Projeto busca preservar diversidade genética do abacaxi na Amazônia
A Amazônia é o principal centro de diversidade genética do abacaxi comestível do mundo e, para diminuir os riscos de se perder essa variabilidade do gênero, está sendo instalado um Banco Ativo de Germoplasma (BAG) na Fazenda Experimental da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) em Manaus. Com apoio da Embrapa Amazônia Ocidental (AM), do Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Amazonas (Idam) e agricultores de várias localidades amazonenses, a coleção já reúne 54 acessos de abacaxis comestíveis provenientes de 32 municípios amazonenses.
A atividade faz parte do projeto “Conservação das variedades locais de abacaxi cultivadas no Amazonas[FR1] ”, que tem por objetivo contribuir para a valorização e conservação da agrobiodiversidade por meio da coleta, caracterização e conservação de germoplasma de abacaxis comestíveis, domesticados e cultivados pelas populações indígenas e os agricultores familiares da Amazônia. Liderado pelo engenheiro-agrônomo Henrique dos Santos Pereira, professor titular da Ufam, o projeto conta com a participação do pesquisador Ricardo Lopes, da Embrapa, e de técnicos do Idam. O projeto tem aporte financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Amazonas (Fapeam).
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O projeto prevê quatro estratégias de conservação das espécies de abacaxis. A primeira é estabelecer um BAG de abacaxis comestíveis em condições de campo (conservação ex situ) que está instalado na fazenda da Ufam. A segunda é manter as variedades nos seus lugares de origem (conservação on farm), que é a roça dos agricultores tradicionais e indígenas.
A terceira é a conservação in vitro (conservação ex situ) como uma “cópia de segurança” do BAG mantido em campo, no Laboratório de Cultura de Tecidos da Embrapa Amazônia Ocidental. A quarta estratégia será estabelecer e avaliar a viabilidade da coleção de pólen de variedades locais sob criopreservação. As diferentes estratégias de conservação são complementares e reduzem os riscos de perda de variabilidade genética, bem como, facilitam também o intercâmbio e uso do germoplasma.
Pereira revela que, para a obtenção dos materiais, houve o apoio estratégico do Idam, o órgão de extensão rural do governo estadual, que conta com mais de 60 escritórios distribuídos pelo Amazonas. “Seus técnicos têm tido atuação primordial na obtenção, guarda e envio dos abacaxizeiros. Cabe a eles fazer a identificação das plantas e nos colocar em contato com os agricultores”, informa.
Preferência por uma variedade pode ameaçar as demais
No Amazonas a variedade predominante nos cultivos é conhecida como “Turiaçu”, a qual acredita-se que tenha sido introduzida no município de Itacoatiara (AM), a partir de mudas trazidas do município Turiaçu, na Amazônia maranhense. Essa variedade, selecionada por agricultores familiares, predomina em larga escala nos cultivos de Itacoatiara, maior produtor de abacaxi do estado, aumentando a difusão para outros municípios.
“Com essa preferência, corre-se o risco de essa variedade vir a substituir as variedades locais nativas, provocando a erosão genética e a perda da agrobiodiversidade da espécie, o que seria particularmente grave, em se tratando de ser o Amazonas um centro de diversidade da cultura”, cita Pereira.
Para apoiar na implantação do BAG, a equipe do projeto contou com a expertise da pesquisadora Fernanda Vidigal, curadora do BAG Abacaxi da Embrapa Mandioca e Fruticultura, no município baiano de Cruz das Almas, o maior banco de germoplasma do mundo em número de acessos do gênero. Ela visitou a fazenda da Ufam e participou da troca de saberes, quando orientou sobre as técnicas de identificação e manutenção dos lugares onde serão conservados os materiais genéticos, assim como o protocolo para a coleta do material que também deverá ser depositado no BAG Abacaxi mantido pela Embrapa na Bahia.
Segundo Vidigal, o BAG tem um trabalho muito focado na conservação e também no uso dos recursos genéticos do abacaxi. Ela relata que a Amazônia Ocidental é um centro de diversidade importantíssimo do gênero Ananas, e que nessa região, está resguardada, com comunidades tradicionais, locais e indígenas, a maior variabilidade genética de abacaxi do mundo, principalmente de Ananas comosus var. comosus variedade botânica à qual pertence o abacaxi comestível.
A cientista ressalta que ainda faltam vários passos a serem seguidos pelo projeto, como a caraterização do banco, realização de novas coletas, o manejo adequado da conservação “on farm”, que é feita pelos agricultores e comunidades tradicionais, a ampliação da conservação in vitro e, futuramente, a criopreservação.
A conservação in vitro é feita em condições de laboratório, onde as plantas são conservadas em tubos de ensaio e sob condições controladas “Quando a planta cresce, ela deve ser renovada no tubo e assim o banco vai sendo mantido e renovado. A criopreservação do abacaxizeiro é realizada a partir de um tecido da planta, que precisa ser tratado para resistir aos efeitos do congelamento (-196C°). O material é guardado e armazenado em tanques de hidrogênio líquido”, detalha a pesquisadora, informando que a Embrapa Mandioca e Fruticultura já tem um protocolo de criopreservação estabelecido para o abacaxi.
Germoplasma in vitro fica a salvo de ameaças da natureza
Lopes, responsável técnico pelo Laboratório de Cultura de Tecidos de Plantas, da Embrapa Amazônia Ocidental, conta que a coleção in vitro apresenta baixo custo, requer pequeno espaço e promove alta segurança para o material, que não fica exposto a intempéries climáticas, ataque de predadores, pragas ou doenças. Ele frisa que, além da conservação do germoplasma, a micropropagação possibilita que variedades tradicionais com pequena disponibilidade de material propagativo sejam multiplicadas em larga escala, produzindo dessa forma, mudas suficientes para realização de experimentos agronômicos e cultivo em maior escala. O pesquisador considera esse trabalho valioso para conservar e valorizar variedades tradicionais de abacaxis comestíveis existentes no Amazonas.
Com Embrapa