Pesquisadores avaliam infiltração do solo em áreas atingidas por enchentes

Fernanda Toigo

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Pesquisadores foram às propriedades rurais em Estrela, há um ano com quatro metros de água - Foto: Fernando Dias/ Ascom Seapi

Há um ano, os pesquisadores do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (DDPA/Seapi), da Emater/RS-Ascar, do Departamento de Solos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Trigo) — que aparecem nas imagens que ilustram esta matéria — não estariam visíveis se estivessem no mesmo local. Isso porque, no mesmo período de 2024, as águas e os escombros da pior enchente da história do Rio Grande do Sul submergiam os municípios de Estrela e Lajeado, no Vale do Taquari.

Na quinta-feira (12/6), o cenário era outro, embora a pauta estivesse relacionada às enchentes. Os pesquisadores visitaram propriedades rurais em Estrela e Lajeado que foram atingidas pelas inundações, com o objetivo de mapear e analisar a capacidade de infiltração de água no solo da região. A atividade teve início em Estrela, onde representantes das instituições envolvidas e lideranças locais se reuniram para alinhar as ações.

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Em uma das primeiras propriedades visitadas, a água chegou a ultrapassar quatro metros de altura. Parado no meio da lavoura destruída na época, o produtor Fernando Malmann relembra a força da tragédia, apontando para um poste de energia elétrica. “Vou mostrar no poste. Ali, naquele fio de telefone, em relação ao ponto onde estamos agora, a correnteza atingiu quatro metros de altura e arrastou tudo. Isso aqui virou um rio”, relata o agricultor de Estrela.

Mais do que um diagnóstico pontual, a iniciativa visa promover o diálogo entre o poder público, instituições de pesquisa e produtores rurais. Os testes de infiltração de água no solo são realizados com o uso de um infiltrômetro — equipamento que mede a taxa de penetração da água — e são fundamentais para avaliar a capacidade de drenagem natural das áreas afetadas.

O engenheiro e pesquisador Altamir Mateus Bertollo, do DDPA, destaca o caráter inovador da metodologia adotada, que dispensa cálculos manuais e fornece dados precisos para orientar os produtores e subsidiar políticas públicas. “Esta é uma parceria entre instituições, iniciada em Estrela — uma região duramente atingida pela enchente — e que será expandida para outras áreas do Estado. O objetivo é diagnosticar as condições de infiltração da água no solo e oferecer suporte técnico aos manejos adotados pelos produtores. Nesta área específica, o trabalho será acompanhado por, no mínimo, dois anos, contemplando diferentes níveis de preparo do solo.”

Para o engenheiro agrônomo André Amaral, da Embrapa Trigo, mapear a porosidade do solo, medir sua capacidade de infiltração e construir uma base de dados auxiliam na adoção de boas práticas de manejo, especialmente no contexto do Sistema Plantio Direto. “Quanto maior a capacidade de infiltração, melhor é a qualidade do solo e maior a sua capacidade de reter nutrientes”, ressalta.

Segundo o professor Michael Mazurana, da UFRGS, especialista em mecanização agrícola e na relação solo-máquina, o diagnóstico é essencial para compreender a realidade do solo. “A proposta inclui a identificação de áreas agrícolas que atuarão como unidades de referência técnica para capacitação de produtores e técnicos, com o objetivo de torná-los agentes de difusão de práticas agrícolas voltadas à recuperação do ambiente produtivo, restabelecendo a capacidade produtiva e de investimento do setor agropecuário”, avalia.

Parcerias e ações integradas

A Seapi adquiriu 10 infiltrômetros; a Embrapa, mais cinco. Com o apoio da UFRGS e da Emater, a iniciativa visa realizar medições em diferentes sistemas de cultivo em todo o Estado, com o objetivo de avaliar a capacidade de infiltração de água nos solos. Solos manejados de forma a favorecer maior infiltração contribuem para a redução do escoamento superficial, principal causa das enchentes.

A articulação entre as instituições tem possibilitado a ampliação da base de dados e o aprofundamento dos diagnósticos. Os testes de infiltração são conduzidos em diferentes camadas do solo — tanto superficiais quanto subsuperficiais — em propriedades acompanhadas por técnicos e pesquisadores das entidades envolvidas.

(Com Agricultura/RS)

 

Autor: Fernanda Toigo

Fernanda Toigo

Fernanda Toigo. Jornalista desde 2003, formada pela Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Cascavel. Iniciou sua carreira em veículos de comunicação impressos. Atuou na Assessoria de Comunicação para empresas e eventos, além de ter sido professora de Jornalismo Especializado na Fasul, em Toledo-PR. Em 2010 iniciou carreira no telejornalismo, e segue em atuação. Desde 2023 integra a equipe de Jornalismo do Portal Sou Agro. Possui forte relação com o Jornalismo especializado, com ênfase no setor do Agronegócio.

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