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PECUÁRIA

Prevenção de doenças em caprinos leiteiros é uma necessidade, diz pesquisa

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Débora Damasceno
Débora Damasceno

#souagro| Um estudo sobre a prevalência de doenças infecciosas em rebanhos de caprinos leiteiros aponta a necessidade de um plano de biosseguridade para prevenção, controle e monitoramento das enfermidades mais presentes, reduzindo os riscos de mortes, perdas produtivas e até mesmo problemas de saúde pública. A pesquisa foi feita na divisa entre os estados da Paraíba e Pernambuco (região que concentra cerca de 70% da produção de leite de cabra do País), mas é válida para chamar atenção de todos os estados onde há criação dos animais.

A elaboração das bases do plano deverá acontecer nos dois primeiros meses de 2023, em uma proposta participativa, reunindo produtores rurais, instituições públicas e privadas em sua construção. A proposta é de integrar ações de assistência técnica, capacitação, rede de laboratórios para diagnóstico das doenças, melhoria de serviços de vigilância epidemiológica, além de treinamentos sobre educação sanitária e boas práticas para produtores rurais.

 

A pesquisa, coordenada pela Embrapa, investigou a prevalência de seis doenças (Agalaxia Contagiosa, Artrite Encefalite Caprina, Brucelose Ovina, Clamidiose, Paratuberculose e Toxoplasmose) em 51 propriedades rurais de 19 diferentes municípios da região, que compreende os territórios do Cariri Paraibano e Sertão de Pernambuco. No experimento, 937 animais foram identificados e coletadas amostras de sangue para exames sorológicos.

Os resultados de soroprevalência mostraram que algumas doenças foram verificadas, como a Agalaxia Contagiosa, infecção que pode causar prejuízos na produção de leite. Ela se mostrou presente em 11% dos animais avaliados e em 51% das propriedades rurais analisadas. Toxoplasmose (18,5% dos animais) e Clamidiose (16,1%) apresentaram os maiores percentuais de prevalência.

*Percentual de animais com soroprevalência positiva, entre os 937 avaliados

                   

 

Para os integrantes da equipe que realizou a pesquisa, os dados merecem atenção de gestores públicos e do setor produtivo, pois as doenças trazem prejuízos diretos e indiretos aos rebanhos (como diminuição da produção, elevação de custos com tratamento, necessidade de descartar animais), como também pode afetar a qualidade e, por consequência, a comercialização de produtos.

“A região possui uma organização da produção em arranjos produtivos locais, com cooperativas e associações que, em conjunto, buscaram esforços de articulação para a comercialização do leite caprino. A implementação de um plano de biosseguridade visa maior e melhor obtenção de produtos seguros e de qualidade”, explica Selmo Alves, pesquisador da área de Sanidade Animal da Embrapa Caprinos e Ovinos (CE).

 

A proposta de um plano deverá articular produtores rurais e instituições, públicas e privadas, envolvidas com o segmento caprinocultura leiteira, com o objetivo de mitigar a presença de microrganismos causadores das doenças no ambiente das propriedades rurais. “Ele será baseado em um conjunto de ações integradas, visando estabelecer melhoria no manejo geral, sanitário e bem-estar dos rebanhos. Essa implantação deve ser baseada em capacitação, educação continuada e na adesão voluntária, com as devidas responsabilidades estabelecidas”, afirma Rizaldo Pinheiro, também pesquisador de Sanidade Animal da Embrapa.

Os cientistas reforçam que a conscientização e engajamento de técnicos e do setor produtivo na adoção de boas práticas é fundamental, pois os cuidados com manejo sanitário e nutricional podem reduzir bastante a incidência das doenças infecciosas nas propriedades . Outro aspecto a ser considerado é a compra de animais provenientes de outros rebanhos, que, se não forem observadas as recomendações de manejo, pode levar aos rebanhos animais doentes que contaminem os demais.

 

Foto: Gonzaga Queiroz

 

Perdas produtivas

Resultados preliminares do estudo foram compartilhados com os agricultores das propriedades analisadas e com gestores públicos dos municípios envolvidos, por meio de laudos, boletins técnicos e reuniões realizadas nos últimos meses de 2021. Uma das preocupações compartilhadas nesses encontros foi o impacto das doenças na produção do leite caprino da região da divisa, que possui um rebanho com cerca de 130 mil cabeças, e produção de nove milhões de litros por ano, aproximadamente.

Os pesquisadores destacam que as manifestações dessas doenças podem resultar em problemas na produção e qualidade do leite, distúrbios reprodutivos, morte de animais, além de comprometer o comércio do leite e seus derivados. “Algumas doenças como a Agalaxia Contagiosa e a Artrite Encefalite Caprina causam a mastite, o que ocasiona alteração físico-química e biológica do leite determinando comprometimento da qualidade e deterioração do produto”, acrescenta Pinheiro.

Esse compartilhamento de informações sobre prevalência de doenças nos rebanhos da região e a proposta de um plano de biosseguridade foram considerados contribuições importantes, na visão de agentes públicos e produtores rurais participantes dos encontros. Segundo Grazielle Sobrinho, produtora rural de Livramento (PB), as informações sobre as enfermidades apresentadas pela Embrapa a ajudaram exatamente em um momento em que ela ingressa na atividade da caprinocultura leiteira. “Nem sempre a gente tem como identificar as doenças, por falta de recursos e de técnicos mais experientes no assunto”, frisa ela.

(A pesquisa completa da Embrapa está AQUI)

(Débora Damasceno/Sou Agro)