Foto: Reprodução/Assessoria

A conta não fecha: depois de altos custos de produção preço do milho está abaixo dos R$ 50

Débora Damasceno
Débora Damasceno

#souagro| Não tem jeito, nas últimas semanas a cotação do milho tem tirado o sono do produtor rural. Mas não é para menos, só nesta semana, no Paraná por exemplo, os preços estão abaixo do R$ 50 operando em uma média estadual de R$ 49.

Se voltarmos ao ano passado, essa queda fica ainda mais evidente, pois o  agricultor comemorava cotações acima dos R$ 120 em alguns períodos: “O que nós temos para falar de preço aqui dentro que deveremos ter em razão da nossa grande safra preços internos balizados pela paridade de exportação. Se nós temos preços de exportação caindo por causa da grande oferta global e pela boa expectativa da safra norte americana. Os preços internacionais se acomodaram, ao mesmo tempo, estamos tendo um período de câmbio de cinco ou até abaixo de 5, muito inferior ao ano passado. Isso acaba tendo reflexos aqui dentro”, explica Camilo Motter, analista de mercado.

 

AS CAUSAS

Pois bem, já falamos que uma série de fatores tem causado essa queda desenfreada, mas é sempre bom recordar, os motivos que trouxeram os preços até aqui.

“Nós estamos vivendo hoje o que poderíamos chamar de uma tempestade perfeita. Então, vários fatores combinados acabaram pressionando os preços do milho e da soja e de várias commodities. Aí perdemos de 30 a 40% do seu valor, ou até mais, no caso do milho, mais de 40% de perda do seu valor desde o início do ano para cá. No caso do milho a gente tem uma combinação de fatores negativos. Uma safra de verão que chegou a 28 milhões de toneladas há números ainda chegam até 30 milhões. E o caso da safrinha já se fala em entre 100 e 102 milhões de toneladas. Portanto, na combinação entre as duas safras, vamos ter um recorde ao redor de 130 milhões de toneladas. Lá fora também o plantio da safra se encaminha muito até agora, eles estão em 80 a 90% da safra de verão já semeada e caminha pelas projeções iniciais, para uma produção recorde entre 385 e 390 milhões de toneladas. Isso significa mais estoques ao final de cada temporada. Os preços internacionais, com isto se acomodaram muito e vêm se acomodando também sob a perspectiva de grande safra americana. Mas também porque a demanda pelo produto norte americano está muito aquém do esperado. Na mesma época do ano passado já tinham embarcado mais de 40 milhões de toneladas de milho e neste ano estamos com cerca de 25 milhões de toneladas embarcadas até o momento”, detalha Camilo.

ALTO CUSTO DE PRODUÇÃO X COTAÇÃO BAIXA

A questão do custo de produção é uma grande preocupação que veio a pandemia e a guerra da Ucrânia com a Rússia. Então a expectativa era de que esse alto custo de produção fosse suprido agora nesta safra, porque no ano passado, se a gente dar uma olhada para trás, os preços estavam acima dos R$ 100  e agora chegar abaixo dos R$ 50 realmente é uma grande preocupação.

“Os custos de produção da última safra ficaram muito, muito acima do esperado e muito, muito acima da média histórica. Especialmente por causa da invasão da Rússia na Ucrânia, que elevou o preço dos fertilizantes e também do agroquímico. Mais fertilizantes tiveram alta duas a três vezes acima da média histórica dos fertilizantes. Então, o custo de produção ficou extremamente alto na última temporada, paralelamente, também o agroquímico e as sementes foram produzidas também num período de conflito de preços muito mais altos. E agora para a próxima temporada os custos caem bastante, é uma preocupação grande”

PROBLEMAS LOGÍSTICOS
“Olhando para frente falar em preço, com a entrada da safra brasileira no mercado, nós podemos ter aqueles velhos problemas logísticos, que nós temos sempre que é falta espaço nos armazéns por tanto necessidade de vendas, com uma certa celeridade para desocupar e abrir espaço para avançar com a colheita. Esse é um ponto. O segundo ponto é que, numa situação dessa de logística e logística atrofiada, nós vamos ter elevação do preço dos fretes e lembrando que também ainda temos dado atraso nos embarques de soja. Temos a competição pela exportação também com a soja. Então a gente vai ter um período em que o milho vai entrar no mercado, vamos precisar exportar, mas ainda temos grandes volumes de soja para serem exportados. Eu acredito que esse ano a gente vai avançar com outubro e novembro, ainda com embarques de soja e, claro, com o milho tentando ganhar espaço nos armazéns portuários e vamos ter esse conflito que sempre acaba pressionando ainda mais os preços”, disse Camilo.

SAFRA AMERICANA

“Do outro lado, temos que monitorar o clima norte americano. É um modelo de El Niño. Mas as condições climáticas para junho e julho indicam temperaturas em elevação bastante acentuada no auge do verão dele e também possibilidades de escassez de chuvas. Isso não está descartado e a gente pode ter ralis climáticos bem significativos. E eu diria que altas lá fora vão ser repassadas de imediato aqui dentro”, detalha Camilo.

EXPECTATIVAS NÃO SÃO TÃO POSITIVAS

Ou seja, as notícias não são tão favoráveis para o produtor. A gente depende do clima e da cotação para que esse preço volte a subir. Mas dificilmente a gente vai ter cotações como no ano passado.

“Num mercado de demanda relativamente previsível, como temos. A única forma de ver a evolução dos preços é com alguma contenção na oferta e essa contenção poderá vir se houver problema climático. Agora temos que acompanhar a safra norte americana, porque em termos de Brasil ela evoluiu muito bem e a safra está vindo cheia”, finaliza o analista de mercado.

 

(Débora Damasceno/Sou Agro)

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