A revolução tecnológica do agronegócio pode impactar o desenvolvimento da indústria
A indústria poderá se beneficiar amplamente da revolução tecnológica do agronegócio brasileiro. É o que se depreende da exposição feita por Alexandre Nepomuceno, o chefe-geral da Embrapa Soja, na reunião do Conselho Superior do Agronegócio (Cosag), da FIESP, na semana passada em São Paulo (SP). O objetivo da Cosag, na reunião foi debater como a indústria deve se estruturar para aproveitar cada vez mais os desenvolvimentos tecnológicos do agronegócio, carro-chefe da economia brasileira.
Alexandre Nepomuceno, apresentou as perspectivas da biotecnologia e de novas técnicas de melhoramentos de plantas no Brasil. “Estamos passando por várias revoluções tecnológicas. Duas muito importantes no agronegócio. Uma é a digital com o uso de drones, sensores para medição em tempo real de sentenças e doenças, imagens de satélite, entre outras. A outra é a da genética. A biotecnologia é uma ferramenta muito importante, vai continuar sendo, principalmente, agora ajudando na bioeconomia e transformando as matérias-primas do agro para a química industrial”, destaca Nepomuceno.
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Durante o evento, Nepomuceno relatou o histórico de polêmicas sobre a entrada dos transgênicos no Brasil, inicialmente por meio da soja Roundup Ready (RR), principalmente porque a técnica utiliza genes de diferentes espécies no DNA da planta ou animal em estudo. “Apesar da polêmica, a tecnologia se consolidou e trouxe benefícios como a redução no uso de inseticidas e a viabilização do sistema de plantio direto em larga escala, entre outros exemplos, com o advento das plantas resistentes a herbicidas”, afirma.
Para dar uma visão do cenário atual, Nepomuceno mostrou os benefícios da edição gênica, técnica que consegue modificar genes e rotas metabólicas, da própria espécie em estudo, para resolver problemas agrícolas. A tecnologia de edição de genomas permite alterar partes do DNA da própria espécie, modulando características desejáveis, sem a necessidade de introdução de DNA de outras espécies, preservando a biossegurança e reduzindo os custos de colocação no mercado de tecnologias de base biotecnológica.
“No caso da soja, por exemplo, consultamos a própria biodiversidade da espécie, por meio do Banco de Germoplasma com mais de 65 mil tipos de soja para buscar características de interesse, como a resistência a doenças”, explica. “A vantagem é que a edição gênica acelera a geração de cultivares, de forma rápida, simples e eficiente, tornando-se uma ferramenta importante para ser utilizada junto aos métodos tradicionais de melhoramento”, avalia.
Além disso, Nepomuceno bordou uma técnica de engenharia genética que vem sendo refinada em todo o mundo que é do RNAi (RNA interferente ou RNA de interferência). “É um mecanismo que inicia a expressão gênica ou dificulta a tradução de genes específicos em proteínas”, explica Nepomuceno. Por meio dessa técnica, é possível ativar um mecanismo de silenciamento gênico natural em seres vivos, no qual o cientista busca silenciar um gene vital do organismo a ser batido, seja ele uma bactéria, um vírus, um inseto ou mesmo uma planta daninha.
“Já existem, no mercado, medicamentos e produtos para controle de práticas caseiras, por exemplo, com essa tecnologia. E em 2024, o governo americano liberou, o primeiro produto de uso comercial na agricultura a base de RNAi para controle de insetos que atacam a batata. Essa tecnologia tem potencial para ser os novos herbicidas, inseticidas e fungicidas, preparados de forma mais sustentável para o meio ambiente e outros seres vivos, uma vez que é espécie específica, ou seja, atua somente no alvo do problema”, diz.
O chefe da Embrapa Soja também contextualizou o avanço da bioeconomia, que vem mudando a matriz econômica de fóssil para uma economia de química verde. “Cada vez mais vamos usar produtos da agricultura na química fina para produzir biocombustíveis e outras matérias como a borracha dos pneus, entre outros produtos”, diz.
A Embrapa Soja vem utilizando genética avançada para desenvolver cultivares de soja altamente produtivas e com características de interesse como maior tolerância à seca e de melhor qualidade industrial.
“Apresentei o exemplo da soja alto oleico que estamos estudando, mas que já é realidade nos EUA. Na composição da soja, o ácido oleico está em torno de 20% e as especificações interessantes para combustão e outros usos, por exemplo, têm altos níveis de oleico. Nos EUA, adquirimos a biotecnologia para alterar a rota metabólica da soja para produzir variedades com mais de 70% de oleico. Essa é a quantidade de oleico presente em óleos mais nobres como o azeite, por exemplo”, ressalta.
Desta forma, Nepomuceno mostra que a distância entre a ciência básica e a aplicada é sendo reduzida. “O Brasil precisa investir mais nessas tecnologias e usar essas ferramentas. Quis apresentar o que está acontecendo agora, mas também uma visão para o médio e longo prazo, além de demonstrar como essas tecnologias vão quebrar paradigmas e afetar todo o setor”, defende.
“Se o setor industrial junto com o agronegócio estiver preparado, poderemos agregar muito mais valor aos nossos produtos agrícolas, ao invés de exportar mais da metade da nossa soja em grãos, por exemplo. Temos que dominar e adotar essas tecnologias rapidamente e enxergar tudo isso como oportunidade e não como problema”, conclui.
O deputado Pedro Lupion, presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, também participou da reunião, quando fez uma atualização sobre as principais pautas do agro no congresso nacional, e sobre como os parlamentares estão participando para conquistar avanços para o setor. Também participaram do evento o secretário de agricultura do estado de São Paulo Guilherme Piai Silva Filizzola, além de diversas autoridades e lideranças do setor agrícola brasileiro.
(Com Embrapa)