Já pensou em hidromel funcional com levedura probiótica? Pois existe!

Fernanda Toigo

Fernanda Toigo

Foto: Alexsander Marques

No interior do Paraná, no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), campus de Toledo, pesquisadores estão transformando uma bebida milenar em inovação com potencial para impactar tanto a indústria de alimentos quanto a saúde humana. O que antes era apenas mel, água e fermento, agora carrega vida microscópica capaz de fortalecer o intestino e, talvez, até mudar o mercado: nasce o hidromel funcional com levedura probiótica.

A criação é do pesquisador William Colombo, juntamente com a Profa. Dra. Mônica Lady Fiorese, em parceria com as estudantes Keiti Maestre e Emanuelly Sulzbacher, e os professores Edson Antônio da Silva e Fernanda Rengel dos Passos, que aliam conhecimento científico à paixão por bebidas artesanais. Inspirado por antigas tradições e pelas novas demandas de consumidores conscientes, eles têm se dedicado à fermentação controlada de microrganismos benéficos em um ambiente pouco usual: o hidromel, uma bebida alcoólica feita à base de mel, com registros históricos que remontam a milhares de anos.

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“Durante a iniciação científica trabalhávamos com microrganismos probióticos, depois de aprender o processo de fermentação comecei a produzir bebidas em casa, primeiro hidromel depois cerveja, surgindo naturalmente a ideia de unir o interesse pessoal com a pesquisa: usar os microrganismos probióticos do laboratório para produção de hidromel, visto que não havia nada na literatura sobre isso naquele momento”, explica o doutorando.

O resultado é uma bebida levemente ácida, dourada e uma complexidade gustativa rara — mas o destaque está no que não se vê: bilhões de leveduras vivas que atuam diretamente no equilíbrio da microbiota intestinal. “O que propomos com o hidromel probiótico é uma releitura da bebida milenar. O diferencial está na adição da levedura Saccharomyces boulardii, um microrganismo probiótico amplamente estudado por seus efeitos benéficos à saúde intestinal.  Ao incorporar a levedura ao hidromel, buscamos unir as propriedades tradicionais da bebida com um potencial funcional adicional, tornando o consumo mais interessante do ponto de vista da saúde”, menciona a professora Mônica.

Os efeitos funcionais do hidromel probiótico desenvolvido pelos pesquisadores da Unioeste, estão diretamente ligados à presença da levedura Saccharomyces boulardii. Ao contrário das leveduras tradicionais usadas na fermentação alcoólica, a S. boulardii é capaz de sobreviver ao ambiente ácido do estômago e à ação da bile, garantindo sua atuação no trato gastrointestinal. Entre seus principais benefícios estão a modulação da microbiota intestinal, a inibição de microrganismos patogênicos e a redução de episódios de diarreia, especialmente aqueles relacionados ao uso de antibióticos ou infecções intestinais.

Para a docente da Unioeste, Mônica Lady Fiorese, por se tratar de um produto que combina características de bebida alcoólica e alimento funcional, o hidromel probiótico demanda atenção em duas esferas regulatórias distintas. “Do ponto de vista da bebida, ele é enquadrado como fermentado vegetal e precisa seguir as normas do MAPA, que regulam desde o processo de produção até o registro e a rotulagem — incluindo padrões de identidade, teor alcoólico e controle de qualidade. Ao mesmo tempo, por conter microrganismos vivos com potencial efeito benéfico à saúde, a bebida também se insere nas diretrizes da ANVISA. Isso exige que a viabilidade dos microrganismos seja comprovada, bem como sua segurança e efetividade. Na prática, isso significa que, para que o hidromel probiótico chegue ao consumidor final, é necessário um processo tecnológico que assegure a estabilidade dos probióticos ao longo do tempo”, diz.

Por trás das equações e análises, há também um gesto humano: a tentativa de reinventar algo antigo para cuidar do futuro. E isso, mais do que ciência, é poesia engarrafada. “E o diferencial do hidromel desenvolvido é que ainda é possível agregar valor na biomassa gerada, que antes seria vista como um resíduo, visto que esta biomassa seja de origem probiótica pode ser usada como um aditivo em produtos alimentícios e dependendo do grau de processamento até como medicação”, finaliza o pesquisador.

 

(Com Alexsander Marques)

Autor: Fernanda Toigo

Fernanda Toigo

Fernanda Toigo. Jornalista desde 2003, formada pela Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Cascavel. Iniciou sua carreira em veículos de comunicação impressos. Atuou na Assessoria de Comunicação para empresas e eventos, além de ter sido professora de Jornalismo Especializado na Fasul, em Toledo-PR. Em 2010 iniciou carreira no telejornalismo, e segue em atuação. Desde 2023 integra a equipe de Jornalismo do Portal Sou Agro. Possui forte relação com o Jornalismo especializado, com ênfase no setor do Agronegócio.

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