Avança protocolo para atestar a sustentabilidade da produção de soja brasileira
O Programa Soja Baixo Carbono (PSBC) está avançando para a fase de proposição das diretrizes do protocolo que irá atestar a sustentabilidade da produção de soja brasileira, por meio da concessão do selo Soja Baixo Carbono (SBC) a sistemas de produção de soja que adotem tecnologias e práticas agrícolas que reduzam a intensidade de emissão de gases de efeito estufa (GEEs). Ainda no primeiro semestre de 2023 serão concluídas as diretrizes da metodologia que começará a ser validada na safra 2023/24 e continuará nesse processo por mais duas safras.
A jornada de inovação setorial para a construção do protocolo será compartilhada no 1º Fórum Soja Baixo Carbono, que está sendo realizado neste dia 11 de abril, em Londrina (PR). O Fórum marca o início das atividades conjuntas entre a Embrapa e as empresas apoiadoras do programa: Bayer, Bunge, Cargill, Coamo, Cocamar, GDM e UPL.
O Programa finalizou, em março de 2023, a série de oficinas técnicas internas com o envolvimento de, aproximadamente, 70 especialistas de 15 Unidades da Embrapa, onde foram levantados os temas relevantes e os desafios técnicos para a construção das diretrizes técnicas do programa. Também foram realizadas oficinas com as empresas-apoiadoras, visando identificar questões relevantes de mercado e de oportunidades para produtos soja baixo carbono. Com base nessas informações mapeadas, o programa entra agora na fase de definição das diretrizes técnicas e, no início do segundo semestre de 2023, inicia-se o processo de validação a campo do protocolo.
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As diretrizes trarão “o que medir e avaliar”, ou seja, o que as áreas candidatas precisam adotar para obter o selo SBC. Durante a validação a campo, vamos fazer os ajustes sobre o “como medir” para implementar as diretrizes e assim ter uma metodologia bastante assertiva, explica. A adesão ao selo será voluntária e o protocolo aplicado via certificação privada e de empresas especializadas (certificação de 3ª parte).
De acordo com o pesquisador Henrique Debiasi, da Embrapa Soja, a metodologia está focada na possibilidade de pagamento de serviços ambientais que poderão ser obtidas com eventuais bonificações advindos do selo SBC, financiamentos com taxas de juros mais atrativas, entre outros benefícios. “As mesmas práticas que reduzem as emissões de GEEs são as práticas que aumentam a produtividade e reduzem os custos, o que mostra que o produtor terá ganhos consequentemente”, destaca Debiasi. “O desafio técnico é que o custo de implantação seja compatível com benefícios. E que possamos atender as demandas de sustentabilidade do mercado”, declara.
Do ponto de vista da pesquisa, Debiasi destaca que outro desafio está relacionado ao fato da metodologia não ser apenas de verificação de conformidade – certificar que o produtor utilize boas práticas agrícolas – mas estabelecer parâmetros para comparar as áreas candidatas com o modal da região. “Outro desafio da metodologia é possibilitar que essas áreas sejam auditáveis, ou seja, demonstrem em números, de fato, o que é declarado em termos de redução das emissões ”, diz.
Validação a campo – De acordo com a pesquisadora Roberta Carnevalli, da Embrapa Soja, o protocolo passará por validação em, pelo menos, cinco lavouras-piloto em cada uma das cinco macrorregiões sojícolas, o que representa aproximadamente 25 áreas de diferentes regiões produtoras do Brasil. A partir da validação dos critérios do protocolo, será elaborado um memorial descritivo, em forma de normativa, para registro junto ao Ministério da Agricultura e Pecuária ou órgão indicado.
“O processo de validação precisa ser realizado com bastante critério, ao longo das três safras, para dar credibilidade às ações que devem ser implementadas pelos sistemas de produção candidatos a receber o selo SBC”, explica. “O protocolo precisa ser mensurável, reportável e verificável, com base em ciência, e ter aceitação internacional”, ressalta Carnevalli
A validação do protocolo será concluída em meados de 2026, seguida da operacionalização do selo SBC no mercado, fase que irá avançar paralelamente à obtenção dos resultados da validação dos critérios a campo. O escopo do PSBC prevê que a redução das emissões de GEEs na área candidata seja quantificada, utilizando-se como referência (linha de base) os sistemas de produção típicos (modal) de cada região. Esses sistemas, que contemplam as principais culturas agrícolas utilizadas e as práticas de produção adotadas na região já foram definidos e caracterizados pelo PSBC.
O pesquisador Henrique Debiasi explica que o sistema modal na região de Londrina (PR), por exemplo, utiliza a soja no verão e o milho na segunda safra. De acordo com o pesquisador, nessa região, os registros mostram pouca utilização de rotação de culturas e sistema plantio direto (SPD) com ocasionais preparos de solo.
“Assim, um sistema de produção candidato ao selo SBC nessa região, ao adotar o sistema plantio direto (SPD) em sua plenitude – sem revolvimento do solo e com maior aporte de palha e raízes – irá acumular mais carbono no solo, na forma de matéria orgânica, do que o sistema modal. Esse aumento do carbono estocado no solo em relação ao modal será um dos critérios considerados no protocolo para atribuição do selo”, explica Debiasi.
“De qualquer forma, é importante destacar que não queremos criticar o sistema de produção praticado nas regiões produtoras, mas estimular a adoção das boas práticas agrícolas, o que consequentemente trará redução nas emissões de GEEs e fixação de carbono no solo”, defende.
Histórico de dados – A Embrapa já possui um histórico de dados com a quantidade de carbono estocado no solo em sistema de produção típicos de soja nas principais regiões produtoras do grão no Brasil. Nessa fase, o PSBC está quantificando a média desses estoques. “A partir desse número regional parametrizado, as áreas que conseguirem ter valores mais altos de estoque de carbono que o modal da região, já são candidatas à obtenção do selo SBC”, diz Debiasi.
O Programa está contemplando ainda o tipo e a quantidade de insumos utilizados e outras boas práticas de manejo a campo, o que também impactam nas emissões de CO2. A proposta é que todas as boas práticas sejam contabilizadas e auditadas para serem comparadas com o modal da região. “Além do SPD, há um conjunto de tecnologias acessíveis aos produtores e que, quando adotadas, reduzem as emissões de GEEs em relação aos sistemas modais, sem prejuízo algum à produtividade, mostrando a adicionalidade necessária para concessão do selo SBC”, explica o pesquisador Marco Antonio Nogueira, da Embrapa Soja.
De acordo com Nogueira, são exemplos de tecnologias sustentáveis, as boas práticas para o uso eficiente de fertilizantes, a substituição parcial ou total de insumos químicos por bioinsumos, as cultivares mais produtivas e com tolerância/resistência a estresses bióticos e abióticos, o manejo integrado de pragas, doenças e plantas daninhas e a fixação biológica do nitrogênio (FBN) .
“A aplicação de nitrogênio mineral na soja, prática desnecessária, mas que ainda é encontrada em parte do sistema de produção modal de algumas regiões, pode implicar na emissão de mais de 100 kg/ha de CO2-equivalente. Essa prática deve ser substituída pela adoção plena da FBN, o que é mais um exemplo de adicionalidade que será computada no protocolo SBC”, salienta Nogueira.
Outra prática mitigadora é o Manejo Integrado de Pragas (MIP) e de doenças (MID). Levantamento realizado pela Embrapa em parceria com o Instituto do Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR) comprova que as áreas que adotam o conjunto de práticas do MIP e MID conseguem reduzir em 30% a aplicação de inseticidas e fungicidas, respectivamente.
“Um menor número de aplicações implica em menor consumo de diesel por hectare, reduzindo de forma direta as emissões de GEEs. O menor consumo de agrotóxicos também diminui indiretamente as emissões, pois há produção de GEEs na fabricação, armazenamento e transporte desses produtos”, explica Nogueira.
A Embrapa Soja e Embrapa Meio Ambiente têm dados que mostram que a intensidade de emissões de efeito estufa (IGEE) relacionadas às operações mecanizadas (uso de diesel) e o uso de insumos químicos (fertilizantes e agrotóxicos) nos sistemas de produção típicos (modais) estão em torno de 400 kg de CO2-equivalente por tonelada de grãos produzidos.
O PSBC estima que o potencial de redução das emissões de GEEs poderá ser de até 50%, ao se adotar as tecnologias sustentáveis preconizadas pelo PSBC. “Vale destacar que a soja brasileira, mesmo no sistema de produção modal, é mais sustentável que a de outros países produtores. O selo SBC sinaliza a intenção do Brasil de melhorar ainda mais os aspectos de sustentabilidade, o que certamente irá agregar valor à soja produzida”, diz Nogueira.
Com Embrapa