Bovinocultura de corte

“Boi safrinha” potencializa uso da terra e ganho de produtores

Amanda Guedes
Amanda Guedes
Bovinocultura de corte

O conceito de safrinha, ou segunda safra, começou a se popularizar no cultivo de grãos a partir dos anos 1980, como forma de otimizar os recursos e aumentar a produção das propriedades, mesmo na estação seca. Atualmente, a safrinha é uma parte essencial da cadeia produtiva, em especial do milho, com boa parte da colheita acontecendo nesse segundo período.

Nos últimos anos, essa ideia foi transplantada para a pecuária, com a criação do “boi safrinha” em alternância com a soja ou o milho.

Em sistema integração lavoura-pecuária (ILP), essa técnica é uma opção interessante tanto para aumentar os lucros dos produtores de grãos que não conseguem ter uma boa colheita na safrinha como também para os pecuaristas que têm dificuldade para engordar o gado na estação seca.

Basicamente, o “boi safrinha” consiste em usar as forragens da lavoura de grãos como pasto para o gado na janela de tempo que o solo precisa para se recuperar entre uma safra e outra.

Nesse contexto, a criação de gado é beneficiada pelo valor nutritivo do pasto resultante da lavoura, assim como a produção de grãos aumenta após a pastagem por conta do respeito ao tempo de recuperação do solo. Em resumo, é uma situação ganha-ganha para as duas produções. Além disso, a criação do “boi safrinha” otimiza a utilização do solo, os recursos humanos e o maquinário da propriedade, com produção o ano todo.

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Mais produtividade com sustentabilidade

Experiências realizadas pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) no Distrito Federal demonstram que a técnica do “boi safrinha” permite engordar o gado em até 900 gramas por dia — na estação seca, são esperados apenas 150 gramas/dia. Com isso, é possível ter animais com peso adequado para o abate em cerca de 70 dias, ao final da “entressafra”, otimizando os custos de produção do gado.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) também realizou testes com o “boi safrinha” no cerrado e na Bahia, estimando que o custo de produção da arroba saia entre R$ 120 e R$ 140, contra R$ 200 da pastagem convencional — principalmente por conta do menor tempo de engorda. Segundo a Embrapa, o sistema rendeu R$ 2,99 bilhões em lucros, nos 3 milhões de hectares que o utilizaram na safra 2019/2020.

Em suas pesquisas, a empresa também calculou o impacto ambiental positivo do “boi safrinha”: 9,4 milhões de hectares de pastagens perenes deixaram de ser ocupados no Cerrado, tanto pela reutilização das lavouras e pasto como pela antecipação da idade de abate dos animais, em um efeito chamado de “poupa-terra”.

A Embrapa explica que a técnica do “boi-safrinha” com integração lavoura-pecuária é usada por alguns produtores na Bahia desde os anos 1990, mas foi sistematizada em publicações da empresa a partir de 2017. Desde então, novos projetos estão permitindo um aumento na produção e popularizando a técnica — na safra 2018/2019 foram utilizados 2,3 milhões de hectares para o “boi safrinha”, com rentabilidade mensal de 5,7 %/ha, enquanto o ciclo seguinte registrou rentabilidade de 9,7 %/ha em 3 milhões de hectares.

Fonte: EMBRAPA

(Amanda Guedes/Sou Agro)

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