própria se justifica por inúmeros fatores. A energia elétrica é um dos principais insumos na produção agropecuária, principalmente em atividades como a avicultura, piscicultura e bovinocultura de leite. Além disso, ao longo dos últimos seis anos, o custo da energia no meio rural teve uma alta acentuada, em razão do fim de subsídios federais e da extinção do programa estadual Tarifa Rural Noturna – que previa a redução de 60% na energia consumida entre 21h e 6h, em propriedades rurais.

Há mais de uma década, o Sistema FAEP/SENAR-PR vem desenvolvendo ações para levar informações sobre energias renováveis a produtores rurais e para estimular o uso dessas fontes no campo. Em 2017, a entidade organizou viagens técnicas, levando mais de 160 agricultores e pecuaristas para conhecer propriedades em países como Itália, Áustria e Alemanha, que utilizavam usinas solares e/ou de biogás.

A partir das viagens internacionais, o Sistema FAEP/SENAR-PR promoveu um intenso trabalho de difusão de informações técnicas qualificadas aos produtores rurais sobre a adoção de sistemas de energias renováveis, por meio de eventos técnicos e palestras. Em 2022, por exemplo, foram promovidos seminários em cinco regiões do Estado, que tiveram a participação de mais de 600 pessoas.

(Com Sistema/FAEP)

Autor: Fernanda Toigo

Fernanda Toigo

Fernanda Toigo. Jornalista desde 2003, formada pela Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Cascavel. Iniciou sua carreira em veículos de comunicação impressos. Atuou na Assessoria de Comunicação para empresas e eventos, além de ter sido professora de Jornalismo Especializado na Fasul, em Toledo-PR. Em 2010 iniciou carreira no telejornalismo, e segue em atuação. Desde 2023 integra a equipe de Jornalismo do Portal Sou Agro. Possui forte relação com o Jornalismo especializado, com ênfase no setor do Agronegócio.

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