Crédito rural no Brasil

As nuances e os desafios do crédito rural no Brasil

Vandre Dubiela
Vandre Dubiela
Crédito rural no Brasil

 

#souagro | Nuances e desafios do crédito rural: o agronegócio brasileiro se tornou muito maior do que o subsídio existente consegue alcançar e o agro é hoje muito pelo resultado das políticas públicas implementadas desde 1964. Essas são duas das frases pinçadas da entrevista que vamos apresentar neste domingo, com o diretor-executivo Bernardo Fabiani. Utilizando uma linguagem clara e objetiva, ele explica quais são os principais desafios e as oportunidades proporcionadas pelo crédito rural no Brasil.

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Para Bernardo Fabiani, chegar ao produtor rural hoje é um dos dilemas. Muitos contam com celular, mas ainda não disponibilizam de internet de qualidade para que a informação ou o contato sejam estreitado, segundo ele. “Acessar o pequeno ou o médio produtor hoje no campo é desafiador para as instituições financeiras ou quem quer financiá-lo”, entende.

“Além da questão do acesso, há a precificação do risco dos negócios. Quando se fala em uma indústria, padaria, essas empresas têm como sustentação o perfil jurídico, permitindo entender muito bem a saúde financeira de cada empresa. Agora, em se tratando de produtor rural, boa parte é pessoa física, ou seja, está gerando todos os seus insumos de safra, toda a sua operação, em cima de um CPF. Isso adiciona uma complexidade tremenda para as instituições financeiras acostumadas a conceder crédito, gerando nelas a necessidade de se adequar à realidade do agronegócio”.

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Outro componente, além da dificuldade do aceso e da precificação do crédito, envolve a cobrança, conforme relata Bernardo Fabiani. “A estrutura de garantia ofertada no campo é pouco apetitosa para bancos ou financeiras, por ser pouco líquidas, demandando um esforço de execução pouco trivial”. Além do mais – continua ele -, se há produção agrícola ou maquinário para garantir, aquele bem ou aditivo, pode ser rapidamente desviado, transformando a garantia menos eficaz, gerando uma complexidade adicional dentro da agricultura quando você for conceder esse crédito. Por fim, outros exemplos são componentes externos, como o dólar, as cotações da soja e do milho, preço do fertilizante, do frete. “Tudo isso acaba compondo de forma a dificultar a precificação do risco a longo prazo. Então todos esses componentes acabam se somando e tornando o crédito concedido ao agro extremamente desafiador”.

Mas também existe a outra face da moeda, a do produtor desassistido do ponto de vista do crédito, justamente por conta das dificuldades. “Então, quem consegue resolver de uma maneira sustentável, em um bom prazo, esse problema, vai conseguir levar muito valor para o nosso campo. Quando falamos em crédito na agricultura, estamos falando do motor do agro. O produtor financia grande parte dos seus insumos, maquinário, armazém. Existem financiamentos que o produtor nem consegue alcançar atualmente, como renovação de pastagem ou aquisição de terras. Então tudo isso, acaba por compor de forma geral uma oportunidade em um mercado grande e desassistido e que precisa ser resolvido para que a agricultura se desenvolva mais ainda”.

Plano Safra

O Plano Safra é anunciado anualmente. “Tem vindo com um pouco de atraso [Plano Safra], porque justamente, o governo tem tentado fazer muito com o pouco disponível”, diz Bernardo Fabiani. No último ano, foram disponibilizados RF$ 178 bilhões para a comercialização e custeio, ou seja, para aquisição de insumo e giro na safra e mais R$ 174 bilhões para investimento, recursos utilizados para aumentar a produtividade da lavoura.

Bernando Fabiani, entrevistado do Sou Agro neste domingo: crédito rural
Bernando Fabiani, entrevistado do Sou Agro neste domingo: crédito rural

Colosso brasileiro

Na ótica de Fabiani, o sistema nacional de crédito é uma política pública de sucesso, que permitiu à agricultura brasileira a expansão de uma subsistência do Sul do País para esse colosso que é hoje no cerrado e norte do Brasil. “Essa política pública serviu por muito tempo ao seu próprio, mas isso mudou. Hoje, somente o crédito subsidiado não é mais suficiente para suprir a agricultura brasileira. A política pública mais inteligente dos últimos anos foi a mudança de ênfase do crédito para o seguro. Isso é uma tendência observada em outros países, uma maneira encontrada para alavancar o capital disponível”.

O entrevistado analisa que um dos fatores de risco com os quais os financiadores estão acostumados é justamente pertinente ao clima. “O financiador não entende que ele pode ter que arrolar uma dívida, caso o produto perca a lavoura ou não consiga plantar. E a contrapartida para isso, é justamente o seguro. Se o produtor está segurado, o financiador sente-se mais confortável em fornecer o crédito”.

(Vandré Dubiela/Sou Agro)

 

(Vandre Dubiela/Sou Agro)

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