O “ifood” do porco: carne será vendida por aplicativo
A distância entre o minúsculo município paranaense de Barracão – de pouco mais de 10.000 habitantes na fronteira tríplice com o estado de Santa Catarina e a Argentina – é de quase mil quilômetros até São Paulo. Há seis meses, Barracão e São Paulo estão ligadas por um projeto que começa a ganhar forma com a Santan, startup que funciona como uma espécie de “ifood” do porco.
É simples de entender: os animais criados por produtores locais são abatidos, embalados e transportados a algumas grandes cidades para serem vendidos a restaurantes e ao consumo doméstico. Mas termina aí a simplicidade. Uma fina engenharia social está colocando de pé uma comunidade de produtores que estavam desistindo da atividade, ou muito desanimados com os rendimentos da criação, e conectando-os a uma logística refinada e uma estrutura gastronômica para marquetear o porco criado solto, da forma tradicional que os antigos faziam. Para dar visibilidade imediata à produção, 5.000 porcos serão abatidos e ofertados no mercado paulistano no final do ano.
O pivô dessa história é o rebelde André Santin, 49 anos, e que nasceu em Barracão. “Eu tenho a crença de que pode dar certo porque nosso produto não existe na cidade grande”, diz Santin. “Porco caipira, fresco, com procedência e de um grupo de pequenos produtores.” Santin batizou o projeto de Santan, o que remete a trejeitos da moderna cozinha francesa, mas o que de fato se come é fruto de uma tradição alimentar que vêm sendo resgatada em projetos dentro do conceito de cozinha afetiva e que está ganhando a empatia dos consumidores. A diferença da Santan é que a startup verticalizou e integrou totalmente a cadeia do alimento. São 100 produtores no projeto, dos quais 20 já estão entregando cerca de 100 animais semanalmente ao abate.
A verticalização e vontade de que todos ganhem, no fim das contas, é o final de uma longa construção que vai além do investimento já realizado até agora, da ordem de R$ 27 milhões. Hoje, a Santan tem uma equipe de cerca de 20 funcionários, entre engenheiros, veterinários, técnicos e administradores que estão dando forma à verticalização. São eles que visitam os produtores, mostram como podem participar e o que é preciso fazer. Barracão é uma cidade de produtores muito pequenos, com a maior parte sem estruturas sofisticadas e longe de terem recursos para investimentos necessários às grandes integrações. “É impossível falar em contrato de entrega, mas é perfeitamente possível criar laços de confiança”, diz André Rocha, 38 anos, veterinário do projeto. “E a confiança é o que o produtor anota na caderneta dele, faz acordo com a gente, diz quanto animais estão sendo preparados e como podemos ficar juntos.”
Wellington Molinetti, 28 anos e também veterinário, afirma que a ideia é “deixar o produtor confortável para trabalhar e depois ajudá-lo a fazer o negócio”. Mas há regras: o porco precisa ser criado solto, em piquetes; as porcas ficam em baias apenas na parição para proteger os leitões; não é permitido ração à base de soja e somente pode ser fornecido aos animais milho, mandioca, abóbora ou outro grão, como trigo por exemplo.
O cuidado compensa. A Santan paga pelo quilo vivo do animal três vezes mais em relação ao mercado local. Atualmente, o quilo vivo na região é de cerca de R$ 6,50, com o abate aos 80 quilos de carcaça. A startup paga, também, por benefícios, caso algum produtor precise de ajuda. “Investimento em estrutura só começa a ser pago pelo produtor depois que ele entregar o terceiro lote de porcos”, diz Molinetti.
Para que a carne de porco brilhe na cozinha, os investimentos de Santin contemplaram a compra de duas propriedades em Barracão, uma de 240 hectares onde também vai criar porcos e outra de 80 hectares na qual ele está construindo um centro de treinamento gastronômico. Isso porque a ideia é começar com os porcos, mostrar as inúmeras possibilidade de pratos elaborados, mas também estender o projeto a outros alimentos. Para isso, o grupo de produtores em volta da Santan, e que se comunicam por whatsapp para mostrar a produção, está ganhando um aplicativo que poderá ser acessado por qualquer pessoa. “Um consumidor em São Paulo ou Curitiba, onde também teremos um entreposto, pode entrar no aplicativo, escolher a propriedade e o produto, e nós entregamos”, diz Santin.
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FONTE – FORBES