Cacau ganha cada vez mais espaço nas propriedades rurais
#sou agro| O processo de produção do chocolate bean to bar (do grão à barra) tem ganhado cada vez mais adeptos no Brasil. É um modelo comercial em que os chocolates artesanais são fabricados a partir das amêndoas do cacau.
A família do produtor João Dorismar da Paixão, por exemplo, cultiva o cacau de várzea na floresta do Rio Cassiporé, no extremo Norte do país, e produz o chocolate em uma fábrica no município de Oiapoque, no Amapá.
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“O cacau possui valor além da venda. Ele processado pode trazer mais valor agregado. Esse movimento bean to bar está crescendo muito porque as pessoas querem desfrutar de um produto tradicional e regional com o sabor da fruta e com qualidade que ela tem”, destacou João.
A paixão por produzir o cacau começou ainda na infância de Dorismar. “Eu acompanhava todo o cotidiano de uma comunidade ribeirinha, com meus avós, meus tios, minha mãe. E para nós era uma diversão, algo muito natural. A gente colhia a fruta e levava para processar em casa, de forma bem tradicional e artesanal”, explicou.
O tempo passou e João foi morar na cidade. Casou, teve dois filhos e aqueles momentos na infância, colhendo cacau com a família ficaram na lembrança. Depois de se aposentar, ele decidiu voltar às origens e com o apoio do Sindicato Rural de Oiapoque viu todo o potencial para o beneficiamento do fruto.
O cacau de várzea da floresta do Rio Cassiporé é diferenciado por conta do solo fértil com muita umidade. Depois de colhido, na beira do rio começa o processo de fermentação e secagem. Em seguida, as amêndoas são levadas para cidade de Oiapoque, onde fica a fábrica dos “Chocolates Cassiporé”.
“Nós pensamos em agregar valor às amêndoas e produzir o chocolate. Então fizemos o curso de chocolatier, aprendemos a fazer a barra 100% cacau, depois 50%, 70% e 81%”, disse a produtora Delcinda Oliveira Paixão e esposa de João Dorismar.
Com a amêndoa diferenciada, os chocolates da família Paixão caíram no gosto dos moradores e também dos turistas. Além das barras e da trufa, a família produz alfajor e brigadeiro.
A filha do casal, Flávia Gabriela Oliveira Paixão, afirmou que fez um brigadeiro em casa, utilizando uma barra, e que todos gostaram do sabor. “Percebi que podíamos vender. Começamos com o delivery, já que era na época da pandemia, e depois colocamos para vendar na loja”.
Na fábrica dos chocolates, em Oiapoque, há uma divisão na fabricação. A cada semana um tipo de chocolate é produzido, seja o tipo intenso, o alfajor, trufas e 100% cacau. Algumas embalagens dos produtos são feitas por artesões locais. O curso é oferecido pelo sindicato rural do município e realizado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) do estado.
“Hoje nós já temos 15 mulheres capacitadas para isso. Só quem tem a ganhar é a comunidade, junto com o município”, disse o presidente do Sindicato Rural de Oiapoque, Pedro Ivo de Sousa Araújo.
O processo é moroso até chegar nas embalagens. A amêndoa passa pela seleção, quebra, torra e refina. O cacau colhido é transformado no granulado nibis, que é a base para todos os produtos. Em épocas específicas, como a Páscoa, a família diversifica ainda mais o cardápio. A ideia é ampliar o negócio e exportar os produtos.
“Tenho muita dedicação e boa vontade nesse trabalho que é o desenvolvimento sustentável, com respeito à tradicionalidade e às pessoas. É possível trabalhar no interior, na agricultura, no extrativismo e na bioeconomia”, concluiu o produtor rural João Dorismar da Paixão.
(Com CNA)