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Manejo correto do solo ajuda no bom desenvolvimento da lavoura mesmo com mudanças climáticas

Débora Damasceno
Débora Damasceno
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Na propriedade da família Ottoni, na localidade de Rincão do Bugre, interior do município de Soledade, Rio Grande do Sul foram registrados nos últimos 15 dias um volume de chuva de 400 milímetros. Mesmo com o excesso de chuvas, o agricultor e técnico agrícola Vinícius Ottoni destaca o bom desenvolvimento da lavoura. “A água que cai, infiltra. Se olhar as lavouras, mesmo com o excesso de chuvas, a água que escorre é limpa. Não estou perdendo nutrientes. O trigo está bom, não tenho problema de erosão. Se estivesse no plantio convencional, o solo teria ido embora”, comenta. A família cultiva 200 hectares (ha) de trigo, sendo 15% somente com produtos biológicos, 30 ha de milho e o restante da área com plantas de cobertura e já projeta uma área de 300 hectares para o plantio de soja na próxima safra de verão.

Nos últimos anos o Rio Grande do Sul registrou estiagens severas, que afetaram a produção agrícola. Neste inverno, com o retorno das chuvas e os altos volumes registrados, muito em função dos ciclones extratropicais que passaram pelo Estado nos meses de junho, julho e setembro, as práticas conservacionistas de solo têm mostrado que também são eficientes nos períodos chuvosos.

O extensionista rural e assistente técnico regional da Emater/RS-Ascar, Josemar Parise, explica que, diante do cenário atual de chuvas excessivas, mais uma vez se evidencia a necessidade de implantar práticas conservacionistas do solo e da água. “O manejo do solo adequado muda a realidade nos dois extremos climáticos”, ressalta.

Parise explica que, em períodos de seca, num solo bem manejado, com perfil construído, poroso e fértil, as culturas conduzidas possuem um sistema radicular mais robusto, profundo e sofrem menos impactos quando tem escassez de chuvas, pois conseguem buscar água em áreas mais profundas e, com isso, resistir mais aos períodos sem precipitações. “Quando ocorrem chuvas excessivas, como as dos últimos dias, a água infiltra mais, causando menos problemas sociais. Isso não ocorre em solos mal manejados, onde a compactação dificulta a infiltração da água da chuva, que se acumula na superfície e, no processo de erosão, arrasta solo fértil, sementes, calcário e matéria orgânica e resulta em um solo degrado e com baixa capacidade produtiva”, explica.

Ottoni relata que o manejo de solo é realizado em 80% da área da propriedade da família. “Depois de 22 anos fazendo o plantio direto bem feito, observei que estava degradando o solo. Então parei e começamos do zero. Com a assistência da Emater fizemos análise do solo e amostragem da compactação e da infiltração da água. O meu principal problema era a compactação do solo. A raiz não descia. Então descompactamos, fizemos o terraceamento para reter o excesso da chuva, começamos a plantar o terceiro cultivo com plantas de serviço e implantamos a rotação de culturas”, relata.

Segundo Parise, a primeira ação a ser realizada pelos agricultores interessados em investir na recuperação e conservação do solo e da água é realizar um diagnóstico sobre as propriedades físicas, químicas e biológicas do solo. A partir dessas informações, é possível identificar problemas e iniciar as ações na área. Entre as técnicas que podem ser implementadas estão a descompactação, a rotação de culturas e o uso de palhada e de plantas de cobertura na área cultivada, além da devida correção da acidez e fertilidade.

Outro aspecto, lembra Parise, é a conservação do solo e da água. “Sugerimos aos agricultores observarem as lavouras quando ocorrem chuvas volumosas, se essa água está infiltrando no solo, pois água que escorre é água que se perde e demora para retornar em forma de chuva. O bom manejo do solo é importante para conservar essa água, manter os fluxos e ter água disponível no solo para minimizar os efeitos quando ocorrem as estiagens”, frisa.

O agricultor ressalta os resultados obtidos com o trabalho de conservação, realizado há mais de uma década pela família. “A fertilidade do solo explodiu. Trabalho com manejo de solo há 12 anos e ainda falta muito para chegar na condição ideal. O custo de trabalhar com solos é dedicação e conhecimento. Quanto mais se trabalha solo, mas tu podes fazer. Percebi que estava fazendo certo quando vi minhocas na minha lavoura. A natureza disse que estou no caminho certo”.

Outro ponto destacado por Ottoni foi a produção, apesar dos três anos de estiagem severa que atingiu o Estado. “Mesmo com os anos difíceis que tivemos com as estiagens, a nossa lavoura produziu. Mesmo quando eu achei que perderíamos tudo, ainda colhemos cerca de 20 a 25 sacas por hectare em 2023. Essa produção foi sem água. No ciclo inteiro do verão, não tive 200 milímetros de chuva na lavoura. Manejo de solo é bom em todos os períodos: na falta de chuva, no excesso e no clima normal”, comenta.

É importante ressaltar ainda que o trabalho na área deve ser constante. Quanto mais tempo as técnicas de manejo adequado do solo forem utilizadas nas lavouras, maiores serão os resultados. “O que paga a conta da nossa produção é o solo. E só quem faz esse trabalho é a Emater que quer a vida do solo. Solo é conhecimento, manejo e dedicação. A nossa rentabilidade aumentou porque, como a fertilidade do solo aumentou, hoje eu preciso de menos insumos”, conclui Ottoni.

Agricultores interessados em implantar as técnicas de recuperação e conservação do solo e da água podem procurar os escritórios da Emater/RS-Ascar, vinculada à Secretaria Estadual de Desenvolvimento Rural (SDR), nos respectivos municípios.

(Com Emater/RS)

(Débora Damasceno/Sou Agro)

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