Da fazenda à ceia: Saiba de onde vem os alimentos mais tradicionais no Natal
O final de ano chegou e com ele vieram as comidas típicas das festas de Natal e de Ano Novo. Apesar de estarem na mesa do brasileiro todo ano, poucos sabem de onde vem cada alimento consumido nesta época. Peru e o frango Chester, as principais proteínas das festas, são produzidos no Brasil, mas tratando-se das frutas natalinas, como pêssego e cereja, nem todas são produzidas aqui. Confira a seguir tudo sobre as comidas típicas das festas de final de ano.
As Carnes do Natal
Chester
Por um longo tempo pairava um mistério sobre o Chester, porque a Perdigão, marca que registrou o nome da proteína, não divulgava dados sobre ela. Mas as dúvidas foram esclarecidas: o Chester nada mais é do que um frango com mais peito, veio por meio do melhoramento genético animal.
O Chester do Natal — e a carne de frango do ano inteiro — vem majoritariamente do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Segundo dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a agroindústria paranaense é responsável por abater 39,47% dos frangos criados no país, seguido por Santa Catarina (13,8%) e Rio Grande do Sul (11,4%).
Para 2024, a ABPA estima uma produção de até 14,9 milhões de toneladas de carne de frango. Além do mercado interno, sobra para exportação, liderando as vendas globais. Até novembro foram embarcadas 4,8 milhões de toneladas. O maior comprador de carne de frango é a China, que, no período, importou 508,7 mil toneladas.
Peru
Não existe Natal sem peru, para muita gente que preza pela tradição da data. A ave, que não é natural do Brasil, tem presença registrada na ceia. O motivo é incerto, mas sabe-se que o peru foi domesticado por povos indígenas astecas no centro e no sul do México há séculos e por outras tribos no sudoeste dos Estados Unidos, onde a proteína se tornou símbolo das épocas festivas.
Hoje, o peru da ceia dos brasileiros é 100% produzido no país, principalmente nos estados da região Sul. No ano passado, foram cerca de 133,3 mil toneladas e 47,6% desse volume é destinado ao abastecimento interno. A carne de peru brasileira também é consumida lá fora. Em 2024, o país exportou 58,5 mil toneladas, por US$ 140,9 milhões (R$ 862,4 milhões na cotação atual). Os principais compradores são países da América, África e União Europeia.
Frutas de Final de Ano
Pêssego
Uma mesa de Ceia de Natal precisa das cores das frutas dessa época. O pêssego, com seu tom rosado e alaranjado, é uma das frutas essenciais das festas de fim de ano. Originário da China e do sul da Ásia, o pêssego conseguiu fincar raízes na Serra Gaúcha, no Rio Grande do Sul, onde encontrou as condições climáticas ideais para se desenvolver.
Não à toa, o município Pinto Bandeira é o maior produtor da fruta de casca macia. A estimativa do município é fechar em 2024 com até 20 mil toneladas da fruta. São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais, Paraná e Espírito Santo também são produtores. Em 2023, o país produziu 200,7 mil toneladas, mas não é suficiente para abastecer o mercado interno. Neste ano, entre janeiro e novembro, o Brasil comprou 1,2 mil toneladas da fruta fresca por US$ 1,4 milhão (R$ 8,5 milhões). Só da Argentina, foram 815 toneladas por US$ 1 milhão (R$ 6,1 milhão).
Cereja
Na sua Ceia tem chuchu ou cereja? A pergunta faz alusão ao fato de que muitas vezes, o chuchu é camuflado como cereja em doces da ceia. A prática dá um spoiler sobre a produção de cerejas doces no Brasil: não existe. Por conta do clima tropical do Brasil, o país ainda não possui variedades de cerejas doces, fruta de origem asiática. Em nações de clima mais frio como Argentina e Chile, principais produtores na América do Sul, ela é mais comum.
É dos países vizinhos que vem a verdadeira cereja servida na Ceia de Natal. Turquia, Estados Unidos, Canadá, Uzbequistão, Irã e Japão e países europeus também estão entre os maiores produtores de cereja. Entre janeiro e novembro de 2024, o Brasil importou 1,5 mil toneladas de cereja, equivalente a US$ 6,5 milhões (R$ 39,5 milhões).
Damasco
O Damasco é uma fruta natalina facilmente encontrada nos supermercados, mas não em volume nos pomares comerciais no Brasil. A origem do damasco ainda é especulativa, com rumores de que foi cultivado no norte da China e na Sibéria há milhares de anos. Hoje, os maiores produtores da fruta são Turquia, Irã e Itália. O cultivo do damasqueiro requer um clima moderado e frio, e a planta sofre com o excesso de sol. No país, apenas as regiões frias de Minas Gerais e o Rio Grande do Sul produzem a fruta, mas em pequena escala.
De janeiro a novembro, o Brasil importou 768 toneladas de damascos secos, equivalente a US$ 3,8 milhões (R$ 23,2 milhões). Apenas da Turquia, foram 747 toneladas, totalizando US$ 3,7 milhões (R$ 22,5 milhões).
Uva-passa
É quase impossível não encontrar alguma uva passa em pratos da Ceia. Há quem ame, há quem odeie. A fruta desidratada que divide opiniões é originária da região do Mar Mediterrâneo, no continente europeu. Atualmente, 65% das uvas-passas que o brasileiro consome são produzidas na Argentina. As uvas vêm do país vizinho por causa do clima quente e seco, o que permite a secagem ao ar livre por 15 dias ininterruptos. No Brasil, esse processo precisaria ser feito de forma industrial, o que encareceria seu valor.
De janeiro a novembro de 2024, o Brasil importou US$ 9,5 milhões em uvas-passas (R$ 58 milhões). Desse total, US$ 7,2 milhões (R$ 44 milhões) vieram da Argentina, contabilizando 3,2 toneladas.
As Bebidas da Ceia
Vinhos
Tinto ou branco, o vinho é uma tradição nos brindes à vida e à saúde próspera. O Rio Grande do Sul concentra a maior produção da bebida.
Em 2023, a produção de vinho no Brasil foi estimada em 3,6 milhões de hectolitros, representando um aumento de 12% em relação a 2022 e de 31,4% em comparação com a média dos cinco anos anteriores.
Hora de reconstrução, a estimativa para 2024 é que o país produza 2,7 milhões de hectolitros, o que representa uma diminuição de aproximadamente 25%. Essa queda é atribuída a condições climáticas adversas, como secas e temperaturas extremas, que afetaram negativamente os vinhedos em diversas regiões produtoras do país, mas principalmente as enchentes no Sul do país.
Espumantes
A origem dos espumantes remonta à região de Champagne, na França, no século 17. Inicialmente, a efervescência dos vinhos era considerada um defeito, mas, com o tempo, se tornou uma qualidade. A empresa Peterlongo, fundada em 1915 em Garibaldi (RS), foi pioneira na produção de espumantes no Brasil. Em 1974, ela ganhou o direito de usar o termo “champagne” no país, até que o uso foi restringido por questões de denominação de origem.
O Brasil consolidou sua posição como um grande produtor de espumantes, com destaque para a região do Vale dos Vinhedos e Serra Gaúcha.
Eles se destacam por seu frescor e acidez equilibrada, favorecidos pelo clima da serra, mas há outras regiões com produções importantes, como o Vale do São Francisco, em Pernambuco e Bahia, onde o clima quente permite colheitas até duas vezes ao ano. Hoje, os espumantes representam cerca de 80% das exportações de vinhos brasileiros, sendo considerados o carro-chefe da indústria vinícola nacional.
(Com Forbes)