Brasil pode ser autossuficiente de trigo em 10 anos afirma pesquisador da Embrapa
#souagro | O desafio é ultrapassar as quase 13 milhões de toneladas de trigo consumidas hoje no país, atualmente 50% importadas. Os Pesquisadores da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) afirmam que o Brasil pode se tornar autossuficiente na produção de trigo para consumo em até dez anos. Eles colheram significativos resultados em suas pesquisas no campo e os apresentaram na audiência pública promovida na última quinta-feira (02), na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA).
Hoje, 90% do trigo é produzindo na região sul do Brasil, porém Roraima, Ceará, Piauí e Maranhão são alguns dos estados que aparecem como novas fronteiras do trigo. Segundo o chefe-geral da Embrapa Trigo, Jorge Lemainski, 19% do consumo estão localizados na Região Sul; 42% na Região Sudeste; 5,5% na Região Centro-Oeste; 22% na Região Nordeste; e 10% na Região Norte, em um total de 12,7 milhões de toneladas demandados.
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“Estamos dedicando todo o esforço para o aumento da área de cultivo. Há uma fronteira agrícola a ser explorada nesse sentido. Quando tivermos rentabilidade, o produtor haverá de aumentar sua produção”, disse Lemainski.
Foram destinados R$ 500 mil em emenda orçamentária para Embrapa. “Os pesquisadores haverão de chegar a resultados excepcionais, dando aos produtores rurais condições de implantarem a cultura do trigo, expandir. Temos um potencial fantástico, temos certeza que o resultado será o esperado”, afirmou Chico Rodrigues (União-RR).
Pesquisador em trigo da Embrapa Cerrado, Júlio Albrecht mostrou que a área de produção do trigo está migrando para a região do Cerrado. “Temos, no Cerrado, 204 milhões de hectares e podemos explorar sem derrubar árvores, só cultivando em regiões degradadas. A Embrapa sempre acreditou no trigo nessa região. Temos condições de chegar a autossuficiência e até a exportação de trigo em menos de 10 anos.”
Em termos de custos de importação para o Brasil, o trigo só perde para o petróleo, segundo Albrecht. A aposta é congregar genética, pesquisa e produtores qualificados.
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Além da demanda, o trigo é bem-vindo ao sistema de produção por ser uma planta supressora das doenças de solo e de plantas daninhas, além de reduzir a infestação de nematoides (vermes), fornecer palhada para o solo e tornar o sistema de produção mais saudável.
“O Cerrado pode se tornar uma terceira ou segundo produtora nacional de trigo. A produção ocorre na entressafra, estamos próximo do centro consumidor e hoje colhemos um dos melhores trigos do mundo para a panificação. Também estamos conseguindo as melhores produtividades”, expôs Albrecht.
A média nacional é de 2,8 toneladas por hectare, mas, em 2021 já houve recorde com um produtor nacional obtendo 9 toneladas.
Chefe-geral da Embrapa Roraima, Edvan Alves Chagas confirmou que o estado tem mais de 2 milhões de hectares aptos para a produção de grãos e que, mais recentemente, há uma demanda para a produção de trigo.
O estado enfrenta alguns desafios, como baixas latitude e altitude, altas temperaturas e umidade relativa do ar. Contudo, as pesquisas da Embrapa apontam bons resultados na produção do trigo. “Acreditando na ciência, e respaldando-nos nas pesquisas da Embrapa, começamos os primeiros ensaios com trigo. Os resultados foram muito animadores e as cultivares testadas mostraram excelente resultado, com três toneladas por hectare, em um ciclo de 66 dias. Isso realmente é fantástico e nos permite fazer duas safras com esse trigo. Resultados mostraram ainda que a farinha oriunda dos grãos colhidos em Roraima apresenta uma boa qualidade para a panificação”, disse Chagas.
O pesquisador acredita ainda que com o cultivo do trigo será possível atrair indústrias voltadas para a moagem. É preciso também, segundo Chagas, inserir o cultivar no sistema de produção e estudar outras finalidades para seu uso, além do consumo humano. “Temos grandes desafios ainda, por isso, o apoio de todos os elos envolvidos na cadeia é extremamente importando para conseguirmos seguir adiante”, expôs.
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Em todo o mundo são colhidas hoje 779 milhões de toneladas de trigo. A invasão da Ucrânia pela Rússia — dois grandes produtores do grão — mostrou que pode haver desabastecimento diante da paridade que há hoje entre produção e consumo, sem excedentes significativos .
“Rússia e Ucrânia respondem por 30% da produção e o contexto de guerra influencia, sim, nos preços que serão repassados. Esses maiores preços são um atrativo para aumento da produção no Brasil”, afirmou o assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Tiago Pereira.
Na atual safra, segundo Pereira, o Brasil alcançou a marca de 7,7 milhões de toneladas de trigo e para a próxima deve bater em 8 milhões. Ainda são importados 50% do que se consome no país, sendo que desse montante 80% são provenientes da Argentina.
O aumento da produção nacional tem de vir acompanhada da industrialização, segundo o assessor da CNA, assim como da organização de mercado e logística. O país tem hoje 165 moinhos de trigo em atividade.
(Sou Agro com Agência Senado)
(Foto: pexels)