Foto: Luiz Costa

Projeto de processamento de pinhão será fonte de renda para mulheres

Tatiane Bertolino
Tatiane Bertolino
Foto: Luiz Costa

Um projeto da Embrapa e da Avon será fonte de renda para mulheres da agricultura familiar, por meio de capacitação e fomento a atividades que podem ser desenvolvidas com o pinhão, semente da araucária. O projeto prevê ações desde a produção e beneficiamento até a fabricação de produtos com elevado valor de mercado e sua comercialização. Além disso, o projeto vai ajudar a promover a conservação de remanescentes florestais com araucária.

Com duração de 36 meses, o projeto será desenvolvido em oito municípios do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e São Paulo, e pretende capacitar até 400 mulheres em assuntos relacionados à conservação dos remanescentes de araucária, implantação de pomares de araucárias que produzem pinhão precocemente, armazenamento e beneficiamento do pinhão para produtos de maior valor agregado. Além de estimular a implantação de unidades de beneficiamento de pinhão, o projeto também oferece atividades como cursos de culinária com pinhão, controle de qualidade e orientação para comercialização dos produtos fabricados por meio de associações.

A pesquisadora Rossana Catie Bueno de Godoy, líder do Projeto na Embrapa, explica que o mesmo é um passo importante para auxiliar na organização da cadeia produtiva do pinhão, que hoje é baseada no extrativismo. “Além de orientar sobre as boas práticas de colheita do que já existe na natureza, ajudando na conservação da espécie, também vamos ensinar sobre a implantação de pomares de pinhão, com plantios para este fim”.

A pesquisadora comemora que um dos pontos importantes do projeto “é o empoderamento das agricultoras, que também serão incentivadas a se organizarem em associações e a beneficiar o pinhão, com a possibilidade de agregação de valor com novos produtos, como farinhas, snacks e mesmo diferentes receitas com a semente da araucária”. Godoy explica que as opções de renda para mulheres na agricultura familiar são limitadas a atividades de baixa remuneração na própria propriedade rural, recebendo pouco pela venda da semente.

“O projeto ‘Mulheres e a cultura do Pinhão’ pretende oferecer alternativas para a geração de renda, permitindo ganhos financeiros maiores e, ao mesmo tempo, estimular o associativismo e fortalecer a liderança feminina, colaborando para o desenvolvimento das comunidades em que essas mulheres se inserem”, ressalta.

Para Luciana Machado dos Santos, gerente de assuntos regulatórios em Biodiversidade da Avon, o projeto Mulheres e a Cultura do pinhão está totalmente alinhado com a causa que a companhia defende. “Desde a sua fundação, há mais de 130 anos, quando a população feminina sequer possuía o direito ao voto, a Avon já viabilizava oportunidades acessíveis para mulheres alcançarem a independência financeira por meio da venda por relacionamento. O empreendedorismo feminino faz parte da nossa cultura e essa parceria mostra que estamos no caminho certo para contribuir ainda mais com o empoderamento dessas mulheres na busca por melhores condições de vida e alcance de seus sonhos.”, afirma a executiva.

A parceria entre Embrapa e Avon foi viabilizada pela VBIO, plataforma de bioeconomia que auxilia organizações a captarem e destinarem recursos para projetos de valorização da biodiversidade brasileira, com foco no desenvolvimento de comunidades tradicionais e conservação do patrimônio natural brasileiro possibilitando, assim, a execução dessas iniciativas, a geração de impacto social, ambiental e econômico.

A VBIO também realiza a gestão financeira e técnica dos projetos, acompanhando os indicadores das atividades previstas e garantindo o alcance pleno dos resultados previstos com segurança e credibilidade para todos os parceiros envolvidos. Segundo Mariana Giozza, gestora de projetos da VBIO, enxergar o papel fundamental da biodiversidade na transformação de realidades e prosperidade da sociedade é a única forma de garantir a sua conservação no longo prazo.

“Com esse projeto, a biodiversidade entra para ser uma ferramenta que irá garantir a melhoria na qualidade de vida de mulheres agricultoras, a partir da geração de novas opções de renda e inclusão socioeconômica de um grupo que, por muito tempo, teve seu papel na sociedade subvalorizado. Protagonizar as mulheres agricultoras dentro dos seus núcleos familiares é proporcionar-lhes a oportunidade de serem independentes na tomada de decisões sobre suas vidas e de valorizar o conhecimento de gerações que elas detêm sobre o manejo dos recursos naturais, garantindo, também, a conservação da natureza.”

Pinhão e agricultura familiar

O pinhão, semente da araucária, é um alimento muito apreciado no Sul e Sudeste do Brasil. Sua coleta é feita de forma extrativista na Floresta com Araucária, ecossistema da Mata Atlântica, chamado cientificamente de Floresta Ombrófila Mista, encontrada nos Estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e algumas áreas da região Sudeste. O pinhão coletado é comercializado principalmente em beiras de estrada ou para atravessadores. Mesmo com baixo valor de venda para o pinhão in natura, essa é uma importante fonte de renda para a agricultura familiar da região.

O beneficiamento surge, então, como uma opção para a agregação de valor ao produto, aumentando a renda de pequenos produtores. Godoy destaca que, “quando processado e vendido congelado, o pinhão pode atingir preços maiores, em torno de R$ 20 a R$ 25 por quilo. Já na forma de farinha, o preço pode chegar a R$ 60,00/Kg”. O projeto também visa contribuir para ampliar os mercados de venda para merenda escolar, roteiros turísticos e outros segmentos varejistas.

Já considerando a possibilidade de aumento na demanda por pinhão para beneficiamento e redução da pressão sobre as florestas remanescentes, outra tecnologia desenvolvida pela Embrapa Florestas e parceiros também será levada às produtoras: a técnica de enxertia de araucária, que possibilita a implementação de pomares de araucária com produção precoce de pinhão.

Esse tipo de enxerto possibilita que a araucária comece a produzir pinhão na metade do tempo em que as árvores encontradas na natureza iniciam a produção: o tempo para início da formação do pinhão reduz-se de 12 a 15 anos para 6 a 8 anos. “Isso resulta em aumento da oferta do produto”, explica o pesquisador Ivar Wendling, que desenvolveu a técnica em parceria com a Universidade Federal do Paraná (UFPR).

“As araucárias com produção precoce de pinhão destacam-se ainda pelo material genético superior com matrizes de diferentes épocas de produção durante o ano, tipos diferentes de pinhão e árvores com menor porte, entre dois e seis metros de altura, o que facilita a coleta das sementes”, explica o pesquisador. A estimativa é instalar até 80 pomares de pinhão precoce, sendo em média 10 pomares em cada município elencado no projeto. Além da questão econômica, a valorização do pinhão como ingrediente para produtos alimentícios pode contribuir para a conservação da araucária por meio do seu uso sustentável.

Com Embrapa

(Tatiane Bertolino/Sou Agro)

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