Comissão de Leite discute dumping de países do Mercosul e relações com a indústria

Fernanda Toigo

Fernanda Toigo

Foto: Faep

A Comissão Técnica (CT) de Bovinocultura de Leite do Sistema FAEP se reuniu de forma híbrida para tratar dos temas centrais da cadeia paranaense de lácteos. A reunião aconteceu na sequência de uma visita do embaixador a Nova Zelândia à sede do Sistema FAEP, em Curitiba. O país da Oceania é o maior produtor de leite do planeta.

A reunião foi conduzida pelo presidente da CT de Bovinocultura de Leite, Eduardo Lucacin, e pelo coordenador técnico do colegiado e presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Ronei Volpi. As atividades tiveram início com uma rodada conjuntural na qual cada participante trouxe um relato da realidade produtiva de cada região e os dirigentes da comissão informaram sobre o andamento de questões de impacto mais abrangente na atividade. Participaram da reunião cerca de 20 produtores.

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CT Leite
Reunião foi realizada por videoconferência e conectou produtores de diversas regiões do Paraná

Segundo Lucacin, uma das grandes preocupações dos produtores brasileiros continua sendo a entrada maciça de produtos lácteos de países do Mercosul no mercado brasileiro. Para enfrentar essa questão, a CNA encampou um processo de antidumping contra a competição desleal do produto importado. “Foi comprovado o dumping, mas ainda carecemos de uma série de processos legais. A FAEP e a CNA estão trabalhando e investindo muito dinheiro nesta ação, que poderá trazer resultados no futuro”, afirmou.

Outro ponto abordado pelo dirigente da CT foi o trabalho para que o leite possa ser negociado no mercado futuro. “A CNA está fazendo um trabalho junto à indústria e à Embrapa para a criação de um contrato futuro para leite. Isso traz previsibilidade. Já foi feito contato com a B3 [Bolsa de Valores do Brasil] e o encaminhamento é muto bom. Talvez num futuro próximo teremos mais uma ferramenta para a negociação do leite”, adiantou Lucacin.

Alternativas e oportunidades

Com objetivo de apresentar aos participantes uma nova perspectiva do setor lácteo, o CEO da Cia do Leite, empresa da área de assistência técnica em bovinocultura de leite de Minas Gerais, Ronaldo Carvalho, apresentou a palestra “Alternativas e oportunidades para melhorar a relação comercial entre produtores e indústrias”.

O CEO promoveu diversas reflexões entre os integrantes da comissão. Em uma delas, ele comparou o faturamento entre diferentes atividades rurais, como produção de soja, milho, bovino de corte, café e leite, provando que esta última pode ser a mais rentável entre todas. “O gargalo não está na produção de leite em si, mas na forma como a atividade é conduzida”, apontou.

Entre os problemas mais comuns identificados nas propriedades leiteiras, o especialista destacou falhas técnicas e/ou gerenciais graves, a exemplo do consumo do caixa para o crescimento do negócio, como aquisição de animais e equipamentos, e uma escala de produção na propriedade incompatível com os resultados esperados.  “O segundo ponto é o mais grave. Querer crescer utilizando a margem que sobra é muito difícil. Para melhorar o caixa, primeiro é preciso adequação técnica, depois um plano de negócio para saturar a capacidade de crescimento do produtor. Por fim, o uso do capital de terceiros para capital de giro para produção de volumoso”, elencou.

Segundo Carvalho, o pequeno produtor precisa de uma escala mínima, senão, em um futuro próximo, estará fora do negócio. “[O leite] é o único produto que aquele que tem mais para vender, recebe mais”, observa. “Na base de produtores de Cia do Leite, a variação entre o valor pago aos pequenos e grandes produtores é de um real”, completou.

Sobre as relações com os laticínios, o dirigente apontou que, hoje, a média ociosidade das plantas industriais é de 50% no país, ou seja, falta matéria-prima para ser processada. Na avaliação de Carvalho, é preciso repensar as relações entre produtores e indústrias. “Precisamos adensar as vacas nas áreas de influência dos polos produtores”, pontuou. Dessa forma, a indústria não teria que percorrer grandes distâncias para buscar o produto e poderia contribuir para que os pequenos produtores adquirissem novos animais, ampliando, assim, a produção. “É muito melhor para a indústria investir no pequeno produtor da sua bacia do que buscar leite no mercado spot”, sentenciou.

(Com FAEP)

Autor: Fernanda Toigo

Fernanda Toigo

Fernanda Toigo. Jornalista desde 2003, formada pela Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Cascavel. Iniciou sua carreira em veículos de comunicação impressos. Atuou na Assessoria de Comunicação para empresas e eventos, além de ter sido professora de Jornalismo Especializado na Fasul, em Toledo-PR. Em 2010 iniciou carreira no telejornalismo, e segue em atuação. Desde 2023 integra a equipe de Jornalismo do Portal Sou Agro. Possui forte relação com o Jornalismo especializado, com ênfase no setor do Agronegócio.

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