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AGRICULTURA

Preço do milho continua caindo e preocupação do produtor aumenta

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Débora Damasceno
Débora Damasceno

A gente vem acompanhando há semanas que o preço do milho tem caído muito nos últimos dias, os produtores estão preocupados com isso e é claro que isso afeta todo mercado. Os fatores para chegar até aqui são muitos.

Só que após registrar duas semanas de leve alta, os preços internos e externos do milho voltaram a cair. Em algumas regiões acompanhadas pelo Cepea, como Mogiana (SP), Norte do Paraná e Dourados (MS), os valores médios de junho já são os menores do ano.

 

No caso do Indicador ESALQ/BM&FBovespa (Campinas – SP), a atual média mensal é a menor, em termos reais (deflacionados pelo IGP-DI de maio/23), desde maio de 2019.

Segundo pesquisadores do Cepea, o movimento de queda reflete o avanço da colheita de segunda safra, que, apesar de atrasada na comparação com a temporada anterior, tem ganhado ritmo e deve ser intensificada na segunda quinzena de julho. Com isso, a demanda pelo cereal voltou a se enfraquecer, com compradores negociando de maneira pontual, apenas quando há necessidade.

AS CAUSAS

Pois bem, já falamos que uma série de fatores tem causado essa queda desenfreada, mas é sempre bom recordar, os motivos que trouxeram os preços até aqui.

“Nós estamos vivendo hoje o que poderíamos chamar de uma tempestade perfeita. Então, vários fatores combinados acabaram pressionando os preços do milho e da soja e de várias commodities. Aí perdemos de 30 a 40% do seu valor, ou até mais, no caso do milho, mais de 40% de perda do seu valor desde o início do ano para cá. No caso do milho a gente tem uma combinação de fatores negativos. Uma safra de verão que chegou a 28 milhões de toneladas há números ainda chegam até 30 milhões. E o caso da safrinha já se fala em entre 100 e 102 milhões de toneladas. Portanto, na combinação entre as duas safras, vamos ter um recorde ao redor de 130 milhões de toneladas. Lá fora também o plantio da safra se encaminha muito até agora, eles estão em 80 a 90% da safra de verão já semeada e caminha pelas projeções iniciais, para uma produção recorde entre 385 e 390 milhões de toneladas. Isso significa mais estoques ao final de cada temporada. Os preços internacionais, com isto se acomodaram muito e vêm se acomodando também sob a perspectiva de grande safra americana. Mas também porque a demanda pelo produto norte americano está muito aquém do esperado. Na mesma época do ano passado já tinham embarcado mais de 40 milhões de toneladas de milho e neste ano estamos com cerca de 25 milhões de toneladas embarcadas até o momento”, detalha Camilo.

ALTO CUSTO DE PRODUÇÃO X COTAÇÃO BAIXA

A questão do custo de produção é uma grande preocupação que veio a pandemia e a guerra da Ucrânia com a Rússia. Então a expectativa era de que esse alto custo de produção fosse suprido agora nesta safra, porque no ano passado, se a gente dar uma olhada para trás, os preços estavam acima dos R$ 100  e agora chegar abaixo dos R$ 50 realmente é uma grande preocupação.

“Os custos de produção da última safra ficaram muito, muito acima do esperado e muito, muito acima da média histórica. Especialmente por causa da invasão da Rússia na Ucrânia, que elevou o preço dos fertilizantes e também do agroquímico. Mais fertilizantes tiveram alta duas a três vezes acima da média histórica dos fertilizantes. Então, o custo de produção ficou extremamente alto na última temporada, paralelamente, também o agroquímico e as sementes foram produzidas também num período de conflito de preços muito mais altos. E agora para a próxima temporada os custos caem bastante, é uma preocupação grande”

PROBLEMAS LOGÍSTICOS
“Olhando para frente falar em preço, com a entrada da safra brasileira no mercado, nós podemos ter aqueles velhos problemas logísticos, que nós temos sempre que é falta espaço nos armazéns por tanto necessidade de vendas, com uma certa celeridade para desocupar e abrir espaço para avançar com a colheita. Esse é um ponto. O segundo ponto é que, numa situação dessa de logística e logística atrofiada, nós vamos ter elevação do preço dos fretes e lembrando que também ainda temos dado atraso nos embarques de soja. Temos a competição pela exportação também com a soja. Então a gente vai ter um período em que o milho vai entrar no mercado, vamos precisar exportar, mas ainda temos grandes volumes de soja para serem exportados. Eu acredito que esse ano a gente vai avançar com outubro e novembro, ainda com embarques de soja e, claro, com o milho tentando ganhar espaço nos armazéns portuários e vamos ter esse conflito que sempre acaba pressionando ainda mais os preços”, disse Camilo.

SAFRA AMERICANA

“Do outro lado, temos que monitorar o clima norte americano. É um modelo de El Niño. Mas as condições climáticas para junho e julho indicam temperaturas em elevação bastante acentuada no auge do verão dele e também possibilidades de escassez de chuvas. Isso não está descartado e a gente pode ter ralis climáticos bem significativos. E eu diria que altas lá fora vão ser repassadas de imediato aqui dentro”, detalha Camilo.

EXPECTATIVAS NÃO SÃO TÃO POSITIVAS

Ou seja, as notícias não são tão favoráveis para o produtor. A gente depende do clima e da cotação para que esse preço volte a subir. Mas dificilmente a gente vai ter cotações como no ano passado.

“Num mercado de demanda relativamente previsível, como temos. A única forma de ver a evolução dos preços é com alguma contenção na oferta e essa contenção poderá vir se houver problema climático. Agora temos que acompanhar a safra norte americana, porque em termos de Brasil ela evoluiu muito bem e a safra está vindo cheia”, finaliza o analista de mercado.

(Com dados do Cepea)

 

(Débora Damasceno/Sou Agro)