Pesquisa registra avanço da resistência da planta daninha ‘azevém’ aos herbicidas
Uma pesquisa conduzida pela Embrapa Trigo identificou aumento no número de casos de resistência do azevém aos inibidores da enzima Acetil-Coenzima A Carboxilase (ACCase), principal grupo herbicida utilizado para controlar gramíneas na dessecação pré-semeadura e pós-emergência das culturas.
O azevém (Lolium multiflorum Lam.) é a principal planta daninha que infesta as lavouras na Região Sul. Com sementes de fácil dispersão e grande capacidade de dormência, lavouras de grãos infestadas por azevém podem registrar perdas que variam de 4% a 56% na produtividade. O controle do azevém se dá com uso de herbicidas na dessecação pré-semeadura e na pós-emergência, tanto nos cultivos de inverno como nas culturas de verão.
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O primeiro caso de resistência de azevém a herbicidas foi registrado em 2003, com resistência de azevém ao glifosato, e depois disso em 2010 resistência aos inibidores da Acetolactato sintase (ALS). Desde então, o controle do azevém passou a ser efetuado quase que exclusivamente com herbicidas inibidores ACCase, com alta eficiência até 2013, quando foi identificado azevém resistente também a este mecanismo de ação herbicida. Importante ressaltar que não existem novas moléculas disponíveis no mercado para controle do azevém em pós-emergência e, até o momento, o produtor dispõe apenas destes três mecanismos de ação herbicida: glifosato, ALS e ACCase.
O acompanhamento da dispersão dos casos de resistência de plantas daninhas nos estados do RS e de SC, realizado pela Embrapa Trigo e UFPel, mostra um crescimento constante no registro de plantas de azevém resistentes aos inibidores da ACCase (veja o mapa), o que pode inviabilizar o cultivo de soja e gramíneas, como trigo, milho e pastagens, em regiões onde o azevém resistente não puder ser controlado na dessecação pré-semeadura e dentro das culturas.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Trigo, Leandro Vargas, a resistência de plantas daninhas aos herbicidas é um fenômeno natural, que ocorre em resposta ao uso repetido de herbicidas com mesmo mecanismo de ação, e pode inviabilizar o controle de espécies resistentes com o mecanismo envolvido. Diante deste cenário, segundo o pesquisador, é recomendável que os responsáveis técnicos, antes da optarem pela aplicação de herbicidas inibidores da ACCase (como clethodim, haloxyfop, clodinafop e pinoxadem) para o controle do azevém, tenham certeza de que a população a ser controlada é sensível a este mecanismo de ação herbicida, que pode ser feito considerando informações como o histórico de controle do azevém na área em anos ou aplicações anteriores.
No manejo de azevém resistente, os pesquisadores têm avaliado o uso de herbicidas pré-emergentes aliado ao cultivo consecutivo, ou seja, sem períodos de pousio das áreas de lavoura, como a melhor estratégia de controle do azevém e outras plantas daninhas. Culturas como trigo, centeio, canola, aveia e soja, que apresentam elevada capacidade de cobertura do solo, podem diminuir o número de plantas de azevém em até 65%, quando comparado a áreas de pousio. O uso de estratégias como sobre-semeadura de aveia em lavouras de soja e cultivo de culturas concomitantes, a exemplo de Brachiaria ruziziensis cultivada juntamente com o milho, também apresentaram excelentes resultados.
“O uso dessas práticas de manejo associadas à alternância e à associação de diferentes mecanismos de ação herbicida, juntamente com o monitoramento e a eliminação mecânica ou manual de plantas daninhas sobreviventes aos tratamentos herbicidas, pode ajudar no controle e reduzir casos de resistência”, orienta Leandro Vargas.
(Com EMBRAPA)