Empresas de castanha do Brasil unem-se para valorizar o produto no exterior
A castanha-do-Brasil รฉ um produto da sociobiodiversidade. Extraรญda por comunidades locais, em รกreas de manejo florestal, a oleaginosa nรฃo รฉ sรณ uma opรงรฃo de lanche saudรกvel e rico em selรชnio, mas tambรฉm uma fonte de renda para quem mantรฉm a floresta em pรฉ.
Com o intuito e gerar mais renda para as comunidades locais, no dia 6 de fevereiro, empresas produtoras de castanhas do Brasil participam da primeira reuniรฃo da Mesa Executiva de Exportaรงรฃo do setor, no Escritรณrio da Agรชncia Brasileira de Promoรงรฃo de Exportaรงรตes e Investimentos (ApexBrasil), em Belรฉm. A iniciativa, liderada pela Agรชncia, tem como objetivo promover a internacionalizaรงรฃo do setor, removendo os gargalos para o comรฉrcio exterior.
Apesar de ser uma espรฉcie nativa da Amazรดnia, o Brasil tem uma baixa participaรงรฃo nas exportaรงรตes de castanhas do Brasil. Em 2022, o paรญs foi origem de metade das vendas do produto com casca, que somaram US๏ผ 25,5 milhรตes. Quando se trata do produto beneficiado – sem casca -, contudo, cujo mercado internacional representa um valor 12 vezes maior, as castanhas brasileiras sรฃo menos de 10% do total.
O desafio para os produtores brasileiros รฉ justamente reverter esse cenรกrio, levando o produto beneficiado para consumidores de alto poder aquisitivo, dispostos a remunerar a produรงรฃo da sociobiodiversidade. Para discutir o tema e pensar em como superar os entraves para essas exportaรงรตes, empresas e cooperativas do setor participarรฃo ao longo de 2024 da Mesa Executiva de Exportaรงรฃo de castanhas. Juntos, com apoio da ApexBrasil, buscarรฃo soluรงรตes para problemas comuns.
De acordo com o presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, a inauguraรงรฃo do programa vai ao encontro de um dos objetivos da Agรชncia, que รฉ descentralizar as exportaรงรตes brasileiras, estimulando a regiรฃo Norte, que hoje corresponde a apenas 8,5% do total exportado pelo paรญs. โEsse Programa busca aproximar o empresariado amazรดnico dos mercados internacionais, organizando o setor produtivo em torno de desafios comuns e trazendo os compradores do mundo todo para conhecer o potencial dos produtos da floresta, que apresentam alto valor agregadoโ, explica.
Salo Coslovsky, representante do Amazรดnia 2030, que รฉ parceiro na iniciativa, tambรฉm estรก com altas expectativas sobre o projeto. โAs Mesas Executivas de Exportaรงรฃo sรฃo uma das iniciativas mais inovadoras e promissoras de apoio ร bioeconomia atualmente em curso na Amazรดnia brasileira. Elas colocam os produtores de vanguarda no comando, usam a exportaรงรฃo para impor um sarrafo alto de competitividade, e criam incentivos para que setor pรบblico consiga ajudar o setor privado a superar seus gargalos mais crรญticosโ, defende.
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Da aldeia para o mundo
Uma das participantes da Mesa Executiva de Exportaรงรฃo de Castanha รฉ Elisรขngela Dell-Armelina, gerente de produรงรฃo da cooperativa COOPAITER, criada em 2017. Formada por cerca de 200 famรญlias do povo รndigena Paiter Suruรญ, de Rondรดnia, a missรฃo do grupo รฉ agregar valor para os produtos da floresta e de atividades tradicionais, buscando alternativas de renda para a populaรงรฃo.
Atualmente, um dos focos da cooperativa รฉ ampliar o mercado da castanha do Brasil. Desde 2019, a eles possuem uma agroindรบstria, em que beneficiam e embalam o produto, e, desde 2021, buscam mercados internacionais, com apoio da ApexBrasil.
A COOPAITER tem enfrentado o desafio de exportar produtos da marca, com a identidade indรญgena, original da Amazรดnia, jรก que o interesse de muitos compradores internacionais รฉ trabalhar na modalidade โprivate labelโ. โA gente busca mercados conscientes da importรขncia da conservaรงรฃo da Amazรดniaโ, explica.
O objetivo da cooperativa รฉ fugir do modelo commodity, de alta escala. โA gente vislumbra que as empresas percebam que ao comercializar com a cooperativa elas estรฃo adquirindo nรฃo apenas o produto, mas tambรฉm toda a parte social e ambiental que vem com ele, tanto da preservaรงรฃo da floresta como do povo que cuida delaโ, defende.
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Valor agregado: manter a floresta em pรฉ
O proprietรกrio e CEO da empresa Castanhas Ouro Verde, รtalo Toneto, comeรงou a exportar hรก pouco tempo, mas tambรฉm jรก estรก engajado nas reuniรตes para impulsionar a internacionalizaรงรฃo do setor. Em 2020, a empresa com sede em Rondรดnia participou do Programa de Qualificaรงรฃo para Exportaรงรฃo (PEIEX), da ApexBrasil, e em 2022 comeรงaram as primeiras vendas para o exterior.
Agora, o empresรกrio quer trabalhar com as outras empresas do setor para conquistar novos mercados, com foco no valor agregado do produto. โQue todos estejamos trabalhando com castanhas de qualidade, e que a gente consiga se posicionar de acordo com a importรขncia socioeconรดmica do setor, jรก que a castanha รฉ a principal renda do extrativista, indรญgena, quilombola, que a colheโ, ressalta.
Para ele, um dos gargalos que o setor encara รฉ a falta de parรขmetros para demonstrar a qualidade das castanhas, como jรก acontece com produtos com cacau. Ele explica que jรก possui certificaรงรตes para exportar para mercados como Estados Unidos, Uniรฃo Europeia e China, mas ainda enfrente a baixa valorizaรงรฃo do produto por parte dos compradores.
De acordo com Toneto, os importadores deveriam precificar as castanhas do Brasil levando em conta seus atributos ambientais รบnicos. โNรฃo รฉ um produto que eu possa plantar. Depende 100% da natureza, nรฃo hรก manipulaรงรฃo da produรงรฃo. ร um produto da sociobiodivercidade que ajuda diretamente no combate ao desmatamentoโ. Ele lembra que quem estรก na mata extraindo castanhas รฉ quem denuncia os madeireiros e desmatadores, jรก que ele depende da floresta preservada para o seu sustento.
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