PECUÁRIA
Guerra eleva custos da produção pecuária
#souagro| A produção pecuária tem vivido um cenário instável nos últimos meses. A guerra trouxe muitos impactos para o setor e um deles foi o aumento no custo da produção. Mas ao longo dos três primeiros meses de 2022 muita coisa ocorreu e refletiu no setor. Prova disso está na análise feita durante esses três meses em uma parceria entre CNA-Senar e o Cepea, da ESALQ/USP.
O estudo mostrou que as margens operacionais dos sistemas de produção de pecuária de corte nacionais fecharam o primeiro trimestre de 2022 em queda. Dentre outros fatores, esse cenário esteve atrelado ao cenário geopolítico internacional sobre o mercado nacional de insumos e ao recuo real nos preços dos animais comercializados no período. Entre janeiro e março, as margens líquidas (resultado da subtração do COT – Custo Operacional Total – na receita bruta) acumularam queda de 7,96% na média nacional dos sistemas de produção de cria, devido à alta de 3,77% no COT e à redução de 2,62% na receita bruta. No caso dos sistemas de recria e engorda, a redução de 0,68% no COT observada de janeiro a março – influenciada pela queda nos preços de reposição – foi suplantada pelo recuo de 1,76% na receita das propriedades amostradas, resultando, também, na retração das margens. Para o mesmo período, os sistemas de recria e engorda apresentaram diminuição de 5,25% na margem líquida, também na média nacional.
[caption id="attachment_23337" align="aligncenter" width="927"] Variação acumulada das margens líquidas de sistemas de produção de Cria e de Recria e Engorda, na média nacional das propriedades típicas do Projeto Campo Futuro. Fonte: Projeto Campo Futuro (CNA/Senar). Elaboração: CEPEA-ESALQ/USP, CNA.[/caption]
O conflito entre a Rússia e a Ucrânia tem impactado intensamente os preços de insumos de interesse do setor agropecuário brasileiro, em um momento em que a economia global ainda não havia se recuperado dos efeitos da pandemia de covid-19. A análise do comportamento dos custos de produção da pecuária de corte corrobora a afirmação de que o conflito europeu trouxe efeitos diretos e indiretos à bovinocultura de corte do Brasil. No segmento de combustíveis, observa-se, desde janeiro de 2022, um aumento de 14,7% nas cotações do diesel comum. Os preços do combustível vêm acompanhando a tendência observada em 2021 – até março do ano passado, os valores já haviam subido 15,4%.
A propriedade típica de ciclo completo em Redenção (PA), que trabalha com integração lavoura-pecuária, apresentou alta de 8,3% nos seus gastos com a mecanização, sendo as operações mecânicas responsáveis por 17,4% do COT em março/22 para tal sistema. Já no sistema de cria extensiva de Araguaçu (TO), observou-se aumento de 9,0% nos custos de mecanização nos primeiros três meses de 2022, representando 17,9% do COT em março. Além do efeito nos custos de mecanização dos sistemas, é importante destacar que o avanço observado nos preços de combustíveis acaba afetando a precificação de todos os insumos, uma vez que impacta nos seus custos de transporte.
Dentre os grupos de insumos utilizados pelas propriedades de pecuária de corte, a categoria de fertilizantes, além de ter seus preços finais impulsionados pela alta nos custos de frete, também tem influência direta do atual cenário global. Mesmo com as estimativas de que o estoque brasileiro de fertilizantes é suficiente para suprir as demandas do país até outubro de 2022, é importante destacar o papel da Rússia como parceiro comercial estratégico do mercado de fertilizantes, dada a alta dependência brasileira das importações de tais produtos.
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