Para desespero do agricultor, preço da soja não deve aumentar nos próximos meses, diz Ipea

Tatiane Bertolino
Tatiane Bertolino

O preço da soja e do milho não devem aumentar nos próximos meses. A projeção é do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), que divulgou pesquisa sobre o assunto nesta semana. O levantamento teve parceria da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) e traz um acompanyhamento da dinâmica dos preços domésticos e internacionais no primeiro trimestre. Além de uma previsão para os próximos meses. Nós já divulgamos aqui no Sou Agro que o preço da soja está em queda livre e explicamos os motivos.

O cenário atual aponta para recorde na produção de várias commodities agrícolas no Brasil, um dos principais players do mercado internacional. Os dados mostram também que há um movimento de queda no preço doméstico e internacionalde alguns dos principais produtos, como soja, milho e trigo no primeiro trimestre deste ano, sem expectativas de alta nos próximos meses.

José Ronaldo Souza Júnior, coordenador de Crescimento e Desenvolvimento Econômico no Ipea, sinaliza que o panorama é favorável para o país. “O Ipea estimou um crescimento de 11,6% do produto interno bruto (PIB) do setor agropecuário para 2023, conforme divulgado na Carta de Conjuntura em março deste ano. E o atual cenário para o setor contribuiu significativamente para a estimativa de crescimento da economia brasileira neste ano”, assinalou o especialista.

No início do ano passado, em função do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, houve um boom nos preços das commodities agrícolas. Mas depois, com o cenário de boa produtividade na lavoura, somada a medidas como as rotas de escoamento de safra no Mar Negro, o mercado voltou a se acalmar. Apesar disso, segundo a pesquisadora Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada associada do Ipea e uma das coordenadoras da publicação, Ana Cecília Kreter, “a carne bovina deve ser manter valorizada no mercado internacional, tanto pela queda na oferta de concorrentes, como Argentina e Uruguai, quanto pela expectativa de alta do consumo chinês, principal destino da carne bovina brasileira”, lembra Kreter, sinalizando que isso aconteceu após o fim do último lockdown no país asiático.

Ainda sobre a carne bovina, desde 2019, o desempenho das exportações brasileiras de carne bovina vem sendo um fator preponderante na formação de preços da cadeia nacional de pecuária de corte. O último relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (United States Department of Agriculture – USDA) projeta crescimento de 4% no volume de carne bovina exportado pelo Brasil em 2023.

No caso da soja, as estimativas indicam, mais uma vez, produção recorde no país, diante do bom desenvolvimento das lavouras e do aumento da área plantada. Segundo a Conab, a colheita deve ser 22,4% superior à safra anterior no Brasil, com produtividade registrando recordes históricos de área de plantio, produtividade e produção. Além disso, a quebra da safra argentina tem permitido a ampliação da comercialização de derivados da soja (farelo e óleo).

Ainda sobre a soja, o Indicador Cepea/Esalq Paraná registrou queda no preço do grão após a negociação antecipada de produtores apenas de pequeno percentual da safra,  que provocou a elevação nas vendas à medida que a colheita avançou no mês de março. Para Nicole Rennó, pesquisadora do Cepea e professora da Esalq/USP, “os prêmios de exportação de soja com base no porto de Paranaguá (PR) voltaram a ficar negativos, registrando os menores patamares para um primeiro trimestre, considerando-se a série histórica do Cepea,  iniciada em 2004”.

Os preços da soja no primeiro trimestre de 2023 voltaram a ser negociados nos níveis mais baixos desde 2020. O movimento de queda no preço é atenuado pela alta do volume das exportações.

O café volta a recuperar a produção no ano que seria de produção mais moderada, depois de uma safra de bienalidade positiva em 2022 com baixa produtividade no Brasil.

Mas a Conab estima alta na produção do grão frente à safra passada. De acordo com Wellington Teixeira, superintendente de Gestão da Oferta da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), “o arábica, que é o tipo de café mais produzido e comercializado pelo Brasil, sinaliza recuperação da produção e aumento da produtividade, em especial nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Paraná; com expectativa de volume 14,4% acima do produzido na safra passada de bienalidade positiva”. Com a perspectiva de alta no consumo, os preços domésticos e internacionais devem seguir com tendência de alta.

No que diz respeito ao milho, a recuperação da produção tem atendido o mercado doméstico e permitido ao Brasil ampliar os embarques para alguns parceiros comerciais, como os países asiáticos. Segundo a Conab, a previsão é de aumento de 10,4% na produção da safra 2022-2023 do milho. E no cenário mundial, o Brasil passa a liderar a comercialização do grão, após a redução de 25,2% do volume comercializado pelos Estados Unidos, que historicamente é o maior produtor e exportador mundial de milho.

Outro importante produto do setor, o trigo, que antes liderava a pauta de importação, agora levou o Brasil a ocupar a posição de 11º maior exportador mundial do cereal, graças a maior colheita doméstica. No entanto, no cenário internacional, as reduções dos estoques mundiais, pelo terceiro ano consecutivo, devem manter os preços nos mesmos patamares.

Com IPEA

(Tatiane Bertolino/Sou Agro)

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