SOU AGRO MULHER
Compreender o trabalho feminino no agro é essencial para ampliar a participação das mulheres no setor
O setor agropecuário brasileiro foi responsável por 25% do PIB do País em 2022, mas quanto desse setor tão grande é movido pelas mãos das mulheres? Compreender a realidade do trabalho feminino na agropecuária é essencial para ampliar a participação das mulheres no setor e promover a igualdade de gênero. O tema é tão relevante que ocupa o quinto lugar entre os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), um pacto global assinado durante a Cúpula das Nações Unidas em 2015 pelos 193 países membros, incluindo o Brasil.
No contexto mundial, as mulheres foram inseridas significativamente no mercado de trabalho após a Segunda Guerra Mundial. No Brasil, o aumento mais expressivo da mão de obra feminina ocorreu na década de 1970. E foi somente a partir de 2006 que a participação das mulheres no setor começou a ser mensurada pelo Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
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De acordo com o último Censo Agropecuário, de 2017, de todo o pessoal ocupado no campo, as mulheres seguem como minoria. Em 2006, as mulheres representavam 30% da força de trabalho, já em 2017 esse número passou para 29%. Comparando com o total de pessoas trabalhando no Brasil, a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2017 indicava um porcentual de 42,5% de predominância feminina no pessoal ocupado no País.
Quando falamos em igualdade de gênero, um outro indicador muito importante a se considerar é a distribuição em posições de liderança. No caso do agro, dos pouco mais de 5 milhões de estabelecimentos agropecuários no País, 19% são geridos por mulheres. Em 2006, esse número era de 13%, em um universo de 5,2 milhões de propriedades rurais. Como comparação, em 2012 os Estados Unidos da América possuíam 14% de propriedades agropecuárias sob o comando de mulheres, número que passou para 29% em 2017.
Essa realidade não é apenas do setor agropecuário. O documento “Mulheres no Comércio Exterior”, recém lançado pelo Ministério da Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), aponta que, no Brasil, somente 14% das empresas exportadoras pertencem a mulheres. Na estatística da participação feminina no total de empregos de empresas exportadoras, esse número chegou a 29% em 2020, o mesmo resultado obtido no Censo Agropecuário. O estudo do MDIC cita dados do Banco Mundial e da Organização Mundial do Comércio (OMC) que indicam que o comércio internacional tem um efeito positivo na igualdade de gênero, ajudando as mulheres a ingressarem na economia formal e a conseguirem empregos com melhores benefícios.
A própria OMC possui uma agenda de trabalho específica voltada para as questões de gênero. A organização defende que o comércio internacional pode alavancar o empoderamento feminino e que políticas comerciais que contemplem essa dimensão promovem a igualdade de gênero. No caso do Brasil, o desafio é duplo: ampliar o número de participantes no comércio exterior e alcançar a equidade de gênero.
A questão é complexa e exige esforço de todos os setores da economia. O caminho passa pelo desenho de políticas públicas adequadas e pela adoção de práticas empresariais voltadas para a inclusão, não discriminação, qualificação e garantia de oportunidades para as mulheres. É preciso ter um olhar sensível para o tema. A assertividade no desenho dessas agendas requer um conhecimento sobre a realidade e o reconhecimento da necessidade de mudança. Por essa razão, a inclusão dos indicadores de gênero no Censo Agropecuário e estudos como o produzido pelo MDIC são tão importantes.
Um exemplo de iniciativa dessa natureza foi a criação, no final do ano passado, da Comissão Nacional das Mulheres do Agro pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Atualmente, pouco menos de 5% dos quase 2 mil sindicatos rurais são presididos por mulheres. O trabalho da Comissão é voltado à ampliação da representatividade das mulheres no sistema sindical. Com representantes de todas as Federações Estaduais de Agricultura, o trabalho da Comissão está dividido em três eixos de atuação: fortalecimento das lideranças, criação de grupos estaduais de mulheres e representação institucional e política do Sistema CNA/Senar.
Outra boa referência é a Women Inside Trade (WIT), um grupo fundado em 2017, que reúne mulheres da academia, setores público e privado, em diferentes estágios de carreiras, que trabalham no Brasil e no exterior, cuja missão é promover a inserção de mais mulheres no comércio internacional e o desenvolvimento profissional daquelas que já atuam em diferentes vertentes desta área, por meio do fortalecimento de redes de contato, debates qualificados, capacitações e parcerias estratégicas. Atualmente, há cerca de 470 formalmente inscritas nesse grupo.
Os avanços obtidos e ainda necessários no ODS 5 “Alcançar a igualdade de gênero e empoderar mulheres e meninas” não são apenas mérito/responsabilidade das mulheres, mas sim de todos. Assim como os problemas advindos da iniquidade e os benefícios de uma sociedade inclusiva são compartilhados por todos que nela vivem.
Sueme Mori é diretora de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Com a colaboração de Elena Castellani, assessora de Relações Internacionais da CNA
*Artigo originalmente publicado na Broadcast
(Com CNA)