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Queda de preço estimula produtores a aderir a usinas solares
Os preços dos painéis fotovoltaicos despencaram em 2023, reduzindo os custos de implantação de usinas solares e o payback (tempo de retorno do investimento). Um levantamento da Infolink Consulting – principal consultoria que acompanha o mercado energético no mundo – apontou que os valores dos conjuntos recuaram 40% no ano passado. Com isso, a adesão às energias renováveis, que já era viável, tornou-se ainda mais atrativa. Esse cenário tem estimulado produtores rurais do Paraná a recorrer à energia solar.
Segundo a Infolink Consulting, os maiores fabricantes mundiais de painéis solares ampliaram a produção de componentes, mas a demanda não cresceu na mesma proporção. Em razão disso, há estoque de conjuntos, o que fez com que o preço caísse. Ao fim de 2023, as cinco principais indústrias do setor – todos sediadas na China – estavam com até 70% de sua capacidade de produção contratada. Ou seja, os conjuntos fotovoltaicos produzidos não foram, integralmente, absorvidos pelo mercado.
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Isso não significa que a conjuntura está atrelada à estagnação do setor. Ao contrário, já que a demanda por módulos fotovoltaicos aumentou 34% ao longo de 2023. A questão é que as indústrias investiram pesado nos últimos anos, esperando uma demanda maior do que a que se consolidou. Nesse contexto, a expansão da fabricação foi bem além da procura.
“A indústria superestimou o crescimento do mercado. Em razão disso, estamos com altos estoques de equipamentos, o que ocasionou a queda nos preços. Com isso, se abriu uma janela de oportunidade. O produtor rural que ainda não fez os investimentos deve aproveitar, porque as condições implicam um bom negócio”, sugere o técnico Luiz Eliezer Ferreira, do Departamento Técnico e Econômico (DTE) do Sistema FAEP/SENAR-PR. “Esperamos uma nova rodada de crescimento de projetos de energia renovável no campo”, completa.
A consultoria Infolink projeta que a queda dos preços deve impulsionar em até 20% a implantação de usinas. No Paraná, o aumento já é mais expressivo. A procura por financiamento por meio do programa Paraná Energia Renovável (RenovaPR), do governo estadual, cresceu 35% no primeiro trimestre de 2024, em comparação com o mesmo período do ano passado. Só neste ano, entre 1º de janeiro e 15 de abril, 462 projetos foram financiados pelo programa, totalizando R$ 44,5 milhões.
“A mudança de comportamento dos consumidores por causa da queda dos preços é bastante perceptível. Chegamos ao final do ano passado com alguma demanda, mas nada acentuada. A partir do início deste ano, vimos que aumentou de forma significativa o número de projetos. Os produtores estão procurando, aproveitando essa oportunidade”, diz Herlon Almeida, coordenador do RenovaPR.
O produtor rural Edmilson Luís Geisel, de Toledo, na região Oeste do Paraná, aderiu às energias renováveis em 2017, com vistas a reduzir os custos na propriedade, que se dedica à avicultura e à suinocultura. “Energia é como um aluguel. Você gasta um dinheiro que não volta. Então, lá atrás, vimos que valia a pena investir nas usinas, que se pagam com a economia na conta de luz”, afirma.
De lá para cá, o negócio cresceu. Hoje, a propriedade contém nove aviários, com capacidade total de alojar 230 mil frangos, e três unidades de suinocultura voltada à fase de crechário. Como a primeira usina já “se pagou” a partir da economia gerada, Geisel financiou, no ano passado, a implantação de outras duas usinas fotovoltaicas. Ele calcula que, caso não gerasse a própria energia, gastaria em torno de R$ 20 mil por mês.
“Hoje, atividades como a avicultura trabalham com a margem apertada. O produtor precisa reduzir seus custos para não tornar o negócio inviável. E a energia renovável entra nessa conta. Não dá para pensar em se dedicar à avicultura sem ter uma usina”, garante Geisel. “Eu estou contente com as usinas da nossa propriedade. Recomendo muito. Quem ainda não tem, precisa ter. Ainda mais agora, que o preço está caindo”, acrescenta.
Expansão renovável
Ao longo dos últimos sete anos, o Paraná deu um salto no uso de energias renováveis no campo. Em 2017, havia apenas 47 usinas instaladas em propriedades rurais do Estado – 40 fotovoltaicas e sete de biogás. Hoje, são mais de 31,5 mil usinas instaladas em propriedades rurais, com capacidade de gerar 682,9 mil quilowatts (kW) de potência.
O investimento na geração própria se justifica por inúmeros fatores. A energia elétrica é um dos principais insumos na produção agropecuária, principalmente em atividades como a avicultura, piscicultura e bovinocultura de leite. Além disso, ao longo dos últimos seis anos, o custo da energia no meio rural teve uma alta acentuada, em razão do fim de subsídios federais e da extinção do programa estadual Tarifa Rural Noturna – que previa a redução de 60% na energia consumida entre 21h e 6h, em propriedades rurais.
Há mais de uma década, o Sistema FAEP/SENAR-PR vem desenvolvendo ações para levar informações sobre energias renováveis a produtores rurais e para estimular o uso dessas fontes no campo. Em 2017, a entidade organizou viagens técnicas, levando mais de 160 agricultores e pecuaristas para conhecer propriedades em países como Itália, Áustria e Alemanha, que utilizavam usinas solares e/ou de biogás.
A partir das viagens internacionais, o Sistema FAEP/SENAR-PR promoveu um intenso trabalho de difusão de informações técnicas qualificadas aos produtores rurais sobre a adoção de sistemas de energias renováveis, por meio de eventos técnicos e palestras. Em 2022, por exemplo, foram promovidos seminários em cinco regiões do Estado, que tiveram a participação de mais de 600 pessoas.
(Com Sistema/FAEP)