“Artesãos da uva” buscam selo de procedência
O imenso cacho de uva encostado no imponente garrafão de vinho cuidadosamente instalado na entrada da cidade dão a dimensão de como a fruta e seus derivados são características marcantes de Bituruna, no Sul do Paraná. O produto movimenta a economia do pequeno município de pouco mais de 16 mil habitantes, colonizado por descendentes de imigrantes italianos que trouxeram do Rio Grande do Sul a paixão pelos parreirais.
A uva é um dos tantos itens no variado cardápio da agricultura paranaense, cujo potencial para “alimentar o mundo” será esmiuçado nesta série de reportagens. “A uva daqui é diferenciada, o que determina um vinho diferenciado também. Já ouvi de turistas de Pernambuco, que vieram conhecer a plantação, que eles nunca haviam experimentado frutas tão doces. É um sabor especial”, diz o produtor Renato Jair Sandi, que no ano que vem completa duas décadas de lida na pequena propriedade cercada por montanhas que dão um ar bucólico à região. “Fora o tempo em que trabalhei com meu pai. Colher uva é uma tradição familiar”, conta.
Sandi é um dos principais “artesãos da uva” de Bituruna. Produz, em média, cerca de 30 toneladas por ano, entre as rústicas (especiais para vinho) e as de mesa (para o consumo). Parte significativa de tudo que sai das parreiras da cidade. De acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral), vinculado à Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, Bituruna produziu 250 toneladas da uva de mesa, espalhadas em dez hectares de plantação no ano passado, último dado disponível. Foram outras 780 toneladas da fruta para vinho, em uma área de 85 hectares.
“É uma tradição que passa de geração para geração. Notamos que, gradativamente, a produção da uva de mesa vai ganhando mais espaço por causa do valor agregado. Enquanto o quilo das uvas que vão para a indústria do vinho saem em média por R$ 1,50, aquele especial para o consumo chega a R$ 5”, explica o técnico agrícola do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná-Iapar-Emater (IDR-Paraná), Marcos Ludorf.
VINÍCOLAS – O empresário Everton Sandi sabe bem como funciona essa passagem de bastão entre gerações da uva. Ele conta que o avô trouxe para Bituruna a tradição já consolidada no Rio Grande do Sul, abrindo a jornada da família nos parreirais paranaenses. O pai seguiu a tradição até o negócio chegar à terceira geração.
Junto com os irmãos, Everton deu o impulso que faltava para a vinícola Di Sandi prosperar. Hoje a colheita de fruta na propriedade de 8,5 hectares chega a 180 toneladas por ano. Fruta transformada em mais de 200 mil litros de vinho, em uma carta que contempla mais de dez tipos da bebida, além de espumantes, grappa e sucos – produção associada com outros parceiros.
“Somos uma empresa familiar que prima pela qualidade acima de tudo. Qualidade da uva, que só existe em Bituruna, e do vinho”, diz ele.
INDICAÇÃO GEOGRÁFICA – Outra particularidade do município é a uva casca dura. A fruta recebe esse nome justamente por ter a casca mais resistente do que o normal. Produto que busca ser reconhecido nacionalmente com o selo de Indicação Geográfica (IG), que poderá ser replicada nas bebidas derivadas desta qualidade de uva. O processo está em andamento no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
“Isso vai acabar com qualquer tipo de falsificação. Uva e vinho de Bituruna serão somente esses, com o selo de procedência”, comemora Renato Sandi.
NO PARANÁ – No Paraná, a produção de uva está disseminada na maior parte das regiões. Atualmente, o Estado tem 3.584 hectares destinados à cultura, que somam uma produção de 53,1 mil toneladas, segundo dados do Deral. É o quinto maior produtor do País.
O município de Marialva lidera o ranking estadual com uma área de 473 hectares (13% do total) e produção de 11,7 mil toneladas. Outros destaques são Rosário do Ivaí, Mallet, Cerro Azul e Bandeirantes, além da própria Bituruna.
SÉRIE – As uvas de Bituruna fazem parte de uma série de reportagens “Paraná que alimento o mundo” desenvolvida pela Agência Estadual de Notícias (AEN) e que busca mostrar o potencial do agronegócio paranaense. Os textos serão publicados sempre às segundas e quintas-feiras. A previsão é que o material se estenda durante todo o ano de 2021.
Foto: Fernando Ogura/AEN