Chuva preta pode atingir o Rio Grande do Sul neste fim de semana
A MetSul Meteorologia alerta que chuva preta pode atingir o Rio Grande do Sul neste fim de semana como consequência de abundância de fuligem em suspensão na atmosfera com uma pluma de fumaça vinda da Bolívia e da região amazônica que avança até o Sul do Brasil.
O mapa abaixo do modelo de dispersão de aerossóis CAMS do Sistema Copernicus, da Uniao Europeia, mostra a projeção de aerossóis para este sábado na América do Sul em que se observa um extenso corredor com densa fumaça que estende do Norte até o Sul do Brasil e o Uruguai.
A grande quantidade de fumaça decorre do número altíssimo de queimadas que vem se registrando nestes dias na Bolívia e na Amazônia brasileira. Ontem, a Amazônia registrou um dos piores dias de fogo de sua história recente, mostram dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
De acordo com dados do Inpe, os satélites identificaram 3.224 focos de calor entre 21h de quinta-feira e 21h desta sexta-feira. Trata-se do pior dia de queimadas na Amazônia neste ano, superando o maior número anual de até então de 2.433 focos de calor no bioma no dia 28, ou seja, anteontem.
O que vai acontecer?
Uma frente fria avança neste fim de semana e vai trazer chuva para quase todo o estado do Rio Grande do Sul, mas as precipitações devem vir com baixos volumes e tendem a ser irregulares, assim é possível que o tempo mude em diversas localidades sem registro de precipitação.
A frente fria associada a um ciclone extratropical no Rio da Prata traz chuva neste sábado para áreas do Oeste, do Sul e do Centro do estado ao passo que amanhã avança e provoca chuva em pontos do Centro para o Norte do estado. Com a enorme quantidade de fumaça presente na atmosfera e a perspectiva entre hoje e amanhã de instabilidade não se pode afastar a ocorrência de chuva preta com precipitação de fuligem (soot) em diferentes cidades do Rio Grande do Sul. Com isso, não será surpresa alguma que piscinas, baldes e outras superfícies fiquem com a água escura ou preta como consequência da precipitação de fuligem acompanhando a chuva preta que se prevê ou mesmo que veículos na rua apresentem manchas como se fosse poeira, tal como se viu dias atrás em São Paulo.
O QUE É CHUVA PRETA
Soot, ou fuligem, é um material particulado constituído principalmente de carbono, que se forma como resultado da combustão incompleta de materiais orgânicos, como combustíveis fósseis (carvão, petróleo) e biomassa (madeira, resíduos agrícolas). Quando esses materiais não queimam completamente, em vez de se transformarem inteiramente em dióxido de carbono (CO₂) e vapor de água, eles produzem partículas finas de carbono negro e outros compostos. Essas partículas são extremamente pequenas, com diâmetros na escala de nanômetros a micrômetros, o que lhes permite permanecer suspensas no ar por longos períodos e viajar grandes distâncias.
Fuligem e a chuva preta estão intimamente relacionados. A chuva preta é um fenômeno que ocorre quando a fuligem e outras partículas contaminantes presentes na atmosfera se misturam com a umidade e precipitam sob a forma de chuva. Esse tipo de chuva, que não necessariamente se precipita com cor preta, é indicativo de altos níveis de poluição, e é geralmente observada em locais próximos a áreas industriais, queimadas ou onde há intensa queima de combustíveis fósseis.
Quando as partículas de fuligem se misturam com a umidade nas nuvens, elas podem agir como núcleos de condensação, em torno dos quais as gotas de água se formam. Isso resulta em uma chuva contaminada com poluentes, que ao cair no solo pode afetar corpos d’água, solos e vegetação.
A chuva preta tem impactos visíveis no ambiente urbano. Ela pode deixar uma camada de sujeira nas superfícies, como prédios, veículos e infraestrutura, o que pode levar à degradação dos materiais e aumentar os custos de manutenção.
A relação entre fuligem e chuva preta é um indicador preocupante dos níveis de poluição atmosférica em muitas partes do mundo.
CORRENTE DE JATO TRAZ FULIGEM E FAVORECE CHUVA PRETA
A grande quantidade de fumaça que está chegando ao Rio Grande do Sul é trazida por uma corrente de jato em baixos níveis da atmosfera que avança pelo interior da América do Sul a Leste dos Andes e transporta o material particulado até as latitudes médias do continente.
Em termos leigos, a corrente de jato em baixos níveis é uma corrente de ar estreita encontrada na baixa atmosfera, normalmente em torno do nível de pressão de 850 hPa (ou cerca de 1500 metros de altitude), atuando entre um e dois quilômetros de altura. Ou seja, é um corredor de vento nas camadas baixas da atmosfera. Tal como as principais correntes de jato, as polares e subtropicais, são “rios” na atmosfera, embora em menor escala e geralmente em velocidades mais lentas.
Estas correntes de jato em baixos níveis (JBN) a Leste dos Andes que trazem ar quente costumam se originar na Bolívia ou no Centro-Oeste do Brasil e apresentam, em regra, uma extensão de milhares de quilômetros do Sul da região amazônica até a bacia do Rio Prata. No Prata ou no Rio Grande do Sul, o jato costuma recurvar em direção a Leste para o Atlântico.
Com Metsul