O presidente da Ocepar, José Roberto Ricken, que estará em Cascavel nesta quarta-feira

Presidente da Ocepar aponta desafios e faz projeção para os próximos 50 anos

Sirlei Benetti
Sirlei Benetti
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Dando continuidade à série de entrevistas especiais do Portal Sou Agro com representantes do setor cooperativista, chegou a vez do presidente da Ocepar, Organização das Cooperativas do Estado do Paraná, José Roberto Ricken. A entidade em que ele preside 217 cooperativas de sete diferentes ramos (agropecuário, crédito, saúde, infraestrutura, consumo, transporte e trabalho, produção de bens e serviços). Juntas, elas encerraram 2020 com 2,46 milhões de cooperados, 117,5 mil funcionários, 2,3 mil beneficiários do ramo saúde, US$ 4,5 bilhões em exportações, R$ 5,8 bilhões em sobras e R$ 115,5 bilhões em faturamento, valor 32% superior ao do ano anterior. A Ocepar completou 50 anos no dia 2 de abril deste ano. (Vandré Dubiela/Sirlei Benetti)

 

#souagro – Qual o maior desafio do sistema cooperativista atualmente no Paraná?

José Roberto Ricken – Manter o crescimento, de forma perene e sustentável. Hoje, o Sistema Ocepar representa cooperativas que atuam em sete ramos – agropecuário, consumo, crédito, infraestrutura, saúde, trabalho, produção de bens e serviços e transporte. Cada ramo possui suas especificidades e demandas próprias. E nós, como Sistema Ocepar, temos que atentar para isso e trabalhar para que cooperativas continuem se desenvolvendo, gerando emprego, renda e desenvolvimento regional.

O cooperativismo é um pilar importante tanto econômico quanto social no Paraná. A dimensão que alcançou, ao longo da história, é proporcional a sua responsabilidade, enquanto empresas cidadãs. Quanto mais as cooperativas crescem, maiores são as expectativas e as responsabilidades assumidas. Este é, portanto, um grande desafio: continuar crescendo, de maneira sólida, beneficiando as pessoas e promovendo o desenvolvimento regional.

Outro desafio é expandir mercados, principalmente de produtos industrializados. São novos tempos: no passado, a lógica era produzir mais e buscar mercado. Agora, o nosso desafio é agregar valor à produção, identificar mercados, e atendê-los com profissionalismo e qualidade. O mundo sabe do potencial do nosso País na produção de alimentos. Gradativamente, o Brasil vai conquistando a liderança na oferta de muitos produtos no mercado internacional. E as cooperativas se destacam nesse cenário. No Paraná, cerca de 60% da produção agropecuária passa pelas cooperativas, sendo que boa parte dessa produção passa por algum tipo de transformação e agregação de valor. E a meta é ampliar esses números. Temos que saber lidar com essa nova realidade, aperfeiçoando métodos de produção, cuidando do meio ambiente, investindo em sanidade, além, é claro, de valorizar nossos produtos, comunicando a qualidade e o profissionalismo que há por trás deles, e estreitar relações com os consumidores que adquirem os produtos e serviços das nossas cooperativas.

Temos ainda outros desafios relacionados à inovação, gestão, infraestrutura, bem como ligados aos aspectos econômico e regulatório e nos quais o Sistema Ocepar tem um papel estratégico como indutor de melhorias, representação e defesa dos interesses do setor.

 

#souagro – O Paraná é referência para o mundo em relação ao sistema cooperativista. Como o sr. avalia o crescimento das pequenas e médias cooperativas no Estado e o papel delas no desenvolvimento econômico paranaense?

José  Roberto Ricken – A finalidade da cooperativa é organizar uma atividade econômica, por meio de um modelo de negócio baseado no trabalho coletivo, em que o ganho está na soma de esforços. A opção do cooperativismo paranaense sempre foi gerar oportunidades de renda e desenvolvimento aos cooperados, cooperativas e comunidades onde estamos presentes. Esse é o nosso compromisso. Sempre com muita organização, seriedade e profissionalismo.

E isto acontece com cooperativas de todos os portes. Por este motivo, o crescimento das pequenas e médias cooperativas é visto com alegria e bons olhos, porque sabemos que os frutos são compartilhados, seja com a criação de empregos, melhoria da renda, investimentos locais e incremento da economia, enfim, onde tem uma cooperativa bem estruturada, há progresso e desenvolvimento da sociedade local e regional.

 

#souagro – A pandemia afetou o desempenho das cooperativas no Paraná? E como as cooperativas se prepararam para fazer frente à Covid-19 e proteger seus colaboradores?

José Roberto Ricken – Para o cooperativismo paranaense, assim como para todo mundo, a pandeia trouxe dificuldades. Fomos colocados à prova, principalmente, em relação à nossa capacidade de adaptação, resiliência e superação. Apesar dos desafios, que se mostraram imensos, o cooperativismo manteve-se firme em sua missão, que é estar ao lado das pessoas, auxiliando em suas necessidades. Durante esse período de pandemia, o apoio ao cooperado foi mantido, empregos foram preservados, e há expectativas positivas em relação a novos investimentos, principalmente em infraestrutura e agroindústria, tão necessários para atender à crescente demanda por alimentos nos mercados brasileiro e internacional.

Apesar das adversidades provocadas pela pandemia, das quais ninguém esteve imune, as cooperativas do Paraná não apenas atingiram como superaram as metas do Plano Paraná Cooperativo (PRC100), com um movimento econômico de R$ 115,7 bilhões em 2020, números que se traduzem na geração de trabalho, impostos e na renda de milhões de paranaenses. A contribuição do cooperativismo no enfrentamento da atual crise foi manter suas atividades, preservar a saúde de seus integrantes, garantir a continuidade na oferta de produtos e serviços, e dar tranquilidade ao cooperados, no sentido de manutenção de renda.

Apesar dos resultados positivos, ninguém poderia imaginar que teríamos que passar por tanta provação e incertezas e até administrar o pânico entre as pessoas. As cooperativas, apoiadas pelo Sistema Ocepar, foram ágeis em suas ações, adotando rígidos protocolos de seguranças em todas as suas unidades, disponibilizando EPIs, máscaras e álcool em gel para funcionários, cooperados e clientes, e garantindo que as atividades não fossem paralisadas. Imagine faltar alimentos e serviços essenciais durante a pandemia? Seria o caos, muito maior do que estamos vivenciando.

Nesses momentos, fica evidente a importância da atuação das nossas cooperativas nos diversos ramos. O cooperativismo não parou, apenas mudou sua forma de trabalhar, com mais segurança e cuidado com a saúde.

 

#souagro – Há 50 anos, quais foram os motivos que levaram à criação da Ocepar?

José Roberto Ricken – Organizar as cooperativas e fortalecer sua representação institucional. No fim da década de 1960, os órgãos do governo federal e estadual, e da extensão rural que trabalhavam com cooperativismo, estavam discutindo um projeto de revitalização e saneamento do cooperativismo no Paraná. Este movimento era liderado pelo Inda (Instituto Nacional de Desenvolvimento Agrário), cujo titular era o Silvio Galdino, além da Acarpa (Associação de Crédito e Assistência Rural do Paraná), CFP (Companhia de Financiamento da Produção), DAC (Departamento de Assistência ao Cooperativismo da Secretaria de Agricultura do Paraná), BNCC (Banco Nacional de Crédito Cooperativo), Ctrin (Comissão de Compra de Trigo Nacional), entre outras instituições. Se estabeleceu entre estes órgãos um pacto de solidariedade, não havia nada assinado, mas era uma ação praticado com eficácia. E então foi discutido um projeto de desenvolvimento do cooperativismo, com base nas experiências que estavam acumulando ao atuar na revitalização das cooperativas do estado. Os fundamentos, os propósitos que deram origem à Ocepar surgiram dessa mobilização e desse movimento.

No Paraná havia uma série de experiências cooperativistas, em específico com as cooperativas de exportação de madeira e erva-mate, e, mais tarde, com as cooperativas de café. Depois surgiram as cooperativas de colonização, e que já haviam tido sucesso no estado, como Batavo, Witmarsum e Agrária. As cooperativas eram o braço econômico das comunidades de imigrantes, e havia também as experiências dos migrantes gaúchos e catarinenses, estabelecidos principalmente nas regiões oeste e sudoeste. Mas todas essas experiências não tinham entre elas uma interação sistêmica: cada uma se desenvolvia dentro da sua visão de demandas e muitas vezes concorrendo com as demais. Essa era a realidade que se pretendia corrigir.

A criação da Ocepar fundamentou-se na premissa de organizar a produção e os produtores, dentro do programa de autossuficiência de trigo, que estava sendo executado pelo governo federal na época. E, nesse contexto, ocorreu a fundação da Ocepar e da Assocep (Associação de Orientação de Cooperativas do Estado do Paraná), com a presença dos representantes da Fundação Friedrich Naumann, instituição alemã que se propunha a aplicar recursos para o desenvolvimento principalmente do que se convencionou chamar de autogestão das cooperativas, um processo de revisão e auditorias feito pelo próprio sistema junto a suas cooperativas com o intuito de ter uma ação preventiva na sua gestão. Os alemães apoiaram o desenvolvimento da Assocep, que era uma iniciativa à frente de seu tempo.

E a centralização da discussão dos problemas das cooperativas na Ocepar e a aglutinação das cooperativas em torno de uma entidade, fortaleceu a representação institucional do setor. A Ocepar e as cooperativas hoje têm força e credibilidade para obter êxito nas suas principais reivindicações. E esta credibilidade conquistada se deve muito à continuidade das gestões dos diversos presidentes que conduziram a Ocepar, sempre com seriedade, competência e determinação para viabilizar o trabalho da entidade, o que demonstra que o espírito cooperativista sempre esteve acima de qualquer interesse econômico.

 

#souagro – Considerando as inovações tecnológicas e a velocidade da informação cada vez mais dinâmica, como projetar a Ocepar do Futuro, para os próximos 50 anos?

José Roberto Rocken – Uma Ocepar moderna, que acompanha as tendências, e coloca essa realidade para as cooperativas, incentivando-as a trilhar o caminho do desenvolvimento. Não há espaço para soluções imediatistas. Tudo precisa ser planejado, com profissionalismo e visão de futuro. Temos que seguir na nossa linha que é fortalecer as cooperativas para que elas cumpram sua missão que é organizar economicamente as pessoas para que elas tenham mais s renda e conquistem uma condição social melhor e não precisem depender de ninguém. E isso se faz com o cooperativismo. As pessoas estão em busca de novas oportunidades que gerem renda e melhores condições de vida com sustentabilidade ambiental, social e econômica. É isso que o cooperativismo propõe. E a Ocepar existe para que o cooperativismo tenha êxito em seus propósitos.

A Ocepar, em seus 50 anos, sempre buscou estar à frente, antecipando-se e propondo ações que fortaleceram a atuação das cooperativas. Um exemplo é o Autogestão. Quando foi proposto, na década de 1980, havia oposição por parte de muitas lideranças cooperativistas, que entendiam a autofiscalização como uma ingerência externa e não como um mecanismo auxiliar de gestão e desenvolvimento de uma cooperativa administrada profissionalmente. O João Paulo Koslovski era o diretor executivo da Ocepar na época e tinha uma determinação de que era preciso aproveitar a nova Constituição brasileira, que veio em 1988, e que dava liberdade para as cooperativas. E naquele ano, com o 10º Congresso Brasileiro de Cooperativismo e a nova Constituição, começamos a fazer um trabalho no interno de conscientização em torno do Programa de Autogestão, que foi aprovado em assembleia pelas cooperativas paranaenses em setembro de 1990. A linha que norteou aquele início da autodeterminação foram os projetos de integração do cooperativismo, originados nos primeiros anos da Ocepar. É um trabalho que temos até hoje e é a coluna vertebral para o desenvolvimento das cooperativas do Paraná.  Vemos também que a iniciativa implantada no Paraná foi fundamental para o cooperativismo brasileiro, deu uma nova dimensão à nossa presença como sociedade social no país

Pensando no presente, se não fosse a crueldade da Covid-19, o resultado desse momento seria positivo, porque acelerou o processo de transformação digital. Há um ano, por exemplo, se fossemos propor uma reunião de diretoria online, seria inviável. Hoje, não se pensa em outro formato, e penso que isso permanecerá, mesmo com o fim da pandemia. No âmbito do Sistema Ocepar, tivemos outras mudanças aceleradas pela pandemia, como a virtualização de vários processos, como o cadastramento de instrutores, aprovação de projetos e de prestação de contas, simplificação das questões e trabalhos online. Tivemos avanços na forma de trabalhar que serão permanentes. Aconteceu com toda a sociedade e será permanente, uma herança positiva desse momento de angústia que estamos passando.

Para os próximos cinquenta anos, não vejo outro caminho que não seja o de continuidade daquilo que nos trouxe até aqui, que é trabalhar com seriedade, profissionalismo e com planejamento de onde queremos chegar. Encerramos um ciclo, que foi o PRC100, e em seguida lançamos outro, o PRC200, que pontua as metas, não apenas financeiras, mas objetivos voltados ao fortalecimento do setor. E pontua também os desafios, como acompanhar as mudanças, que nos colocam frente a novas demandas, nos levando a rever a nossa visão e nossos processos. Finalizado o PRC200, teremos um novo planejamento, e depois outro, outro… e assim será pelos próximos 50 anos.

O futuro se planeja e se constrói no agora. Se queremos uma Ocepar atuante, essencial e relevante para as cooperativas pelos próximos 50 anos, temos que criar hoje as bases para que isso aconteça, sem deixar de valorizar o passado, as pessoas que ajudaram a construir a Ocepar, as conquistas e as lições, mas com visão de futuro, de onde queremos chegar e como vamos chegar lá.

 

#souagro – Quantas cooperativas existem no Paraná, quantos colaboradores e quantas famílias são beneficiadas diretamente por esse sistema?

José Roberto Rocken – A Ocepar foi fundada, em 1971, por 34 cooperativas. Na época, de acordo com dados do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), havia no estado cerca de 56 mil cooperados, a maioria associado a cooperativas do ramo agropecuário e de consumo. Passados 50 anos, a Ocepar tem sob sua abrangência um dos sistemas econômicos e sociais mais pujantes do país. Atualmente, a entidade tem 217 cooperativas filiadas, em sete ramos, que congregam 2,46 milhões de cooperados e geram 117,5 mil empregos diretos. O setor obteve, em 2020, um faturamento de R$ 115,7 bilhões, com sobras do exercício de R$ 5,8 bilhões, e um total exportado, para mais de 100 países, de US$ 4,5 bilhões.

Mas números e estatísticas, embora demonstrem o crescimento do movimento cooperativista no estado, não revelam as histórias de vida e superação que o cooperativismo, sob a representação, o guarda-chuva da Ocepar, ajudou a construir nas últimas cinco décadas. Quando apoia uma demanda de cooperados e cooperativas, a Ocepar amplia e estimula o desenvolvimento econômico e social. E é nessas ações que a filosofia cooperativista se revela em sua essência, pois o que se espera com o sucesso de uma cooperativa é valorização da pessoa e que, a partir disso, ela possa se desenvolver e prover qualidade de vida para a sua família de forma independente. E acreditamos que isso vem ocorrendo, mesmo que gradativamente. Hoje se estima que cerca de 30% da população paranaense esteja ligada direta ou indiretamente ao cooperativismo. Cada pessoa representa uma semente de um futuro melhor. Um futuro mais cooperativo.

 

#souagro – A missão da Ocepar é…?

José Roberto Ricken – Desde que foi fundada, a Ocepar tem como missão organizar e defender os interesses do sistema cooperativista paranaense perante as autoridades constituídas e a sociedade, bem como prestar serviços adequados ao pleno desenvolvimento das cooperativas e de seus integrantes. Esta missão se traduz em ações como apresentar e defender pleitos do sistema cooperativista junto aos poderes legislativo e executivo, o trabalho sindical, a ação conjunta com outras entidades representativas, promover o conhecimento, bem como ser um instrumento pelo qual as cooperativas possam se modernizar e se profissionalizar cada vez mais.

Importante destacar que a Ocepar compõe o Sistema Ocepar, juntamente com a Fecoopar (Federação das Cooperativas do Paraná) e o Sescoop/PR (Serviços Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo), entidade do Sistema S que atende ao público cooperativista e cuja criação contou com um forte trabalho da Ocepar. Estas entidades possuem atividades específicas, mas as três atuam com a mesma missão e o mesmo propósito, que é trabalhar em prol do desenvolvimento do cooperativismo paranaense.

(Sirlei Benetti/Sou Agro)

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