Novo sistema de cultivo de erva-mate pode aumentar produtividade em até 160%
Um novo sistema de cultivo de erva-mate, denominado Cevad Campo, é capaz de aumentar em até 160% a produtividade em apenas quatro anos após o plantio, em condições de superadensamento formado por mais de 25 mil plantas por hectare. Tradicionalmente, a espécie é cultivada em áreas naturais, em sistemas agroflorestais ou em monocultivos com espaçamentos de plantio em baixa densidade (que variam de 1,9 mil a 2,8 mil plantas por hectare). Outro diferencial do Cevad Campo é que utiliza maior quantidade de nitrogênio no plantio, proporcionando incremento de 86% na produtividade total de folhas e grande quantidade de ramos e folhas jovens, o que impacta no aumento de biomassa e abre novos mercados para a cultura.
O novo sistema é resultado da tese de doutorado defendida pela aluna Mônica Gabira, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), sob orientação do pesquisador Ivar Wendling, da Embrapa Florestas (PR). Segundo o também pesquisador da Unidade José Mauro Moreira, a avaliação econômica realizada sobre o Cevad Campo mostrou que, inicialmente, a implantação exige um investimento maior devido ao grande número de mudas necessárias, mas, após quatro anos, começa a gerar fluxo positivo de caixa e, após oito anos, retorna o capital investido na cultura, além de apresentar um potencial de ganho líquido anual de até oito vezes o retorno do sistema convencional.
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O experimento de cultivo em campo foi implantado em 2018, em General Carneiro, PR, onde foram avaliadas três densidades de plantio: com 9.090, 13.333 e 25 mil plantas por hectare – e cinco doses de adubo – 0%, 50%, 100%, 200% e 300% da dose recomendada de nitrogênio. Os dados foram avaliados em cinco colheitas subsequentes realizadas de maio de 2019 a maio de 2021, com períodos de rotação reduzidos.
O Cevad Campo é uma tecnologia de cultivo que já está pronta para ser utilizada pelos produtores rurais. Novas pesquisas, em parceria com a UFPR, continuam sendo realizadas para aprimorar o sistema. “Os estudos têm o intuito de melhorar o sistema e avaliá-lo a longo prazo, voltados para o manejo nutricional e ao cultivo, este com foco no adensamento entre as plantas”, explica Wendling.
Ciclos curtos de colheita, mais folhas novas e mecanização
Além da alta produtividade, o superadensamento do Cevad Campo reduziu significativamente o tempo entre as colheitas, que no método tradicional é de 18 a 24 meses. No novo sistema, a colheita pode ser feita a cada 3 a 5 meses, o que significa uma diminuição média de 80% do tempo de rotação. Segundo os pesquisadores, a redução no tempo entre as colheitas possibilita aumentar a proporção de folhas novas. Por ser mais adensado e com plantas de menor porte, o sistema possui elevado potencial de mecanização das colheitas, otimizando o uso da mão de obra, cada vez mais escassa no meio rural.
Adubação ajustada
Além de avaliar os efeitos trazidos com o superadensamento de plantio, o estudo avaliou o resultado de cinco doses de nitrogênio e seu impacto na produtividade (produção de biomassa–folhas e galhos finos) e nos compostos bioquímicos das folhas de erva-mate. Quanto à produção de biomassa, os melhores resultados foram obtidos com a aplicação do dobro da dose de nitrogênio normalmente utilizada, o que proporcionou incremento de 86% na produtividade total de folhas, comparado ao plantio com a aplicação da dose convencional da substância. “O nitrogênio é um nutriente fundamental para o crescimento das plantas; portanto sua disponibilidade em quantidades adequadas durante o ciclo de produção possibilita maior produtividade da erva-mate. No entanto, é importante que não haja excessos, pois o fertilizante pode causar toxidez às plantas e contaminação do solo e de recursos hídricos, além do alto custo ao produtor”, explica a autora da tese.
Outro foco do trabalho foi avaliar a influência das densidades de plantio e das doses de nitrogênio nos teores de metilxantinas (cafeína e teobromina) e compostos fenólicos em plantas de erva-mate. “Nós observamos que o adensamento do plantio e as doses de nitrogênio não alteraram os teores de compostos bioquímicos nas plantas. No entanto, por possibilitar colheitas mais frequentes, nesse sistema nós temos maiores proporções de folhas jovens nas colheitas, e essas folhas apresentam maiores teores de compostos bioquímicos, o que é muito interessante para indústrias que buscam compostos específicos que são encontrados na erva-mate”, afirma Gabira.
Com Embrapa