Censo de onças-pintadas mostra recuperação da espécie
Na década de 90 a primeira onça-pintada do Parque Nacional do Iguaçu foi capturada para pesquisa e conservação. De lá pra cá muita coisa aconteceu. Nos últimos 18 anos os projetos Yaguareté (Argentina) e Onças do Iguaçu (antigo Carnívoros do Iguaçu) monitoram a flutuação da população da espécie na região do Corredor Verde, maior núcleo remanescente de onças-pintadas na Mata Atlântica em nível mundial. Os censos bianuais simultâneos nos dois países são um dos maiores esforços mundiais para acompanhamento da espécie, tanto em área quanto em período de amostragem.
Entre 1990 e 1995 o pesquisador Peter Crawshaw, falecido esse ano, estimou que a região abrigava entre 400 e 800 onças-pintadas, mas no final dessa década essa população apresentou um declínio alarmante, e a estimativa em 2005 era de que em toda a área do Corredor Verde houvesse apenas cerca de 40 onças pintadas, um cenário desanimador e preocupante.
No Parque Nacional do Iguaçu, em 2009 restavam entre 9 a 11 onças-pintadas, e a espécie estava perto da extinção local. No entanto, nos últimos quinze anos temos observado uma tendência de importante crescimento da população. Em 2016 a população estimada para o Corredor Verde era de em média 90 animais (entre 71 e 107), e passou para 105 (entre 84 e 125) em 2018. Para o Parque Nacional do Iguaçu a estimativa média do Censo 2018 foi de 28 onças-pintadas (entre 23 e 34).
Censo 2020
O Censo 2020 de onças-pintadas foi desenvolvido pelos Projetos Onças do Iguaçu e Yaguareté (Argentina), com a cooperação do WWF-Brasil, Fundación Vida Silvestre Argentina, Parque Nacional do Iguaçu/ICMBio e Parque Nacional Iguazú. As equipes dos dois projetos realizaram o maior censo já conduzido até o momento, com 215 pontos de amostragem nos dois países, uma área de 564.425 hectares avaliados e 11.936 dias/câmara de amostragem.
Foram obtidas mais de 693.000 imagens, sendo 2.523 fotografias de 53 onças-pintadas adultas. As fotografias de onças obtidas nas estações de monitoramento são separadas e individualizadas através de uma análise detalhada do padrão das manchas de cada onça, únicas em cada animal.
Posteriormente, por meio de programas estatísticos, é feito um cruzamento de informações com base na quantidade de hectares que foram cobertos com a amostragem e na quantidade de onças-pintadas diferentes que foram cadastradas. Com base nessa análise estatística, é possível obter “faixas populacionais” que indicam o número mínimo e máximo de indivíduos que a população poderia ter, uma vez que por questões metodológicas e estatísticas da pesquisa não é possível obter dados exatos.
O resultado indicou uma estimativa média de 90 animais (entre 76 e 106) no Corredor Verde de Argentina e Brasil. Para o Parque Nacional do Iguaçu, no Brasil, o número médio foi de 24 animais (entre 20 e 28). Apesar da estimativa média ter sido menor que 2018, isso estatisticamente não representa uma redução significativa, e sim indica uma estabilidade da população.
O que significam os números do Censo 2020?
Considerando os dados obtidos pelos pesquisadores foi possível observar que após a grande queda populacional sofrida no início deste século, a população de onças-pintadas no Corredor Verde vem se recuperando há mais de uma década, tendo conseguido dobrar entre 2005 e 2016 (de 40 para 90 animais). A partir de 2016, a população parece estar estabilizada em valores próximos a 100 animais.
Fatores que influenciam na flutuação populacional
A principais causas do declínio da população de onças-pintadas na década de 90 foram a caça e o abate de onças-pintadas por retaliação, devido à predação de gado. A caça reduz ainda a disponibilidade de presas para as onças-pintadas. No Brasil, no Parque Nacional do Iguaçu e cercanias, o queixada, principal item alimentar da onça-pintada, esteve extinto nos últimos 20 anos, e só a partir de 2016 começou a retornar à região, o que pode ter influenciado o subsequente aumento da população de onças.
O crescimento da população de onças-pintadas no Corredor Verde nos últimos 15 anos tem sido possível também graças a esforços de numerosas instituições dos dois países, que envolvem desde fiscalização para redução das ameaças, como a caça, até ações de engajamento, coexistência, manejo e pesquisa. Outro fator foi a mudança no uso do solo: muitas propriedades que criavam gado agora se dedicam ao plantio de soja e milho, o que reduziu um pouco os conflitos.
Um fator também a ser considerado é que a capacidade de suporte estimada para o Corredor Verde (ou seja, quantas onças podem viver na região) é de 250 animais. À medida que nos aproximamos desse número, o crescimento da população tende a ser mais lento e dispendioso.
O Corredor Verde abriga cerca de um terço de todas as onças-pintadas da Mata Atlântica, e é a região com o habitat mais adequado para a espécie no bioma. No entanto, a conservação desses felinos depende de ações intensas e constantes de conservação. É imperativo que sejam mitigadas as ameaças à espécie na região, e que seja priorizada a manutenção da integridade do que resta se seu hábitat, além de aumento da conectividade com áreas adequadas.
Controlar as ameaças e concentrar esforços nas ações de conservação no Corredor Verde vai aos poucos afastando a possibilidade de extinção local desse felino fantástico, mas o caminho é longo. Onde tem onça tem vida, e é orgulho e responsabilidade desta região manter uma população tão importante do maior carnívoro das Américas.
Sobre o Projeto Onças do Iguaçu
O Projeto Onças do Iguaçu é um projeto institucional do ICMBio, desenvolvido em parceria entre o Parque Nacional do Iguaçu e o Instituto Pró Carnívoros, com apoio de diversos parceiros como CENAP/ICMBio, WWF Brasil, Nat Geo Society, Beauval Nature, Pandhora Investimentos, Ron Magill Conservation Endowment, Cataratas S. A e Instituto Conhecer para Conservar.
(FONTE: Assessoria/ FOTO: Grupo Cataratas)