AGRONEGÓCIO
Trump vai mesmo impor guerra comercial contra a China?
Uma vez consolidado o resultado da eleição dos Estados Unidos, restam agora expectativas e especulações sobre as decisões a serem tomadas por Donald Trump, a retomada do poder.
Um dos principais questionamentos se dá em relação ao comércio exterior. Será que guerra comercial contra a China será novamente declarada? Se isso acontecer, o Brasil está diante de uma grande janela favorável ao agronegócio?
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O agrônomo e assessor de investimentos, Marcelo Gavlik, lembra que a prática foi adotada por Trump em seu primeiro mandato. E como seria se o cenário se repetisse nos dias de hoje? “O mundo espera pelos próximos passos. Digamos que os bens de tecnologia sejam tarifados. A China responde tarifando as commodities agrícolas americanas e não tendo os EUA para exportar soja para a China, sobra a América do Sul. Quando isso aconteceu em 2018 a Bolsa de Chicago caiu forte, US$ 2 por bushel, de US$ 10 foi para US$ 8, e o Brasil estava com prêmio de meio dólar acima da Bolsa de Chicago. Foi uma gangorra e aqui no Brasil, um movimento anulou o outro”, recorda.
Digamos que o cenário se repita e a demanda migre para o Brasil. Qual é a tendência? “Uma forte queda da Bolsa de Chicago, porque se não comprar dos EUA. a China tem que comprar em outro lugar e se não comprar de lá sobra mais oferta para o mercado interno deles. A demanda migrando para o Brasil geraria alta da soja regional e melhor competitividade da soja brasileira contra a soja americana. Isso se dá pelos prêmios, que são diferenças entre praças. Teríamos uma valorização da nossa soja em relação à Bolsa”, diz Gavlik.
Mas entre 2018 e 2025 há diferenças. “Em 2018 foi um evento surpresa e numa época em que o Brasil já tinha colhido. Agora estávamos vendo os Trump como favorito nas bolsas de apostas. Se ele já estava favorito e vinha prometendo a guerra comercial, a China, que já viu a sobretaxação acontecer, deve estar “preparada” para um novo episódio”, observa o assessor de investimentos.
Segundo o economista, estima-se que a China esteja projetando redução de esmagamento nos últimos meses, venda um pouco menor de farelo, para sobrar estoque de passagem para janeiro, até hora da nossa colheita no Brasil.
“Se Trump taxar depois do dia 20 de janeiro, o Brasil já está para colher. Assim, a China já cobriu o que precisa de fevereiro e março. Isso significa que com Trump eleito, se vier a guerra comercial, o imacto não deverá ser tão grande como foi em 2018. O potencial de queda em Chicago pode não ser tão expressivo e o prêmio não compensador. Em contrapartida, hoje vemos a soja para a safra nova com preços positivos, clima indo bem. Fora o atraso no plantio em Mato Grosso, em razão da seca, tudo está favorável. O plantio aconteceu dentro da janela e a expectativa é de safra boa”, salienta Gavlik.
O assessor de investimentos aconselha o produtor sobre como agir. “Fazer venda agora para garantir margem de lucro e segurar parte do grão para o segundo semestre. O produtor pode ir no mercado financeiro e vender a soja novembro 2025 na Bolsa de Chicago ou comprar um seguro de baixa. Se essa guerra comercial acontecer e Chicago derreter, o maior potencial seria em novembro 25, é a colheita americana”.
Durante a campanha Trump sugeriu que importações da China poderiam ter uma tarifa adicional de 60%. A sobretaxa ainda é incógnita. O Brasil vende mais de 70% da soja que produz para a China.