Recuperação de pastagens é aposta para agro sustentável

Fernanda Toigo

Fernanda Toigo

Imagem: Freepik

O Brasil tem um desafio ambicioso pela frente: recuperar 40 milhões de hectares de pastagens degradadas em uma década. A meta faz parte do Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas em Sistemas de Produção Agropecuários e Florestais Sustentáveis (PNCPD), lançado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) como uma das principais apostas para aliar produtividade e preservação ambiental.

Com o avanço das mudanças climáticas e a crescente exigência internacional por práticas agrícolas sustentáveis, o país vê na regeneração de áreas já desmatadas uma alternativa estratégica para aumentar a produção sem abrir novas fronteiras. Segundo dados do próprio governo, cerca de 60% das pastagens brasileiras apresentam algum nível de degradação, comprometendo a produtividade e pressionando ecossistemas sensíveis.

Planta forrageira ajuda na defesa contra cigarrinha-das-pastagens

A proposta do programa é clara: produzir mais, sem desmatar. E isso passa por recuperar terras já usadas, mas com baixa capacidade produtiva, transformando-as em áreas de alto rendimento por meio de tecnologias conservacionistas, consórcios de culturas e manejo eficiente do solo. A meta dos 40 milhões de hectares representa quase um quarto das pastagens brasileiras e, se atingida, poderá posicionar o país como líder mundial na agropecuária de baixa emissão.

INOVAÇÃO

Uma das inovações tecnológicas que vem ganhando força é o consórcio de grãos com capins tropicais, desenvolvido por instituições como o Instituto de Zootecnia (IZ-Apta), da Secretaria de Agricultura de São Paulo. A técnica combina soja ou milho safrinha com gramíneas forrageiras, como o capim Aruana ou o capim Ruziziensis, promovendo a recuperação do solo, o aumento da matéria orgânica e a produção de forragem de qualidade.

“Esse sistema melhora a absorção de nutrientes pela lavoura e aumenta o acúmulo de carbono e nitrogênio no solo, favorecendo a fertilidade e a sustentabilidade”, explica Karina Batista, pesquisadora do IZ. Segundo ela, essas práticas são especialmente eficazes em áreas com pastagens desgastadas, transformando-as em sistemas altamente produtivos e mais resilientes à seca.

O capim Aruana, por exemplo, favorece a absorção de cálcio e magnésio pelas plantas, enquanto o Ruziziensis contribui para a reciclagem de fósforo, potássio e magnésio — nutrientes essenciais para uma agricultura de longo prazo. Além disso, a silagem produzida com essas gramíneas consorciadas apresenta melhor valor nutricional, o que é fundamental para a produção de proteína animal durante os períodos secos do ano.

O sucesso da recuperação de pastagens degradadas depende da adoção em larga escala dessas práticas e do engajamento dos produtores rurais, que são parte central da estratégia. Para isso, o governo aposta em capacitação técnica, assistência especializada e um ambiente de crédito rural adaptado à sustentabilidade.

A proposta do PNCPD está alinhada ao Plano ABC+, que consolida políticas para uma agropecuária de baixa emissão até 2030. Em conjunto, esses programas têm potencial para transformar o Brasil em referência global na produção de alimentos com responsabilidade ambiental, aproveitando áreas já abertas e reduzindo a pressão sobre biomas como a Amazônia e o Cerrado.

Em um cenário global de escassez de recursos naturais e urgência climática, a recuperação de pastagens degradadas se apresenta não apenas como uma necessidade, mas como uma oportunidade para consolidar o Brasil como uma potência agroambiental. E o caminho já começou a ser trilhado.

(Com Feagro)

Autor: Fernanda Toigo

Fernanda Toigo

Fernanda Toigo. Jornalista desde 2003, formada pela Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Cascavel. Iniciou sua carreira em veículos de comunicação impressos. Atuou na Assessoria de Comunicação para empresas e eventos, além de ter sido professora de Jornalismo Especializado na Fasul, em Toledo-PR. Em 2010 iniciou carreira no telejornalismo, e segue em atuação. Desde 2023 integra a equipe de Jornalismo do Portal Sou Agro. Possui forte relação com o Jornalismo especializado, com ênfase no setor do Agronegócio.

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