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Os impactos da seca e da crise hídrica no Paraná

Vandre Dubiela
Vandre Dubiela

 

A partir desta quarta-feira, o abastecimento de água em Jandaia do Sul, no Vale do Ivaí, entrará em sistema de rodízio, no modelo 24 horas com água e 24 horas de suspensão. Na quinta, a população de Jardim Alegre, na mesma região, também passará a ser abastecida em sistema de rodízio.

Atualmente, 14 cidades da Região Metropolitana de Curitiba, incluindo a Capital, têm o fornecimento de água durante 36 horas, com suspensão de até 36 horas. E Pranchita e Santo Antônio do Sudoeste estão em rodízio mais ameno, com suspensão do abastecimento durante oito horas a cada quatro dias.

Outras cidades do Estado seguem em alerta no abastecimento. No Norte Pioneiro, Santo Antônio da Platina, Ibaiti, Quatiguá, Siqueira Campos, Carlópolis e Jacarezinho. Na Região Oeste/Sudoeste, Goioerê, Iretama e Medianeira. Em Cascavel, desde o início do mês, a Sanepar passou a utilizar a captação do Lago Municipal para complementar a produção e atender a demanda da cidade.

A implementação do rodízio e o alerta para uso racional da água foram adotados pela Sanepar para mitigar os efeitos da crise hídrica que atinge o Paraná há mais de um ano, uma estiagem sem precedentes pelo menos nos últimos 50 anos. Chuvas abaixo da média têm reduzido a vazão de rios e poços utilizados para abastecimento humano.

O rodízio tem evitado que sistemas de abastecimento entrem em colapso, permitindo que a água seja distribuída de forma regular para toda a população e não prejudique, assim, moradores das regiões mais altas e distantes dos pontos de distribuição.

O diretor de Meio Ambiente e Ação Social da Sanepar, Julio Gonchorosky, destaca que a condição atual evidencia os graves efeitos da degradação ambiental em todo o planeta. “Além de fazer uso racional da água, se faz necessária a preservação de florestas e mananciais. No caso da Região Metropolitana de Curitiba, por exemplo, é imperiosa a preservação da Serra do Mar, que garante água para abastecimento público na região”.

A seca provoca impactos que vão além do fornecimento de água para abastecimento público. Já são contabilizadas perdas consideráveis na produção agrícola, há um aumento na ocorrência de incêndios em todo o Estado e também da incidência de problemas de saúde.

No início de agosto, o governo estadual publicou o quarto decreto de emergência hídrica no Paraná, em sequência, reconhecendo a gravidade da estiagem e que prioriza o uso da água para abastecimento.

Em julho, houve 1.505 focos de queimadas no Paraná, 125% a mais que no mesmo mês do ano passado, quando 669 ocorrências foram confirmadas. Nos primeiros dias de agosto, as ocorrências mais do que dobraram, passando de 674 registros entre os dias 1º e 8 de agosto, contra 329 no mesmo período de 2020.

O alerta de risco alto de incêndio continua vermelho na maior parte do Estado, conforme mapa divulgado no fim de semana pelo Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná.

 

O impacto no campo

No Paraná, as perdas provocadas pela estiagem repercutem em toda a cadeia alimentar. Sem chuvas significativas no momento do plantio de grãos, muitos produtores atrasaram a semeadura, fazendo com que a produção sofresse impacto de pragas e de geadas fora dos ciclos convencionais.

A quebra na produção de milho foi de 58% na segunda safra em relação ao mesmo período da cultura no ano passado. Segundo o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, a estimativa inicial era colher 14,6 milhões de toneladas de milho em 2,5 milhões de hectares no estado. Sem chuvas suficientes, os agricultores paranaenses colheram 6,1 milhões de toneladas na mesma área plantada. Isso significa um prejuízo de R$ 12 bilhões na economia.

O chefe do Deral, Salatiel Turra, explica que como consequência o grão está 124% mais caro do que no ano passado, com reflexos na criação de frango, peixe e porco. “O milho é a principal proteína na produção de frango, por exemplo. Os produtores terão que importar o grão, causando impacto no preço dos alimentos para o consumidor final”, afirma.

Maior produtor de feijão no país, o Paraná também viu diminuir em 48% a colheita das duas primeiras safras deste ano. Das 539 mil toneladas esperadas, foram colhidas 282 mil toneladas. “Estamos vivendo uma das piores secas dos últimos tempos, com redução bastante significativa na produção e na produtividade agrícola. Os produtores rurais ficam descapitalizados e diminuem o consumo, impactando toda a economia”, diz Salatiel Turra.

 

Fonte: AEN

 

Foto: Gilson Abreu/AEN

 

(Vandre Dubiela/Sou Agro)