AGRICULTURA
Como a seca impactou no preço do milho
Os preços do milho atingiram altos patamares no mercado brasileiro ao longo de 2021. O impulso veio dos baixos estoques da safra 2019/20 e sobretudo de preocupações com os impactos do clima sobre a semeadura e o desenvolvimento da safra 2020/21. Em termos globais, a produção foi menor.
Na primeira safra, a produtividade foi limitada pela estiagem durante o desenvolvimento das lavouras, principalmente no Sul do País. Segundo dados da Conab, a área de milho na primeira safra 2020/21 aumentou 2,6%, mas a produtividade caiu 6,2%, resultando em produção de 24,7 milhões de toneladas, 3,8% inferior à da temporada anterior. Esse cenário, atrelado aos menores estoques de passagem, elevou os preços do cereal nos dois primeiros meses de 2021.
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Ainda no primeiro trimestre, uma parte relevante da semeadura do milho da segunda safra foi concluída fora da janela considerada ideal. Com o atraso das atividades de campo e o agravamento da estiagem, começou a ganhar força a perspectiva de menor oferta no segundo semestre, ambiente que sustentou o movimento de alta nas cotações domésticas até maio, mês em que a média atingiu R$ 100,72/saca de 60 kg, recorde nominal da série histórica do Cepea. Já em junho, a proximidade da colheita pressionou os valores do cereal.
No balanço do primeiro semestre (entre 30 de dezembro/20 e 30 de junho/21), o Indicador ESALQ/BM&FBovespa (Campinas –SP) avançou 14%. A média no primeiro semestre, de R$ 91,71/saca de 60 kg, ficou 76,8% acima da do mesmo período de 2020, em termos nominais.
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No início do segundo semestre, geadas registradas no Centro-Sul do País – sobretudo no Paraná e em Mato Grosso do Sul – comprometeram ainda mais a produtividade das lavouras de segunda safra, que, vale lembrar, já estavam prejudicadas devido à estiagem e ao atraso na semeadura. Atentos a esse cenário, vendedores se afastaram do spot nacional, mesmo em pleno período de colheita, e os preços do milho voltaram a subir em julho e agosto.
De fato, o clima comprometeu o desenvolvimento do milho de segunda safra. Foram colhidas 60,74 milhões de toneladas de milho, quantidade 19% inferior à da temporada anterior. Segundo a Conab, em termos nacionais, a área semeada cresceu 9%, mas a produtividade caiu 26%. Para terceira safra, a produção foi de 1,56 milhão de toneladas, queda de 15% frente à de 2019/20.
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No agregado (considerando-se as três safras), a produção brasileira totalizou 87,05 milhões de toneladas, 15% abaixo da de 2019/20. Se somada a produção total com o estoque inicial (de 10,6 milhões de toneladas) e com a importação (prevista em 2,3 milhões toneladas), a disponibilidade total da safra 2020/21 é estimada em 100,35 milhões de toneladas. O consumo interno ficou em 72,33 milhões de toneladas, gerando excedente exportável de 28 milhões de toneladas, o menor desde a safra 2015/16 – dados da Conab.
A quebra na produção da segunda safra aliada e o alto preço doméstico, por sua vez, fizeram com que vendedores priorizassem o consumo interno, em detrimento das exportações. Na parcial da safra 2020/21 (de fevereiro/21 a dezembro/21), as exportações brasileiras somaram apenas 18,15 milhões de toneladas, volume 46% inferior ao do mesmo período da temporada passada, de acordo com dados da Secex.
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Já entre setembro e novembro, os valores do milho recuaram, influenciados pela retração de compradores, pelo avanço da colheita da segunda safra, pela redução das exportações e pela semeadura da temporada de verão 2021/22 em condições favoráveis. Em dezembro, por outro lado, a disponibilidade enxuta e o clima seco afastaram vendedores do spot, voltando a sustentar os preços domésticos. No balanço do segundo semestre de 2021, o Indicador ESALQ/BM&FBovespa subiu 0,87%, com média do período a R$ 91,95/saca de 60 kg, 40,7% superior à de julho a dezembro de 2020, em termos nominais.
Caso as estimativas da Conab se concretizem, as exportações brasileiras na temporada 2020/21 (fevereiro/21 a janeiro/22) devem somar 19,2 milhões de toneladas. Os estoques finais, em janeiro/22, podem atingir 8,8 milhões de toneladas, 25,3% abaixo da média das últimas três safras e o menor volume desde a safra 2016/17. Com isso, a temporada 2020/21 deve terminar com a disponibilidade inferior à das últimas safras. Em termos mundiais, a produção na safra 2020/21 é estimada em 1,12 bilhão de toneladas, quantidade 0,28% acima da anterior, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).
Entre os três maiores produtores, Estados Unidos, China e Brasil, houve aumento na produção apenas para o primeiro, de 3,6%. Já para China e Brasil, as quedas foram de 0,04% e 14,7%, com respectivas produções de 260 milhões de toneladas e de 87 milhões de toneladas. O consumo da temporada foi estimado pelo USDA em 1,14 bilhão de toneladas, redução de 0,17% em relação à anterior. Com a queda na produção mundial e no consumo, os estoques finais caíram 4,4%, estimados em 292,68 milhões de toneladas.
Esse ambiente apresenta a relação estoque/consumo de 25,6%, contribuindo para a sustentação dos preços. As transações internacionais são estimadas em 186,47 milhões de toneladas, aumento de 11% em relação às da temporada anterior. Os Estados Unidos seguem como principal exportador mundial do cereal, seguidos por Argentina, Brasil e Ucrânia.
(FONTE: Cepea)