“A conta não fecha”, desabafa produtora de leite
#souagro| Os produtores de leite estão enfrentando uma situação complicada no setor. Com os custos altos de produção, quem trabalha com gado leiteiro precisa se desdobrar para que a conta feche, e mesmo assim, muitas vezes ela não fecha.
Para se ter uma ideia na última reunião do Conseleite-PR, o valor de referência do litro na parcial de março fechou em R$ 2,041. O valor supera em R$ 0,193 os R$ 1,847 de fevereiro, ou seja, uma alta de 10,47%. Mas para os integrantes do Conselho essa variação elevada reflete especialmente a diminuição no volume disponível de leite causada pelos altos custos de produção e também a redução no poder aquisitivo do brasileiro com as altas taxas de inflação e de juros.
Todos os lácteos analisados pelo Conseleite-PR na parcial de março comparados com fevereiro tiveram aumento no valor de referência. As maiores elevações foram constatadas no muçarela (11,5%), leite spot (11,4%), UHT (10,9%) e iogurte (10,4%). Os menores reajustes registrados estão na manteiga (2,5%), leite pasteurizado (2,6%) e queijo parmesão (3,1%). Mas isso não significa que o cenário esteja favorável.
“Precisamos olhar com cuidado para esses números, pois eles refletem uma condição atípica de mercado. Vivemos um período de queda na oferta de leite, pois temos custos de produção recordes. Na outra ponta, a população perde poder aquisitivo para a inflação em alta e o consumo diminui. Ainda não temos horizonte para o fim do que os analistas estão chamando de ‘tempestade perfeita’”, resumiu Ronei Volpi, presidente da Comissão Técnica de Bovinocultura de Leite da FAEP.
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Taynara de Souza Pereira, é um exemplo que enfrenta esses desafios diariamente, ela é produtora de leite e mora em Pitanga no Paraná: “Sou mãe, sou esposa, sou dona de casa e sou produtora de leite. Há sete anos que eu trabalho com as vacas no sistema free stall (Free Stall é o nome dado a um método de criação de gado em confinamento, principalmente na produção de leite). Eu com meu marido também trabalhamos na propriedade, meu marido arrumou um serviço na cidade e na parte da manhã ele consegue me ajudar com o trato e a limpeza do barracão. E na parte da tarde sou eu quem faço todo o serviço”, detalha Taynara.
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Segundo a produtora, os últimos anos foram os mais difíceis já que tudo ficou mais caro e o preço pago por quem produz o leite está mais baixo: “Dois anos pra cá que foi quando começou a pandemia que as coisas estão ficando mais difíceis. O preço da ração, da semente e insumos está muito caro e o preço do leite pago ao produtor está muito baixo. Então no final do mês a conta não fecha. Sempre estamos trabalhando no vermelho”, diz a produtora.
Taynara afirma que outro agravante foi que a população diminuiu o consumo de leite e derivados, dificultando o trabalho dos produtores. Por isso faz um pedido para que a população retome o consumo: “No mercado, o leite e seus derivados é um preço bom, mas para nós produtores que produzimos está muito baixo. Eu acho que é por conta da desinformação que a população não consome leite e seus derivados.
Mas se você estudar e saber mais um pouquinho sobre, vai ver que o leite é rico em nutrientes e faz muito bem pra saúde. Leite é vida, leite é saúde, bebam mais leite”, finaliza Taynara.
(Débora Damasceno/Sou Agro – dados Faep)