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Custo alto da produção leiteira é um grande desafio do setor

Débora Damasceno
Débora Damasceno
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O último dado fechado pelo Cepea mostra que o preço do leite captado em janeiro e pago aos produtores em fevereiro chegou a R$ 2,1397/litro na “Média Brasil” líquida, ligeira alta de 0,43% em relação ao mês anterior, mas queda de 2,7% frente ao mesmo período de 2021, em termos reais (valores foram deflacionados pelo IPCA de fevereiro/22). Pesquisas ainda em andamento do Cepea apontam que, para os meses seguintes, o ritmo de alta pode se intensificar, tendo em vista o aumento dos custos de produção e o enxugamento da oferta.

De fevereiro a março, agentes do setor relataram diminuição dos estoques de derivados lácteos e grande competição entre as indústrias para a compra de matéria-prima. O acompanhamento do Cepea do mercado spot (leite negociado entre indústrias) mostrou expressiva alta nos preços nas últimas quinzenas. Em Minas Gerais, o valor médio saltou de R$ 2,13/litro na primeira quinzena de fevereiro para R$ 2,93/litro nesta segunda metade de março, valorização de 37,8%. Quando consideradas as médias mensais, o avanço no preço do leite spot mineiro foi de 20,2% de fevereiro para março

É importante mencionar que esse contexto de oferta limitada também está relaciona à manutenção, até fevereiro, da tendência de queda nas importações e de aumento nas exportações de lácteos.

 

A maior disputa pela compra de leite cru, por sua vez, está associada a um conjunto de fatores que vem limitando a produção. De um lado, a retração da demanda no último trimestre do ano passado levou a consecutivas quedas nos preços do leite ao produtor, desencorajando investimentos na atividade. Ao mesmo tempo, os custos de produção permanecem alta, corroendo as margens do produtor. Não se pode deixar de mencionar também que os efeitos do fenômeno La Niña, com fortes chuvas no Sudeste e estiagem no Sul, impactaram negativamente a qualidade das pastagens e da silagem, prejudicando a alimentação do rebanho e adiantando o período de entressafra da produção. Nesse contexto, os investimentos na pecuária leiteira têm sido comprometidos, com perda no potencial produtivo do País.

Com custos de produção em alta, as indústrias de laticínios forçaram o repasse do aumento do preço da matéria-prima nas negociações com os canais de distribuição. A pesquisa do Cepea mostra tendência de valorização dos lácteos negociados pela indústria com o atacado do estado de São Paulo em fevereiro e em março. Apesar de a demanda ter absorvido essas altas no período, os agentes se preocupam com a sustentação desse movimento, tendo em vista a perda no poder de compra do consumidor brasileiro.

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Valorização no campo eleva preços dos derivados

Segundo pesquisas realizadas pelo Cepea com o apoio da OCB (Organização das Cooperativas Brasileiras), as cotações do leite UHT e do leite em pó (400g) reagiram 5,8% e 1,4%, respectivamente, no mercado atacadista de São Paulo, com médias de R$ 3,40/litro e R$ 25,10/kg em fevereiro. Em contrapartida, os preços do queijo muçarela recuaram 0,3% de janeiro a fevereiro, fechando com média de R$ 24,29/kg. Na comparação com fevereiro/21, os valores do leite longa vida, do leite em pó e do queijo muçarela aumentaram 8%, 6,8% e 1,3%, na sequência, em termos reais (valores deflacionados pelo IPCA de fevereiro/22).

De acordo com colaboradores do Cepea, a valorização dos derivados lácteos esteve atrelada à alta do preço da matéria-prima, por conta dos elevados patamares dos custos de produção. Além disso, a oferta limitada no campo impulsionou a concorrência entre os laticínios para assegurar a compra do leite.

 

Ademais, agentes relatam estoques enxutos para o período, o que também influenciou no cenário de alta nas cotações dos lácteos. No entanto, a preocupação está na ponta final da cadeia. A perda do poder de compra dos brasileiros pode reduzir as vendas e até mesmo inverter o movimento de alta, caso a demanda não consiga absorver os aumentos do mercado.

MARÇO – Pesquisas ainda em andamento indicam forte aumento nos preços do leite UHT, do queijo muçarela e do leite em pó (400g) nesta parcial de março (de 1º a 15/03), com médias de R$ 3,60/litro, R$ 25,11/kg e R$ 25,76/kg, respectivamente – avanços de 6%, 3,4% e 2,6% frente a fevereiro/22. De acordo com colaboradores do Cepea, a alta está atrelada à menor oferta de leite no campo, ao consequente aumento no preço da matéria-prima e aos estoques enxutos dos laticínios. Nesse cenário, a expectativa é de patamares elevados de preços nos próximos meses, que serão de entressafra.

 

Exportações de lácteos dobram em um ano

Diante da demanda enfraquecida no mercado doméstico, os embarques nacionais de lácteos dobraram de fevereiro/21 para fevereiro/22, totalizando 4,5 mil toneladas neste ano. Na comparação com janeiro/22, a alta foi de 31,6%. Apesar da oferta limitada no campo, os preços em patamares elevados atraíram produtores para negociar com o mercado internacional.

Os embarques de leite em pó, que tiveram participação de 37% do total exportado em fevereiro, aumentaram de forma bastante expressiva em relação ao mesmo período de 2021, somando 1,7 mil toneladas. O principal destino do derivado foi a Argélia, que adquiriu 91% do total. Com representação de 22% da quantidade embarcada, o volume de leite condensado quase triplicou em um ano, totalizando 1 mil toneladas. A Venezuela e os Estados Unidos foram os principais importadores desse lácteo, representando 38% do volume.

 

Em contrapartida, as importações brasileiras diminuíram 53% frente ao mesmo período de 2021 e 18,7% em relação a janeiro/22, totalizando 7,1 mil toneladas. O volume de leite em pó, que registrou participação de 41% das aquisições, foi de 2,8 mil toneladas em fevereiro, quedas de 43% em relação ao mês anterior e de 69,3% na comparação com fevereiro/21. Os principais países que venderam o produto ao Brasil foram a Argentina (63,5%), o Uruguai (34,7%) e o Paraguai (1,7%).

Apesar do recuo das importações totais, o soro de leite e a manteiga se destacaram em fevereiro, com altas de 50% e 140% em comparação ao mês anterior, respectivamente, somando 2,3 mil toneladas e 266 toneladas. Com a menor oferta de leite no mercado interno, a proporção de gordura disponível também diminuiu, aumentando a importação de manteiga.

BALANÇA COMERCIAL – Em fevereiro, a balança comercial de lácteos atingiu o menor patamar desde abril/21 (US$ 11,4 milhões), fechando com déficit de US$ 11,7 milhões, redução de 45,6% em relação ao mês anterior. Em volume, o déficit chegou a 2,6 mil toneladas, 51,3% menor frente a janeiro/22.

 

Ainda em alta, custos seguem pressionando as margens da atividade leiteira

O COE (Custo Operacional Efetivo) da pecuária leiteira registrou novo avanço em fevereiro, de 0,76% na “Média Brasil” (BA, GO, MG, PR, RS, SC e SP). Assim, em 2022, os custos de produção já acumulam alta de 2,39%, contexto que segue pressionando a margem da atividade leiteira nacional.

Os grupos de custos que mais pesaram sobre os custos no segundo mês do ano foram os de “sementes forrageiras”, com elevação de 2,69%, de “suplementos mineiras” (+1,58%), de “adubos e corretivos” (+1,34%) e os de “concentrados” (+0,87%). Dentre os estados acompanhados pelo Cepea, os maiores incrementos nos custos foram registrados em São Paulo (de 3,42%) e no Rio Grande do Sul (de 2,39%).

Para os suplementos minerais, que podem representar até 4% dos custos de produção das propriedades leiteiras, os aumentos sucessivos nos preços dos fretes e dos fosfatos continuam sendo os responsáveis pelos reajustes nas cotações do insumo nas casas agropecuárias. Nos estados pesquisados, a Bahia apresentou maior valorização da suplementação mineral, com alta de 8,65%, seguido por Santa Catarina, com elevação de 5,53%, e pelo Paraná, com aumento de 2,13%.

 

Os adubos e corretivos tiveram valorização de 1,34% em fevereiro na “Média Brasil”, destaque para as bacias leiteiras dos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde os ajustes foram de expressivos 11,62% e 9,82%, respectivamente. A alta generalizada dos fertilizantes é resultado da contínua restrição de oferta das matérias-primas essenciais (como potássio, fosfato e ureia). Após o início da invasão militar russa na Ucrânia e as severas restrições econômicas impostas à Rússia, parte dos colaboradores suspendeu suas listas de preços para esses insumos.

Para os concentrados a alta observada na “Média Brasil” foi de 0,87% em fevereiro, impulsionada sobretudo pelo movimento observado em São Paulo. A instabilidade mundial, devido ao recente conflito, fez com que os preços internacionais dos grãos se elevassem em 2022, apesar dos avanços na colheita da safra brasileira. De janeiro para fevereiro, o valor médio da saca de soja avançou 8,5% (Indicador ESALQ/BM&FBovespa – Paranaguá/PR) e o do milho, 0,8% (Indicador ESALQ/ BM&FBovespa, Campinas/SP).

 

(Fonte: Cepea – Foto: Embrapa)

(Débora Damasceno/Sou Agro)

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