O prejuízo com as pragas que atacam armazéns
A produção de grãos no Brasil, que movimenta bilhões de reais e alimenta tanto o mercado interno quanto externo, enfrenta um inimigo silencioso: as pragas de armazenamento. O caruncho-dos-cereais e o besourinho-do-fumo são alguns dos maiores vilões nesse cenário, responsáveis por grandes perdas na qualidade e quantidade dos produtos estocados. Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), até 10% dos grãos estocados no Brasil são perdidos anualmente devido a essas pragas.
Entre as principais ameaças estão o caruncho-dos-cereais (Sitophilus zeamais), que ataca principalmente o trigo, mas também pode infestar outros grãos como arroz, cevada e milho; o besouro castanho (Tribolium castaneum), que deteriora cereais moídos, farinhas e grãos defeituosos; o besourinho-do-fumo (Lasioderma serricorne), que ataca não só os grãos mas também outros produtos armazenados, como tabaco; e a traça-dos-cereais (Ephestia kuehniella), que pode causar severos prejuízos ao milho e outros grãos armazenados.
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Essas pragas primárias perfuram e se alimentam diretamente dos grãos íntegros, causando danos econômicos significativos. Além disso, a presença de insetos e os danos causados à superfície dos grãos criam condições favoráveis para o desenvolvimento de fungos, o que pode comprometer ainda mais a qualidade dos cultivos.
Dados da Companhia Nacional de Abastecimento mostram que a produção brasileira de grãos mais que dobrou em 14 anos: saltou de 149 milhões de toneladas em 2010 para 299 milhões agora. Mas a capacidade de estocagem não acompanhou o mesmo ritmo. No mesmo período cresceu 45%. Hoje, o país consegue estocar, no máximo, 201 milhões de toneladas.Uma perda de 10% significa 20 milhões de toneladas de alimentos destruídos.
Impacto – E os prejuízos causados por essas pragas não se limitam apenas à quantidade dos grãos armazenados. Segundo especialistas, as perdas qualitativas também são alarmantes. Grãos infestados podem ser desclassificados, resultando em produtos de menor valor agregado. Isso afeta diretamente a rentabilidade dos produtores, que se veem obrigados a vender seus produtos por preços inferiores no mercado. Além disso, a qualidade dos alimentos destinados ao consumo humano e animal é prejudicada, levantando questões sobre a segurança alimentar e a saúde pública.
Diante desses desafios, o manejo adequado das pragas de armazenamento torna-se essencial. A adoção de práticas integradas de controle é uma das soluções recomendadas. Entre as medidas mais eficazes está a fumigação preventiva, que utiliza inseticidas à base de fosfeto de alumínio para eliminar as pragas em todas as fases de desenvolvimento. A aplicação correta desse método é crucial, mas deve ser feita com o uso de equipamentos de proteção individual (EPIs) para garantir a segurança dos trabalhadores e a eficiência do processo.
A manutenção de condições adequadas de armazenamento também é fundamental. Os locais onde os grãos são estocados devem estar livres de insetos, fungos e roedores, além de manter níveis controlados de temperatura e umidade. A limpeza regular das unidades armazenadoras é outro fator importante, já que resíduos de grãos e poeira podem atrair pragas.
O sucesso no combate a essas pragas também depende da conscientização dos produtores sobre a importância de monitorar constantemente os estoques e adotar tecnologias que ajudem na prevenção e no controle de infestações. Além da fumigação, técnicas como o uso de armadilhas e a implementação de barreiras físicas podem ajudar a minimizar os riscos.
Apesar das estratégias existentes, o controle de pragas de armazenamento ainda é um grande desafio para os produtores brasileiros. Com a crescente demanda por alimentos e a necessidade de aumentar a eficiência no campo, é crucial que o setor invista em práticas mais modernas de manejo e em tecnologias que ajudem a minimizar as perdas.
As pragas de armazenamento representam não apenas uma ameaça à produção, mas também à segurança alimentar e à economia agrícola. A adoção de medidas preventivas, aliada à inovação, é o caminho para garantir que o Brasil continue a ser um dos maiores produtores de grãos do mundo, sem comprometer a qualidade de seus produtos.
Com a implementação dessas estratégias, o setor pode esperar uma redução significativa nas perdas, assegurando que os grãos cheguem ao mercado com qualidade e em quantidade suficiente para atender à demanda crescente.
(Com Pensar Agro)