Pó de rocha é alternativa para diminuir uso de fertilizantes

Débora Damasceno
Débora Damasceno

#souagro| Nós falamos aqui no portal Sou Agro que o pó de rocha tem se tornado cada vez mais popular e disputado pelos produtores rurais, por conta disso, nós conversamos com um produtor que já utiliza o produto e também com um pesquisador do assunto. A ideia é justamente esclarecer aos produtores interessados em utilizar o pó de rocha, quais são os benefícios e quando o produto deve ser utilizado.

Para explicar de uma maneira bem simples, os pós de rocha são de fato o que o próprio nome diz, é pó retirado das pedras. A diferença é que cada região brasileira tem rochas com suas próprias características. Basicamente essas pedras são moídas e se transformam em um pó fino, e esse pó é cheio de nutrientes que auxiliam uma melhora na qualidade do solo onde é aplicado.

Eder de Souza Martins é pesquisador da Embrapa Cerrados e especialista em agrominerais regionais, ou seja, materiais utilizados na agricultura para fazer o manejo da fertilidade do solo a partir de rochas moídas, especialmente as mais ricas em silício. O pesquisador afirma que o papel principal de produtos como o pó de rocha, é aumentar a produtividade do solo e diminuir o uso de fertilizantes: “Esses insumos o mais importante deles é aumentar a eficiência do uso de nutrientes e melhorar o solo. Isso significa também que a gente vai economizar com fontes solúveis, essas que a gente importa atualmente 85% do uso dessas fontes de alta solubilidade a NPK, nós importamos e a gente precisa de várias estratégias pra aumentar a eficiência e diminuir a necessidade da importação desses insumos e uma das formas é usar esses pós de rocha ricos em silício e também em vários nutrientes. Então ainda precisa de muita pesquisa e muito investimento no setor para o desenvolvimento desses insumos”, detalha o pesquisador.

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 Eder de Souza Martins – pesquisador da Embrapa Cerrados e especialista em agrominerais regionais

 

Atualmente os trabalhos de pesquisa sobre os pós de rocha estão no ponto de levar informações de recomendação do uso pelos produtores: “Para isso nós estamos montando uma rede nacional para o estudo dessas fontes em várias condições de solo e também de sistemas de produção agrícola. Uma vez que essas fontes elas são de liberação lenta é necessário estudos longos para se conhecer o que a gente chama de efeito residual e as mudanças que acontecem no solo. Nós já sabemos que esses insumos melhoram o solo, melhoram as características químicas físicas e biológicas e inclusive tem um potencial de aumentar o sequestro de carbono no solo, melhorando o solo inclusive do ponto de vista de eficiência de uso da água e de nutrientes”, detalha Eder.

 

Segundo Eder, desde a regulamentação dos remineralizadores que aconteceu em 2016, vários produtos registrados, mas é preciso crescer ainda mais: “Com essa normatização nós temos atualmente 30 produtos registrados no Ministério da Agricultura que alcançaram mais de um 1,5 milhão de toneladas de produção em 2020. Com a previsão de 3 milhões de toneladas em 2021. Atualmente existe uma necessidade de desenvolvimento desse desses novos produtos pelo aumento da demanda. Já alcançamos 5 milhões de hectares no país de utilização de forma contínua desses produtos e para atender todo o mercado é necessário 75 milhões de toneladas de produção anual. Isso significa um investimento que precisa ser realizado em todo o país para chegar nessa produção para atender a todos os solos agrícolas brasileiros”, detalha Eder.

OS RESULTADOS NA PRÁTICA

Para quem utiliza o pó de rocha na propriedade com a proposta de trazer os nutrientes das pedras novamente ao solo, esta é uma solução de bons resultados: “Como produtor eu já venho utilizando há algum tempo as rochas basálticas que são das pedreiras daqui que já estão entendendo que esse é um nicho de mercado e que pode produzir. Antes eram extremamente baratos, hoje não são mais tão baratos, mas antigamente era quase que de graça. Mas tem sido uma excelente alternativa, uma ferramenta para os produtores que possam estar utilizando sem grandes alterações nas produtividades que isso é importante também”, detalha Juliano Cavalca, produtor rural e empresário.

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Juliano Cavalca, produtor rural e empresário

 

Segundo o produtor, para que o pó de rocha tenha bons resultados no solo ele precisa ser extremamente fino e atualmente, ele utiliza produtos vindos de várias regiões do país: “A gente vem utilizando o pó de rocha basáltica que vem de outras regiões do Brasil, que tem um percentual de potássio alto. Lembrando que o pó de rocha de potássio com característica de rocha potássica ele não tem cloro, pois o cloro é muito maléfico pra agricultura convencional porque ele acaba com a vida cabiótica do solo. E também temos usado algumas rochas com fonte de fósforo como uma opção”, explica Juliano.

 

O produtor explica que há questionamentos sobre as plantas não absorverem os nutrientes, mas é preciso fazer todo um trabalho de manejo para que o produto tenha a eficácia prevista: “Ela não está na forma como a planta absorve, então a gente lança mão do uso de microrganismos, fungos, que daí entra a questão da multiplicação onfarm, ou mesmo trazer isso através de produtos comerciais que também vendem e que a gente pode estar disponibilizando. Existem bactérias hoje que são responsáveis para disponibilizar o fósforo por exemplo. Né? Então é isso. Tem muitos produtores que não usam mão só disso, diminuem a questão da adubação, usam o adubo convencional e usam essa questão desse adubo através do pó de rocha”, finaliza Juliano.

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Uso do pó de rocha em uma das propriedades de Juliano

 

É importante ressaltar que os pós de rocha não trabalham sozinhos e a eficácia só será possível atrelada a uma série de fatores: “Para que essas fontes sejam eficientes é necessário que tenham sistemas agrícolas com elevada atividade biológica, tanto com o uso de bioinsumos, como também do próprio sistema produtivo, mantendo o solo coberto e fazendo rotação de culturas e usando plantas de cobertura”, finaliza o pesquisador Eder de Souza Martins.

(Débora Damasceno/Sou Agro)

 

Fotos: Arquivo pessoal dos entrevistados

(Débora Damasceno/Sou Agro)

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